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Estrada para Cunha, em São Paulo, tem campos de lavanda e cachoeiras imperdíveis

Eduardo Vessoni

Do UOL, em Cunha (SP)*

27/07/2016 00h24

Só pela estrada cenográfica de curvas ousadas, em pleno Parque Nacional da Serra da Bocaina, já valeria um bate e volta até essa cidade a 230 km da capital paulista.

Mas o turismo local subiu a serra e foi além. Por ali, dá para esperar o pôr do sol sobre violetas campos de lavanda; comer em bistrôs na beira da estrada com cozinha criativa e preços justos; visitar um dos mais importantes polos ceramistas da América Latina; e fazer trilhas com cachoeiras e vistas panorâmicas dos vizinhos Angra dos Reis e Paraty.

Localizada sobre o antigo traçado da Estrada Real, entre São Paulo e o litoral sul do Rio de Janeiro, a Estrada Parque Cunha-Paraty ganhou, no último mês de julho, nova pavimentação com paralelepípedos e é a mais nova atração desse destino do Alto Vale do Paraíba.

Com 9,4km de extensão, a Estrada Parque cruza o Velho Caminho do Ouro e é uma extensão da (também cenográfica) BR-171, via que liga Guaratinguetá (SP) e Paraty (RJ). Paulistas ganham mais uma opção para descer até o nível do mar e a cidade fluminense tem agora saída pela serra. Eis o turismo serrano com pé na areia do mar.

Embora não conte com nenhuma atração turística, além do cenário natural bem preservado de Mata Atlântica do Parque Nacional da Serra da Bocaina, a estrada é uma das atrações obrigatórias para quem visita a paulista Cunha. Conheça, abaixo, experiências únicas de Cunha que podem ser visitadas a partir da BR-171. 

Detalhe das lavandas do Contemplário de Cunha - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Lavandas, lavandas e mais lavandas
Km 54,7 e km 61,5

Com solo mais alcalino, temperaturas amenas e noites mais frias, Cunha é o endereço nacional perfeito para aromáticos campos de lavanda, uma das atrações turísticas mais concorridas do destino.

Inspirado na Provença, no sudeste da França, o Lavandário (km 54,7) fica em terreno elevado com vista para a sequência de montanhas e as curvas da bela SP-171, com acesso rápido pela estrada (uma das poucas atrações de Cunha com essa facilidade).

Chegue antes das 17h e vá acompanhando, sem pressa, a luz do sol pintar aqueles infinitos campos de lavanda do tipo dentada, típica da França. Ali, entre lavandas e montanhas cênicas, foram gravadas as cenas em que Apolo se declara para Tancinha, personagens de Mariana Ximenes e Malvino Salvador, na novela “Haja Coração”, da Globo.

Já o Contemplário (km 61,5), inaugurado em 2015, é a versão menos lotada para ver lavandas, equipada com deck e mesas de madeira em meio às plantações. Não poderia haver lugar mais convidativo para a contemplação e o descanso, em terreno com acesso por estrada de terra, no Bairro Taboão.

Destaque para o terraço do café com vista das plantações, onde é servido chá de lavanda e bolo de pinhão com cobertura de leite condensado com... lavanda, é claro.

Ambas atrações, que também fazem destilação de óleos essenciais usados nos produtos vendidos em suas lojinhas, podem ser visitadas durante todo o ano, mas evite o período de chuvas, quando as plantações ficam menos bonitas por conta do excesso de água.

Mais informações
Lavandário
www.lavandario.com.br

Contemplário
www.contemplario.com.br

Da Pedra da Macela é possivel avistar Angra dos Reis, baía de Ilha Grande e Paraty - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Pedra da Macela
Km 66

Sem dúvida essa é a vista mais impactante de todo o destino. Com acesso por uma trilha íngreme de 2 km, com acesso proibido para carros particulares, a Pedra da Macela é um pico de 1.840m de altitude, de onde se tem vista de Angra dos Reis, da baía de Ilha Grande e Paraty.

O local não conta com nenhuma estrutura turística, como restaurante ou banheiros. E ninguém parece se importar com isso, quando se tem o Rio de Janeiro e a serra paulista sob os pés.

O nome do atrativo é uma referência a essa planta conhecida também como camomila-nacional, abundante na região.

Mais informações
Pedra da Macela
Entrada gratuita. Do km 66 da SP-171, o visitante segue por 5 km em estrada de terra, onde se encontra a portaria de acesso. 

Vista de uma das quedas d'água da Trilha das Cachoeiras, no Parque Estadual da Serra do Mar, em Cunha - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Trilhas na Mata Atlântica
Km 56,2

O Núcleo Cunha desse parque de 332 mil hectares abriga trilhas com entrada gratuita, nessa que é considerada a maior área de proteção de Mata Atlântica.

Em seus 13,3 mil hectares, no extremo norte do parque, é possível fazer caminhadas em meio a florestas de altitude, a mais de mil metros sobre o nível do mar, como a autoguiada Rio Paraibuna (1,7km de extensão e baixo nível de dificuldade, com acesso a poços para banhos) e a exigente Trilha das Cachoeira, com 14,4km e visita a seis quedas d’água de diferentes dimensões.

Reserva prévia e acompanhamento de guia são obrigatórios nessa última trilha, que também pode se combinada com trechos feitos em veículos dos visitantes.

Prepare-se para uma aventura de 20 km por estrada de terra até a sede do parque, cuja paisagem rural já vale a viagem.

Mais informações
Parque Estadual da Serra do Mar
Entrada gratuita e visitação das 8h às 17h
www.parqueestadualserradomar.sp.gov.br

Entre objetos antigos à venda, a Fazenda Aracatu, no km 56 da SP-171, é conhecida pelos produtos feitos com leite de gado Jersey. Há, por exemplo, sorvetes de sabores inusitados, como os de rapadura com gengibre, pão de mel, uvaia, iogurte com damasco e juçara - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Turismo rural
Km 56 e km 57

Parecem cenários de filme de época, mas são uma cenográfica mistura de fazenda, empório e café. Entre objetos antigos à venda, a Fazenda Aracatu (km 56) é conhecida pelos produtos feitos com leite de gado Jersey, famoso por seu alto valor nutritivo, como queijos e os sorvetes de sabores inusitados como os de rapadura com gengibre, pão de mel, uvaia, iogurte com damasco e juçara, a palmeira típica da Mata Atlântica.

Já o Moara Empório Café (km 57) é uma viagem pelas artes e sabores do interior de São Paulo, cujo bolo de pinhão com cobertura de limão é capaz de fazer a gente pegar a estrada de volta só para pegar mais um.

A casa é uma espécie de resumo de Cunha, onde é possível encontrar peças artesanais da região e produtos feitos com ingredientes como pinhão e mel. Tudo isso em uma cafeteria com mesinhas voltadas para a estrada.

Mais informações
Fazenda Aracatu
Tel.: (12) 99604- 4796 e 99776-9186

Moara Empório Café
Tel.: (12) 99672-1683 

Vista dos fornos noborigama do ateliê Suenaga e Jardineiro, um dos clássicos endereços de cerâmica de Cunha, considerado um dos mais importantes polos ceramistas da América Latina - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Cerâmica com happy hour

Terra da cerâmica desde os anos 70, Cunha ganhou fama com seus trabalhos de autor, produzidos em 20 ateliês espalhados pela cidade. E tem de todo tipo. Queimados em alta ou baixa temperaturas; com influências ibéricas e orientais; rústicos ou esmaltados.
 
A rua Alcides Barbeta, na Vila Rica, abriga a maior concentração de ateliês de Cunha, como o Gaia, conhecido pelos trabalhos com a técnica Raku, em que as peças saem do forno ainda em brasa.
 
Outro clássico cerâmico é o ateliê Suenaga e Jardineiro, cujos raros fornos noborigama dão forma a peças de influências orientais e esmaltes preparados com cinza de casca de arroz ou de eucalipto.
 
Ambos ateliês organizam happy hours gratuitos com abertura pública da fornada, em datas específicas.

Mais informações

Gaia
Rua Alcides Barbeta, 250
Tel.: (12) 3111-3126

Suenaga e Jardineiro
Rua Dr. Paulo Jarbas da Silva, 150
Tel.: (12) 3111-1530
www.ateliesj.com.br

Chef Caio e seu prato com cordeiro, uma das opções do restaurante Do Gnomo, em Cunha, no interior de São Paulo - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Gastronomia criativa

A cozinha de Cunha é uma homenagem à culinária de fazenda com toque contemporâneo que deu nova cara a típicos ingredientes locais como shitake, pinhão e truta.

Localizado em uma estradinha de terra, na via de acesso à Pedra da Macela, o La Taverne Bistrô serve apenas almoço em uma casinha de tijolos aparentes e madeira, cujos proprietários têm pescados e cogumelos como principais ingredientes do cardápio, que muda de acordo com a estação do ano, como a polenta italiana com ragu no vinho (outono) e o salmão na manteiga de limão siciliano (verão).

Aberto em maio de 2016, oVeríssimatem cardápio semanal enxuto com sabores que fazem a gente querer repetir tudo outra vez, como a truta com crosta de pinhão e risoto de açafrão, e a torta de (generoso) chocolate que tem gosto de guloseima de vó.

Outra casa que merece visita é o isolado Do Gnomo Restaurante, cujo proprietário Caio recebe comensais vestido a caráter e cozinha a concorrida opção com trutas preparadas de diferentes modos: com crosta de pinhão e cereais (quinoa, gergelim e linhaça); na manteiga de cheiro verde; com shitake flambado na vodca; enroladas e com recheio de búfala. Tudo acompanhado de purê de banana e arroz negro ao vinho branco.

Para quem busca uma opção mais central, o Café e Artefica no calçadão do centro histórico de Cunha e surpreende pelo salão vintage com peças artesanais à venda, onde é possível pedir salgados e pratos rápidos como caldos (mandioca com cream chesse e de pinhão com palmito).

Mais informações
La Taverne Bistrô
km 66 da estrada Cunha - Paraty
Tel.: (12) 3111-6039 e (12) 99763-8554

Veríssima
Rua Manoel Prudente de Toledo, 584
Tel.: (12) 99634-7919 e 3111-2356

Do Gnomo
Estrada Municipal do Ribeirão, 2.300
Tel.: (12) 99734-8869 e 99759-0532

Na Pousada Cheiro da Terra, os hóspedes podem fazer suas próprias cerâmicas no ateliê do estabelecimento - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Oficina de cerâmica ou quarto na floresta de araucárias
Km 46 e km 58,5

Na pousada Cheiro de Terra, com chalés coloridos equipados com varanda e lareira, os hóspedes podem produzir sua própria cerâmica, durante a oficina de duas horas que acontece no ateliê do próprio estabelecimento.

Se tiver sorte (e na época certa), é possível acompanhar também o emocionante ritual de abertura do forno de queima das peças, onde se localiza o Mirante de Fogo: local elevado exclusivo para observação da língua de fogo produzida pela queima das cerâmicas, rodeado por paredes feitas de bambus, uma homenagem aos primeiros orientais que levaram a cerâmica para Cunha, nos anos 70.

Com uma pé na serra e outro no mar,a Pousada Candeias fica a 13km de Cunha e a 35km de Paraty, rodeada por florestas de araucária e pinheiros, equipada com piscina aquecida, sauna e SPA, em uma casinha de madeira e tijolos, escondida no bosque.

“O mar é o nosso quintal”, descreve o proprietário Antonio, um economista aposentado de São Paulo que não se cansa de dar dicas das melhores opções de Cunha para os hóspedes.

O local abriga dez chalés de montanha, alguns deles equipados com deck de madeira, com vista para um vale. Destaque para o café da manhã com ingredientes orgânicos que a proprietária Kika serve como quem recebe velhos amigos.

Mais informações
Pousada Cheiro da Terra
www.pousadacheirodaterra.com.br

Pousada Candeias
www.pousadacandeias.com.br

COMO CHEGAR
Rodovia Presidente Dutra (BR-116) até o km 65, sentido Guaratinguetá. Dali, siga pela SP-171, via que liga essa cidade do interior paulista e Paraty, no Rio de Janeiro.

O trecho Cunha-Paraty vai do km 46 da SP-171, onde fica a entrada para Cunha, e segue até o km 70, no início da Estrada Parque e no limite de municípios. Essa é a nova alternativa para a Costa Verde, no litoral sul fluminense, que antes tinha acesso pela congestionada e sinuosa estrada da Serra de Ubatuba.

DICAS PARA UMA VIAGEM SEGURA
Após algumas décadas de isolamento e discussões ambientais, a cenográfica Estrada Parque volta a receber (muito bem, diga-se de passagem) motoristas e turistas.

·      Com 9,4 km sobre paralelepípedos, a via conta com alguns mirantes para visitantes e passagens aéreas e subterrâneas para animais dessa área protegida de Mata Atlântica, uma das exigências ambientais para a liberação ao tráfego. Nunca pare na via para manobras ou observação da paisagem.

·      Com curvas fechadas e sem acostamento, a Estrada Parque exige atenção do motorista. Não é raro ser surpreendido por forte neblina que limita a visão.

·      Toda a sua extensão é, praticamente, sem trechos seguros de ultrapassagem e com faixa contínua.

·      Sem opções de locais para paradas técnicas, como postos para abastecimento e alimentação, a Estrada Parque e alguns trechos mais afastados da SP-171 exigem planejamento.

·      Com poucas exceções, as atrações de Cunha costumam ter acesso por estradas vicinais de terra que também exigem atenção, devido a seu estado rústico de circulação. Na medida do possível, use automóveis com carroceria elevada ou tração nas rodas.

·      Dirija em velocidade baixa e durante o dia. O tráfego por ali é permitido apenas até às 17 horas.

·      Não esqueça que, recentemente, entrou em vigor a nova lei que obriga a circulação de carros com faróis baixos durante o dia nas estradas brasileiras.

·      As dicas valem também para a SP-171, desde Guaratinguetá até a divisa com o Rio de Janeiro, embora essa conte com acostamento.

Mais informações
Site oficial do turismo de Cunha
www.cunha.sp.gov.br

* O jornalista viajou com apoio da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Cunha, Ford Brasil e GoPro