Casais contam como funcionam as viagens liberais e o que rola por lá
Para quem nunca fez, uma viagem liberal soa como uma orgia ininterrupta, do café da manhã até o jantar. Na prática, não funciona bem assim. O sexo certamente está no centro das atenções, porém, o que prevalece é o clima de sensualidade.
Tanto nos resorts quanto nos cruzeiros liberais, as atividades e os ambientes são criados para estimular os casais e aproximá-los, mas sem a mesma pressa que existe em uma casa de swing. “Envolve não só a prática do sexo trocado, mas também a oportunidade de conhecer bem outro casal”, diz Marina*, 36, psicóloga, que todo ano faz pelo menos um passeio liberal com o marido Marcio*, 41, empresário.
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Para quem acha que, ao entrar no hotel ou no navio, será como estar dentro de um filme pornô, Marina desmistifica a fantasia. “Não se vê casais transando em qualquer lugar, de qualquer jeito. A maioria das mulheres prefere esperar a noite cair para transar, porque o escuro esconde as imperfeições”, explica a psicóloga, adepta do swing há mais de uma década e autora do blog “Marina & Marcio”, onde relata suas aventuras e dá dicas para os iniciantes.
O dia típico em um hotel ou cruzeiro liberal começa com os casais conversando no café da manhã, para se conhecer e buscar afinidades. Ao longo do dia, alguns fazem passeios turísticos e visitam praias naturistas, outros aproveitam para ficar na piscina e todos esperam com ansiedade o cair da noite, para participar das festas temáticas.
“As mulheres usam fantasias ou roupas muito sensuais. Depois da balada, todos se encontram em uma hidro quentinha para acabar a noite com muito sexo ao ar livre olhando a lua”, conta Cris*, 52, de Camboriú (SC), sobre sua experiência com o marido Caco*, 53, em Cancún.
Check in com nome falso e fotos para despistar
Geralmente, a nudez é permitida nas áreas comuns, mas não obrigatória. O sexo grupal, seja nos hotéis ou nos cruzeiros, fica mais reservado aos quartos e aos “playrooms” - salas ou espaços montados especificamente para a interação dos casais.
Apesar da fama de sensualidade, os brasileiros são tímidos na hora de tirar a roupa. “Eles ainda são minoria nos cruzeiros liberais, tendem a ser mais conservadores e não gostam muito de ficar nus”, diz Paulo Macedo, proprietário da agência Casal First Tour, que trabalha há 11 anos nesse segmento.
Para Macedo, o ponto alto das viagens está no convívio e na intimidade compartilhada entre os casais, que têm tempo para construir boas amizades e dividir histórias que somente esse ambiente permite. “A ideia é sensualizar e formar laços, diferente do clube de swing, em que só há tesão e impulso”, explica.
Os casais que procuram esse estilo de roteiro, geralmente, estão acima dos 30 anos de idade, têm vários anos de união, possuem uma boa condição financeira e filhos já criados, como Cris e Caco, juntos há 34 anos, e Marina e Marcio, com mais de 15 anos de casamento.
“São pessoas que desejam viver aventuras no anonimato, longe de casa”, resume Paulo Macedo. Para proteger a identidade dos clientes, os estabelecimentos aceitam check-in com nome falso. Além disso, é comum os casais tirarem algumas fotos tradicionais no destino para enviarem à família e aos amigos, a fim de não levantar suspeitas.
Paraísos liberais
Existem diferentes opções de viagens liberais, em terra ou alto-mar. No Brasil, atualmente, há apenas duas pousadas exclusivas para essa finalidade: uma em Arraial D'Ajuda (BA) e outra na praia de Tambaba (PB). Algumas agências de turismo, no entanto, costumam fechar hotéis convencionais para eventos liberais, com pacotes de três a quatro dias a partir de R$ 2.500 por casal.
Como o Brasil ainda está engatinhando nesse segmento, muitos adeptos preferem as viagens internacionais. Os paraísos liberais mais populares são resorts na região de Cancún e os hotéis da vila naturista Cape D'Agde, no sudoeste da França. Nos hotéis liberais de Cancún, as diárias giram em torno de US$ 500 a US$ 800 por casal (aproximadamente de R$ 1.700 a R$ 2.700, em valores convertidos em 24/11/2016), conforme a baixa ou alta temporada, com todas as bebidas e refeições incluídas.
Várias companhias também oferecem cruzeiros liberais, com diferentes preços e destinos, e onde a programação de shows e festas é mais intensa. Os mais baratos saem da Flórida, nos Estados Unidos, em navios que comportam até duas mil pessoas, a partir de US$ 1.500 por casal (cerca de R$ 5.100). Para quem prefere roteiros mais exclusivos, há opções para cerca de 300 casais que passa por Itália e Croácia, entre outros países. Nestes, o investimento fica acima dos 6 mil dólares ou euros por casal, conforme o tipo de acomodação.
Nas viagens internacionais, a falta de um idioma em comum pode complicar a comunicação. As agências costumam fazer esse meio de campo para ajudar os casais a se integrarem melhor com os outros viajantes. Apesar de se sentir mais à vontade nas viagens nacionais, por causa da cultura similar, a psicóloga Miriam*, 56, de Salvador (BA), não passou aperto com o marido Luciano*, 69, empresário, no cruzeiro que fez para a Croácia. “As palavras ‘yes’ ou ‘no’ funcionam muito bem na hora do sexo e a troca de olhares é universal”, diz.
Segundo Rodrigo*, do casal Sol e Nieve, conhecido no meio liberal e que mantém uma agência de viagens liberais com o mesmo nome, cada cultura tem uma forma diferente de se aproximar e flertar. Apesar de não serem muito adeptos da nudez, os brasileiros se destacam nesse ambiente. “Porque são quentes, exóticos, todos querem ser amigos dos brasileiros”, revela.
Na chuva sem se molhar
O provérbio “quem está na chuva é para se molhar” nem sempre se aplica a quem embarca em uma viagem liberal. “Os casais não necessariamente querem fazer troca, alguns gostam apenas de estar em um ambiente sensual e sedutor”, afirma Rodrigo.
A entrega aos novos prazeres costuma ser gradual. “Na primeira viagem você chega de mansinho. A maioria é assim, fica só observando. Você quer desfrutar de uma liberdade que ainda não tem”, conta Miriam, que se julgava conservadora e tinha muitas dúvidas se iria apreciar a experiência. “Será que vou ser obrigada a fazer alguma coisa? E se eu não gostar, o que eu faço?” eram os questionamentos que passavam pela cabeça dela.
A primeira transa foi acontecer somente lá pela quarta viagem. Depois de oito anos viajando, Miriam aguarda ansiosamente pela próxima aventura. “Gostei tanto que continuei, agora já começamos a nos excitar antes de viajar, procuro roupas novas, não quero repetir lingeries”, diz ela, que curte mais as brincadeiras e jogos de sedução do que qualquer outra coisa.
Cris também sentiu nervosismo e insegurança no primeiro passeio liberal. O sexo ficou restrito ao casal e a abertura para outros parceiros foi evoluindo com o tempo. “É tudo muito excitante e fascinante. Na primeira troca, houve muito ciúmes por parte do meu marido, mas nada que não se resolva com uma boa conversa”.
Para quem não tem experiência, o início funciona como um período de estudo, de aprender as reações um do outro e de determinar os limites que deverão ser respeitados. “Não gosto que ele beije na boca”, confessa Miriam.
Se o casal ainda não tem suas regras bem definidas, vale a pena conversar bastante antes da viagem para não estragar a diversão com DR (discussão de relacionamento). “É interessante pensar se devem ficar o tempo inteiro juntos ou não, se podem beijar na boca, transar em ambientes separados ou não”, sugere Marina, que já superou essa fase e adoraria fazer sexo grupal a viagem toda, mas nem sempre é assim.
“Não espere transar o tempo todo nem pegar a mulher mais gostosa da excursão. Pense no lugar que vai conhecer, nas paisagens, nas comidas, nas compras. A viagem liberal é uma experiência completa, que inclui, se você quiser, sexo com outras pessoas”, aconselha.
* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados
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