O melhor jeito de conhecer a Rússia é de trem (e dá para levar crianças)
A verdadeira Rússia se conhece de trem. Se você está encantado com as imagens desse gigantesco país, quase onipresente neste mês de Copa do Mundo, saiba que a malha ferroviária russa permite uma viagem muito mais profunda do que a mostrada pela televisão. E, apesar de os trens serem rústicos e o povo russo ter a fama de ríspido, é um passeio muito tranquilo para se fazer, inclusive com crianças.
Quando e ue minha mulher fizemos a rota transiberiana, nosso filho, Chico tinha 2 anos e 7 meses. Era verão e escolhemos o trajeto conhecido como transmongoliana –de Moscou a Pequim, passando pela Mongólia. Foram 7.865 quilômetros nos trilhos. Encaramos seis fusos horários diferentes, paramos em oito cidades em 25 dias de viagem.
Para uma viagem desse tamanho, um bom planejamento é essencial. Começamos a preparar tudo seis meses antes da jornada. Isso porque a transiberiana não é como a malha ferroviária europeia tradicional, ou seja, ali não existem passagens que dão direito a embarques múltiplos. Então é preciso definir previamente quais serão as paradas e adquirir os tíquetes trecho a trecho.
Principalmente no verão, vale a pena comprar as passagens antecipadamente, para não correr o risco de ficar sem. Dá para fazer tudo on-line, ainda do Brasil –os bilhetes são disponibilizados 45 dias antes da data de embarque, pelo site (em inglês) da companhia férrea russa, a RZD.
Em nosso trajeto, conhecemos as seguintes cidades: Moscou, a efervescente capital; Vladimir, a charmosa cidade que foi capital da Rússia na Idade Média; Yekaterinburg, na fronteira entre a Ásia e a Europa; Krasnoyarsk, já na Sibéria; Irkutsk, com suas decadentes casas de madeira (e a 1 hora de ônibus do Lago Baikal); Ulan-Ude, o centro do budismo tibetano na Rússia; Ulan-Bator, capital da Mongólia; e a hiperlotada e gigantesca Pequim, já na China.
Com exceção dos extremos Moscou e Pequim, onde vale ficar mais dias, uma ou duas noites são suficientes para cada parada. As distâncias entre os trechos variavam de 1h30 (de Moscou a Vladimir) a 35 horas (entre Yekaterinburg e Krasnoyarsk).
Dentro do trem, são três categorias –mas luxo não passa nem perto de nenhuma delas. Na primeira classe, o passageiro fica em uma cabine com duas camas e uma mesinha para refeições. Na segunda, um espaço semelhante comporta dois pares de beliches. A terceira classe, a real experiência da transiberiana, é composta por vagões-alojamentos com beliches espalhadas em um espaço comum: 54 pessoas, no total, sem essa de cabines privativas.
Por conta do Chico, achamos que seria mais conveniente fazer todos os trechos de primeira classe, exceto por um, as 18 horas e 30 minutos entre Krasnoyarsk e Irkutsk –não nos arrependemos, foi onde mais fizemos amizades.
Mais ou menos a cada 3 horas o trem para –e fica estacionado por um período que varia entre 10 e 30 minutos. Aí é possível descer nas estações, dar aquela esticada nas pernas, tomar um ar e petiscar alguma coisa. Nessas paradas, vendedores ambulantes ficam nas plataformas oferecendo sorvetes, frutas frescas (normalmente morangos ou framboesas) e os tradicionais peixes secos, iguaria comum no interior da Rússia.
Por falar em comida, leve a bordo queijos, embutidos, pães e macarrão instantâneo –todos os vagões têm água quente à vontade, para preparar os tais noodles ou um chá. Os trens também contam com um vagão-restaurante: mas vale ir ali mais para confraternizar, pois o cardápio não é muito apetitoso.
E o idioma? Esta é uma das principais perguntas que nos fazem aqueles que querem saber da aventura. A maioria dos russos não fala inglês, sobretudo no interior. Vale a pena tentar aprender pelo menos o alfabeto cirílico –ajuda na hora de precisar anotar alguma referência ou mesmo fazer alguma pergunta ao recepcionista do hotel. E não hesite em baixar o Google Tradutor no celular. Por fim, é caprichar na boa e velha mímica. E boa viagem.
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