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Hollywood acabou com encantamento de "A Praia" na Tailândia

Carlos Santamaría

06/07/2010 10h04

Phi Phi (Tailândia), 5 jul (EFE).- Exatos dez anos após a estreia do filme "A Praia" (2000), protagonizado por Leonardo di Caprio, o lugar foi visitado por uma quantidade tão grande de turistas que embora continue sendo paradisíaco, perdeu o encantamento do inacessível e selvagem.

 

A praia, que antes era um local remoto cuja presença era quase um segredo local, recebe agora centenas de banhistas todos os dias, atraídos pelas areias brancas e águas cristalinas onde um jovem e bronzeado di Caprio nadou um dia.

 

O número de turistas na última década foi tão grande que a praia se transformou em mais um dos pontos turísticos de Ko Phi Phi, um pequeno arquipélago situado entre a província de Krabi e a ilha de Phuket, ao sul da Tailândia.

 

Maya Beach, o nome oficial de "A Praia", já conta com espaços reservados para camping, banheiros públicos, um caminho sinalizado, rotas de evacuação em caso de tsunami, lixeiras e inclusive um bar que serve cerveja gelada aos turistas que querem contemplar o entardecer.

 

Durante a estação de chuvas, os navios de passageiros não podem ancorar na praia e os banhistas podem reviver parte do filme caminhando sobre rochas e dependurando-se em cordas até entrar na selva através de uma rachadura na parede de arenito que rodeia como um muro quase toda a ilha.

 

A operação não é necessária na alta temporada, quando o mar está calmo e baía tão cheia de embarcações carregadas de pessoas que sofre autênticos engarrafamentos de barcos.

 

"Antes de "A Praia", o povo vinha a Phi Phi por sua beleza, agora todos a visitam pelo filme", explica à Agência Efe Aegatat Naweewong, guia da agência de viagens local Sunset Trip, que oferece saídas de meio dia com atividades de canoa e snorkel por 450 bat (US$ 14).

 

Naweewong lembra com nostalgia de quando a ilha era um paraíso na terra, mas admite que Hollywood abriu às portas ao mundo dos negócios.

 

Ficaram para trás os tempos em que os ecologistas, juízes, políticos e moradores da ilha entraram na Justiça contra a 20th Century Fox por alterar a paisagem original do local para ampliar a praia e plantar coqueiros adicionais.

 

O filme também levantou uma grande controvérsia e esteve a ponto de ser proibido nos cinemas tailandeses por supostas ofensas ao budismo e por mostrar o país como um éden para o consumo de drogas.

 

Após um longo processo, a Suprema Corte condenou em 2006 à produtora americana a pagar quase US$ 3 milhões pelos danos ao ecossistema, mas estes foram amplamente superados pelo tsunami que arrasou a costa ocidental da Tailândia em 2004, e a sentença não foi cumprida.

 

Muitos tailandeses acham que o maremoto limpou os pecados da rodagem, mas a maioria opta por seguir fazendo caixa.

 

Quando o navio se aproxima de Maya Beach, os alto-falantes deixam soar um reggae pegajoso e os turistas começam a aplaudir e dançar ao som de "Pure Shores", a canção do grupo britânico All Saints transformada em tema de culto pelo filme.

 

O ambiente festivo se prolonga até chegar à baía, onde alguns jovens levam seus alto-falantes para seguir escutando a música sem se preocupar em acabar com a paz e o silêncio do local.

 

Outros visitantes - mais respeitosos - optam por pegar suas câmaras digitais e tirar fotos que esperam que se tornem a inveja de todos quando retornarem à Austrália, Estados Unidos ou Europa ao terminar as férias.

 

Sonham em imitar o protagonista de "A Praia", que abandona sua vida urbana e viaja para Tailândia em busca de um local secreto que só viu em um mapa e depois encontra ali o paraíso terreno comendo peixe fresco e fumando maconha.

 

"Não vi nada como isto em toda minha vida, só falta o Leo", comenta entre risos uma adolescente alemã em alusão a Di Caprio, que antes da filmagem disse que jamais participaria de um filme que prejudicasse o meio ambiente.