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6 patrimônios tombados e públicos para conhecer em SP

Bar Drosophyla - Divulgação
Bar Drosophyla Imagem: Divulgação

Cíntia Marcucci

Colaboração para o Urban Taste, em São Paulo

29/07/2019 17h11

Diz-se de São Paulo que ela é uma cidade que não preserva sua história. Não é mentira: a metrópole está em um constante e incessante movimento de martelos, guindastes, tijolos e cimento, demolindo e construindo, muitas vezes passando como um trator - sem trocadilhos - por locais com valor histórico. Talvez refazendo a todo momento uma nova trajetória efêmera. É a tal da "força da grana que ergue e destrói coisas belas", que Caetano Veloso canta em um dos versos de "Sampa".

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Há muita discussão sobre o que é melhor para a cidade, e hoje existe um movimento para preservar e utilizar o patrimônio histórico. Há até um evento específico no calendário da prefeitura, a Jornada do Patrimônio, organizada pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria Municipal de Cultura. Em sua quinta edição, que ocorre em 17 e 18 de agosto, o evento terá mais de mil atividades e é uma oportunidade única para quem quer explorar melhor os lugares e histórias que formam a metrópole.

Conhecer é sempre o primeiro passo para valorizar e preservar as coisas. E também para derrubar conceitos - também sem trocadilhos - como os de que imóveis tombados ou são museus ou são locais que acabam arruinados pelos anos e pela falta de cuidados. Uma prova disso é que há diversos lugares que funcionam comercialmente e oferecem atividades e possibilidades para a população em imóveis tombados.

"Quando é possível destinar o imóvel para usos comerciais, é muito mais fácil que ele seja bem cuidado e faz mais sentido para a população, que pode, além de conservá-los para as gerações futuras, usufruir de sua história no presente", diz a arquiteta Eveny Tamaki, consultora em viabilidade de projetos que envolvem bens tombados.

Causando um tombamento

Para preservar determinados espaços, órgãos podem conceder o tombamento, como os da prefeitura (DPH e Conpresp - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), do estado (Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) ou da federação (Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O objetivo é proteger "bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados", como está explicado no site da Prefeitura de São Paulo. No site GeoSampa é possível ver um mapa interativo com todos os imóveis tombados na capital paulista, selecionando os filtros Legislação Urbana e Bens Protegidos.

Mapa de Bens tombados na Cidade de São Paulo - Reprodução/GeoSampa - Reprodução/GeoSampa
Mapa de Bens tombados na Cidade de São Paulo
Imagem: Reprodução/GeoSampa

Qualquer cidadão, mesmo não sendo o proprietário do bem, pode solicitar a um desses órgãos seu tombamento, indicando endereço, justificativa e também seus dados para contato. A entidade analisa o requerimento e deve retornar com um parecer para o solicitante.

Não tem uma regra clara para as diferenças de atuação e responsabilidade de cada órgão, inclusive um mesmo bem pode ser tombado simultaneamente por mais de uma entidade. Por isso é difícil ter uma noção exata de quantos imóveis protegidos existem na cidade: não há ainda um arquivo unificado e público.

O arquiteto e estudioso do patrimônio histórico Ricardo Sylos estima que seja um número entre três a quatro mil imóveis, já excluídas as sobreposições. Ele é um dos idealizadores do Tuíster da Cidade, um jogo que testa os conhecimentos dos participantes sobre os bens culturais de São Paulo, que está entre as atrações da Jornada do Patrimônio 2019.

Regras para causar um efeito

Uma das grandes questões de bens tombados é que eles precisam seguir diversas regras e restrições que podem tornar os caminhos para seu uso mais complicados. Além disso, demandam bastante empenho dos proprietários ou locatários, sem que estes recebam alguma contrapartida do poder público, como isenção de taxas ou outros benefícios.

Por um lado isso é uma maneira de proteção: áreas verdes são impedidas de serem derrubadas, e até bairros inteiros - como é o caso do Pacaembu e dos Jardins - não perdem suas características por conta da especulação imobiliária ou de uma reforma mal feita.

Por outro, acaba deixando o imóvel muito mais engessado: há casos em que não é possível, por conta das restrições, fazer adaptações de acessibilidade ou que atendam às normas de segurança atuais. Um dos casos emblemáticos é o do pequeno terraço do Edifício Altino Arantes, rebatizado de Farol Santander, onde fica hasteada a bandeira. Atualmente ele não pode mais ser visitado por "questões de acessibilidade e segurança", como o banco divulgou na época da inauguração do novo conceito do prédio, em janeiro de 2018. Por isso, só temos acesso ao mirante do café, no 26º andar.

Carregadas de argumentos (e investimentos)

Casas e prédios, por exemplo, dependendo do tipo de tombamento, precisam proteger só a fachada. Em outros casos, ela e todo o interior do imóvel, com materiais, divisões e características, precisa ser preservado.

Um bom jeito de notar o quanto é trabalhoso mexer em imóveis assim é acompanhar as obras do antigo Hospital Matarazzo, na Alameda Rio Claro, que está sendo restaurado desde 2015. Ele está sendo transformado em um complexo turístico e comercial, e é preciso praticamente suspender no ar estruturas inteiras como a da Capela Santa Luzia. São projetos lentos e, muitas vezes, bastante caros.

Que o diga Lilian Varella, empresária e dona do Drosophyla, bar que fica na região da Praça Roosevelt, em um casarão dos anos 1920. "Ele é tombado externa, internamente e intramuros, o que significa que qualquer coisa que eu queira fazer aqui, preciso de autorização e avaliação dos órgãos do patrimônio histórico", explica.

Quando teve de mudar o bar de endereço, Lilian conta que a casa a escolheu. "Estava fechada havia mais de 25 anos, super deteriorada, mas eu me apaixonei assim que entrei na sala. E perdi o juízo, essa é a verdade." Ela então iniciou as reformas, que levaram mais de um ano e consumiram recursos para pagar o aluguel e para os restauros, comandados por Alexandre Mascarenhas, que já trabalhou em projetos na Estação da Luz.

O bar foi todo encaixado sem que fosse feito um furo ou mudança na casa. Todas as pinturas, que quem olha sem muita atenção pensa que são papel de parede, foram refeitas. Ela importou um verniz antichamas da Inglaterra para o teto de madeira e recebeu consultoria especializada dos bombeiros. Até o que está pendurado aproveita pregos e furos que já estavam lá, sem que se façam novas intervenções.

"Digo que foi uma loucura, pois a manutenção é custosa. Quase fui à falência e ainda não me recuperei financeiramente, mas o bar tem personalidade. O imóvel está recuperado e sendo usado pelas pessoas, e hoje eu sinto que meu trabalho foi reconhecido por quem gosta e cuida do patrimônio. Isso me gratifica", diz Lilian, que demonstra paixão ao contar cada detalhe da história e também já abriu suas portas para visitas da Jornada do Patrimônio.

Confira a lista que o Urban Taste montou com imóveis tombados para você conhecer e aproveitar um pouco mais do passado agora mesmo.

Drosophyla

"O restauro desta casa é um presente para a cidade de São Paulo", diz o site do bar, que se mudou para o endereço atual em 2015. No espaço, que abriga shows e tem até uma loja com itens que vão de roupas e acessórios a cosméticos, morou a Madame Lili Wong, personagem criada por Lilian para dar ainda mais vida às pulsantes noites do centro. Para acompanhar o passeio, peça um drinque autoral como o Brazilberg Ginfizz (a partir de R$ 32, dependendo do gin), que leva gin, Brazilberg, suco de limão e água tônica -- aliás, pergunte sobre a história do digestivo que dá nome à receita.

Vai lá:
Rua Nestor Pestana, 163, Consolação, São Paulo.
Terça a quinta, das 19h até à 1h.
Sexta e sábado, das 20h às 3h.
Telefone: (11) 3120-5535

Vila Itororó Canteiro Aberto

Uma iniciativa diferente faz com que a Vila Itororó, um conjunto de edificações que fica entre a Liberdade e a Bela Vista, seja utilizada pela população ao mesmo tempo em que é restaurada. Desde 2013, em parceria com o Instituto Pedra, o espaço tem recebido visitas guiadas às obras do pátio (de quinta a domingo, às 16h, grátis) e uma infinidade de atividades no galpão, que é um experimento de centro cultural. Aulas de dança, artes, cozinha, espaço para leitura, clínica psicológica e até um piano, disponível para quem quiser tocar, funcionam no local. As quatro edificações (casas 11, 05, 06 e 07), que compõem a primeira etapa do projeto cultural de restauração, estão em fase de finalização das obras, com previsão de entrega à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SMC) em agosto.

Vai lá:
Rua Pedroso, 238, Bela Vista, São Paulo.
Terça, quarta, sexta e sábado, das 9h às 17h.
Quinta, das 9h às 20h.
Domingo, das 11h às 17h.

Casa Violetta

Em uma rua tranquila e de paralelepípedos, na Vila Mariana, fica o Museu Lasar Segall. E, em frente, um conjunto de casas tombadas que fazem parte das diversas obras modernistas da região. Conhecida como Vila Modernista da Rua Berta, as edificações projetadas por Gregori Warchavchik têm fachadas e exterior tombados e cada uma tem as janelas pintadas de uma cor. Daí o nome da Casa Violetta, um espaço compartilhado para aulas, cursos, atendimentos de desenvolvimento pessoal e co-working, coordenado por Carol Bassit, que há dez anos é locatária do imóvel. "Recentemente fiquei sabendo que o espaço dos fundos, que hoje é uma das nossas salas, era originalmente um galinheiro", conta a empresária. A casa também participa da Jornada do Patrimônio, em um passeio organizado pelo Sesc Vila Mariana.

Vai lá:
Rua Berta, 82, Vila Mariana, São Paulo.
Consulte os horários de funcionamento.
Telefone: (11) 97582 -1078


A Casa Tombada

Aberta em 2015, a casa tem salas de aula, ateliês, biblioteca, espaço para convívio, exposições e conversas em diferentes formatos, com cursos de formação ligados à literatura, arte e cultura e de pós-graduação vinculados à Faculdade de Conchas (Facon). Fica em um imóvel de tijolinhos com um convidativo jardim de entrada, ao lado do Parque da Água Branca.

Vai lá:
Rua Ministro Godói, 109, Água Branca, São Paulo.
Todos os dias, das 8h30 às 22h30.
Telefone: (11) 3675-6661

Miguel Giannini Óculos

O Bixiga (que você também pode chamar de Bela Vista) concentra cerca de um quarto dos bens tombados do município, entre eles o casarão que abriga a loja do esteta ótico Miguel Giannini, que reformou e preserva todo o imóvel desde a metade da década de 1990. No espaço também funciona o Museu dos Óculos, com peças e equipamentos garimpados e colecionados pelo profissional em diversos cantos do mundo, ao longo de décadas de profissão. A visita ao museu é gratuita e dá para aproveitar e sair de óculos novos do passeio.

Vai lá:
Rua dos Ingleses, 108, Bela Vista, São Paulo.
Segunda a sexta, das 9h às 18h.
Sábados, das 9h às 13h.
Telefone: (11) 3249-4000

Zel Café

O casarão dos anos 1930, tombado pelo Condephaat externamente e também em algumas de suas estruturas internas (piso, escadas, portas e janelas), pertence à Fundação Instituto de Física Teórica desde os anos 1950. No terreno, hoje, há um complexo com um prédio comercial de perfil bem contemporâneo, um teatro e planetário e o café, que ficou na área preservada. "O investidor Laurinho Megale queria um lugar aconchegante para servir seu próprio café em São Paulo. Ao conhecer o casarão, durante uma visita de negócios, ficou interessado pela beleza e história do imóvel", conta Gerson Francisco, diretor e responsável pelo Instituto Principia, mantenedor da fundação. O mais difícil da adaptação foi a parte da cozinha e o sistema de exaustão, então as reformas e restauros duraram dois anos e meio. Além dos cafés (R$ 6 o espresso) feitos com os grãos da propriedade de Laurinho em Borda da Mata (MG), o espaço serve almoço e tem também uma livraria no subsolo, um dos combinados feitos entre a fundação e Laurinho para que o negócio virasse. Vale também ir até o vão no hall de entrada do edifício comercial, aos fundos, para apreciar a "bela vista" do Bixiga.

Vai lá:
Rua Pamplona, 145, Bela Vista, São Paulo.
Segunda, das 7h30 às 19h.
Terça a sábado, das 7h30 às 22h30.
Domingo, das 8h às 17h.
Telefone: (11) 3283-3500

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