Guia une turismo e busca pelas raízes italianas de regiões "esquecidas"
Em um mundo com dezenas de milhões de descendentes de italianos, descobrir as próprias origens no Belpaese é um sonho de muitos, porém que muitas vezes acaba ofuscado pelo brilho de pesos-pesados do turismo internacional, como Roma, Milão, Veneza e Florença.
Mas o Ministério das Relações Exteriores vem buscando maneiras de atrair a atenção de viajantes para regiões menos conhecidas do país e de fortalecer os laços com aqueles que têm o sangue italiano, mas nasceram em outras partes do mundo.
Uma dessas iniciativas é a "Guida alle Radici Italiane", um guia turístico gratuito e dedicado aos que desejam se aventurar na busca por suas origens. O projeto foi desenvolvido pela associação Raiz Italiana, que ajuda ítalo-descendentes no exterior a se conectarem com seus berços familiares.
Em entrevista à ANSA no Circolo Italiano, em São Paulo, a presidente da entidade, Marina Gabrieli, conta que a iniciativa nasceu de sua pesquisa de doutorado e inicialmente era voltada para os ítalo-descendentes na Argentina, mas logo ganhou corpo e hoje é pensada para toda a comunidade italiana no exterior.
Lançado recentemente, o primeiro volume tem versões em italiano, português, inglês e espanhol e apresenta informações sobre festas, gastronomia e personalidades locais, além de uma lista de arquivos onde é possível buscar documentos sobre sua família.
O guia aborda quatro das 20 regiões da Itália - Abruzzo, Basilicata, Emilia-Romagna e Puglia -, mas já há planos para expandi-lo a outras partes do país. "Estamos em missão na América Latina e, uma vez terminada a viagem, pensaremos no segundo volume", diz Gabrieli. Confira abaixo a entrevista:
ANSA: Como surgiu a ideia de fazer um guia das raízes italianas?
Gabrieli: Nós somos uma associação de promoção social nascida na Puglia, graças a um projeto da região que financia ideias inovadoras de jovens puglieses. Chama-se PIN. Na realidade, a ideia de trabalhar no turismo de raízes nasce da minha pesquisa de doutorado na Universidade Tor Vergata alguns anos atrás, depois de ter conhecido a comunidade italiana na Argentina. Após isso, conheci meus dois companheiros que são os sócios-fundadores da associação, Attilio Ardito e Mariana Bobadilla. Eles viviam na Argentina, então conheciam bem o mundo dos italianos no exterior. A ideia é criar uma ponte entre a Itália e as novas gerações, ou seja, as pessoas de nossa idade que perderam contato com a Itália, principalmente quem ainda não conseguiu identificar suas raízes.
ANSA: Por que essas quatro regiões - Abruzzo, Basilicata, Emilia-Romagna e Puglia - foram escolhidas para o primeiro volume do guia?
Gabrieli: Fizemos a escolha com o Ministério das Relações Exteriores, porque o guia foi realizado graças ao apoio do Ministério das Relações Exteriores e da Direção-Geral para os Italianos no Exterior, que dão atenção especial ao tema do turismo de raízes. Começamos na Puglia, a região-piloto, porque somos puglieses. A Basilicata foi escolhida pelo ano que ela está vivendo [a cidade de Matera é Capital Europeia da Cultura em 2019], e depois escolhemos uma região do centro e outra do norte da Itália, Abruzzo e Emilia-Romagna, que tiveram grandes fluxos migratórios e se empenham em manter laços com as comunidades de italianos no exterior.
ANSA: Existem planos de produzir novos volumes sobre as outras regiões da Itália?
Gabrieli: Com certeza. Estamos em missão na América Latina, estivemos na Argentina, passaremos por Paraguai, Uruguai e Colômbia, e uma vez terminada a viagem, em acordo com o Ministério das Relações Exteriores, pensaremos no segundo volume.
ANSA: Quanto tempo vocês trabalharam nesse guia? Marina: Não foi um trabalho fácil. Iniciamos as pesquisas em janeiro do ano passado, e os meses mais quentes foram junho, julho e agosto, com pelo menos 15 horas de trabalho por dia. A tradução em português foi feita por Silvia Alciati, que é uma representante do Conselho-Geral dos Italianos no Exterior.
ANSA: O que o público pode encontrar em um guia que aborda o turismo de raízes?
Gabrieli: O turismo de raízes ainda não é um produto bem definido, então tentamos identificar elementos que pudessem ser interessantes para uma viagem de raízes. O guia tem quatro elementos: lugares da memória; lugares ligados a personagens que foram além das fronteiras nacionais; a comida da tradição, aquilo que se cozinhava em família; e um calendário de festas.
ANSA: Milhares de pessoas no Brasil buscam o reconhecimento de sua cidadania italiana. O guia também aborda essa questão?
Gabrieli: Não cuidamos de cidadania. O problema da cidadania é algo um tanto particular aqui, então decidimos reorientar nossa atividade apenas para o turismo.
ANSA: O governo italiano busca maneiras de tirar um pouco o foco dos destinos turísticos mais famosos e atrair viajantes para lugares menos conhecidos. O guia também tem esse objetivo?
Gabrieli: A ideia é justamente essa, porque a maior parte das pessoas que foram embora era de lugares pequenos, que agora estão também em uma fase de abandono. A ideia é justamente valorizar os centros menores da Itália.
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