Meridian Brothers: delírio colombiano no Brasil
Há um inevitável estranhamento na audição da música do Meridian Brothers. É da Colômbia e sua alquimia se constrói a partir de ritmos latinos – cumbia, cha cha cha, boogaloo, salsa etc. Mas nem sempre é som de pista, não é o balanço que se impõe nos arranjos, a cintura até quer remexer mas não sabe muito bem qual é o melhor movimento. A psicodelia é linha de frente e uma certa sensação de derretimento escorre como lava de vulcão. Esse tipo de confusão é fruto de uma originalidade rara, causa um desconforto que – guardadas as devidas proporções – se assemelha ao impacto do surgimento do Kraftwerk no cenário da música pop ou dos experimentos com elementos de futurismo provocados por Sun Ra no jazz. Imagine robôs tocando maracas no Deserto de Tatacoa. É meio por aí, um tipo de arte sem precedentes.
É por isso tudo que deve se levar a sério a chance de assistir ao show que acontece em São Paulo hoje (10), no Lab Mundo Pensante, com participação da compositora e cantora Ava Rocha. A primeira turnê no Brasil inclui apresentações no Rio de Janeiro (rolou ontem, no Audio Rebel), em Goiânia (festival Bananada, na sexta, 11) e Brasília (Cervejaria Criolina, no sábado, 12).
Já com sete álbuns gravados (os quatro últimos lançados pela gravadora britânica Soundway Records) e em ação desde o final dos anos 90, o Meridian Brothers é concebido por Eblis Álvarez, que compõe todas as músicas e grava todos os instrumentos. No palco, ele toca guitarra e canta acompanhado de outros quatro músicos: María Valencia (sax, clarinete e percussão), Mauricio Ramirez (bateria), Alejandro Forero (teclados) e Cesar Quevedo (baixo). O multi-instrumentista é integrante também das bandas Ondatropica, Frente Cumbiero e Los Pirañas, outros projetos de vanguarda da música colombiana atual.
A influência eletrônica combinada aos instrumentos é uma das chaves para o enigma proposto pelo MeridianBrothers: a distorção que envenena muitos dos vocais e os ruídos tirados de sintetizadores e outros apetrechos soam como uma força contrária à das percussões, uma lisergia que dificulta qualquer tentativa de construção de uma batida dançante.
A faixa "Salsa Caliente", do álbum "Desesperanza" (de 2002), é uma rara exceção, um esboço de suingue pontuado por um vocal desengonçado e um som de teclado similar ao das churrascarias brasileiras. No disco "Salvadora Robot", de 2014, Álvarez acrescenta uma dose a mais de ousadia em relação aos trabalhos anteriores e cada faixa é baseada em um ritmo latino diferente: do merengue dominicano (em "Somos Los Residents", que abre o disco) ao reggeaton (em "Baile Ultimo"). Já o mais recente "¿Dónde Estás María?" (de 2017), é o primeiro em que o artista declara influência da Tropicália – algo não tão simples de identificar quando se ouve o disco.
Essa bem-vinda bizarrice instiga e cativa nos discos lançados até aqui. É hora de conferir como funciona no palco. Delírio à vista!
Vai lá:
Meridian Brothers
Quando: 10 de maio à meia-noite
Onde: Lab Mundo Pensante – Rua Treze de Maio, 825
Quanto: R$ 20,00 (lote promocional) e R$ 25,00 (antecipado e porta)
Sobre o autor
*Ramiro Zwetsch é jornalista, DJ residente da festa entrópica, criador do site Radiola Urbana e sócio da Patuá Discos. Já foi editor-chefe dos programas "Manos e Minas" e "Metrópolis", da TV Cultura, e colaborou para Caderno 2, Rolling Stone, Bravo!, Bizz, Ilustrada, Select, Carta Capital, entre outros.
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