Peladão em uma "onsen": como é visitar uma casa de banhos japonesa
"Você pode tirar toda a roupa naquele vestiário e ficar à vontade na água", me diz, em um inglês quase incompreensível, uma simpática senhora sentada na recepção da principal casa de piscinais termais de Aso, uma pequena cidade localizada na ilha de Kyushu, no sul do Japão.
"Como assim? Toda a roupa?", pergunto eu, surpreso ao saber que não poderia usar nem o shorts de tactel que eu havia vestido especialmente para a ocasião. "Sim, toda a roupa", me responde ela, falando com a tradicional serenidade nipônica e me entregando uma toalhinha branca do tamanho da folha de um caderno escolar.
Sigo a instrução e caminho, hesitante e completamente nu, para o interior da casa de banhos termais.
No território japonês, estes locais recebem o nome de "onsen" e constituem lugares extremamente tradicionais entre a população nativa: sua existência remonta a séculos e são frequentados por homens e mulheres que, quase sempre sem roupa, querem relaxar imersos nas águas extremamente quentes que brotam de quase todo o solo nipônico.
Ao ingressar peladão na "onsen" de Aso, eu viro imediatamente o centro das atenções: sou o único gringo branquelo no meio de cerca de 50 senhores japoneses, que se espalham em cinco piscinas termais e circulam em corredores que levam a saunas e chuveiros.
Instintivamente, utilizo a toalhinha branca que ganhei na recepção para cobrir minhas partes íntimas, mas logo percebo que os nativos a empregam de outra maneira, colocando-a molhada sobre a cabeça enquanto relaxam dentro das piscinas.
Alguns dos presentes riem do meu gesto carregado de pudor, enquanto andam como vieram ao mundo para lá e para cá, a toalhinha pendurada no ombro (as mulheres ficam em um espaço separado da casa de banhos).
O visual interno do lugar, por sua vez, remonta a um filme da época do Japão feudal: o casarão que abriga a "onsen" tem sua arquitetura feita parcialmente com madeira, colunas que lembram as dos templos xintoístas japoneses e suas piscinas são cercadas por rochas e plantas, fazendo-as parecer que estão em um ambiente natural.
E há um protocolo a ser seguido lá dentro: primeiramente, tenho que ir a um chuveiro para tomar um banho (e assim poder entrar limpo nas piscinas termais).
As duchas não têm nenhum tipo de separação e, ao meu lado, sentado em um banquinho, à altura do meu joelho, um idoso japonês lava e esfrega obsessivamente seus pés. Fico com medo de, sem querer, esguichar água dele e tirar sua concentração. Outros homens passam pela área e, mais uma vez, dão risada da minha falta de traquejo para lidar com todo o ambiente.
Sauna com TV
Percebo rapidamente que, para visitar uma "onsen", é preciso de um pouco de planejamento. Além de não ter me informado, de antemão, sobre a obrigatoriedade da nudez dentro da casa de banho, não me alimentei direito antes de ir para lá.
E sofro a consequência deste descuido logo depois de entrar em uma das piscinas termais: a água é extremamente quente e sinto minha pressão cair na hora em que afundo o corpo no local. Fico entorpecido e, ao meu redor dentro da piscina, há pelo menos dez japoneses pelados me olhando com curiosidade, como se estivessem perguntando: "como este cara veio parar aqui?" (apesar de ser marcada por lindas paisagens montanhosas e ser cercada por uma rede de vulcões, a cidade de Aso, vale lembrar, não está entre os lugares mais frequentados por turistas estrangeiros no Japão).
Alguns deles tentam bater papo comigo em japonês, sem sucesso. O único que fala inglês repara nas minhas tatuagens e diz algo do tipo: "aqui no Japão, isso é coisa da Yakuza [a organização mafiosa cujos membros costumam exibir tatuagens quase que por todo o corpo]". Dou risada da observação, pensando que é brincadeira, mas ele não ri de volta.
Este senhor, porém, me dá uma boa dica: "Ao sair da água quente, dê um pulo no tanque de água gelada. É revigorante".
Faço isso (realmente é revigorante) e, logo depois, entro em uma sauna seca que fica logo ali ao lado: dentro deste ambiente tomado por uma temperatura de mais de 70ºC, um grupo de japoneses vê calmamente um jogo de beisebol em uma TV.
Pela primeira vez, ninguém liga muito para minha presença. Simultaneamente, pergunto-me se eles aguentariam ver toda a partida no interior da sauna (uma disputa de beisebol chega a ter mais de três horas). Mas percebo que a diversão em uma "onsen" é essa mesmo: agir como se você tivesse todo o tempo do mundo.
Casas de banho imperdíveis
Há diversos casas de banhos termais extremamente interessantes no Japão (e nem todas obrigam que o frequentador fique sem roupa).
A "onsen" de Maguse, por exemplo, localizada na região de Nagano, na região central do Japão, oferece uma piscina termal ao ar livre com uma vista incrível para as montanhas. Já a "onsen" de Tsurunoyu, no norte japonês, tem uma piscina quentíssima que fica cercada por neve nas épocas mais frias do ano. E a cidade de Tóquio abriga uma das casas de banhos termais com o design mais bonito do território nipônico: a Niwa no Yu, rodeada por belos jardins japoneses.
E há ainda a possibilidade de curtir as águas termais do Japão de outra maneira: no parque conhecido como Jigokudani Yaen-koen é possível admirar os chamados macacos da neve curtindo, no meio de um cenário natural, longos banhos dentro das águas quentíssimas, em imagens que costumam entreter (e muito) os turistas.
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