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Elevação do IOF não deve mudar comportamento do consumidor

08/04/2011 15h05

SÃO PAULO – O comportamento do consumidor na hora de comprar a prazo não deve mudar com a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,5% ao ano para 3% ao ano. Para os especialistas consultados, não é o imposto que freará o consumo, principalmente das classes emergentes.

“Algum impacto é esperado, mas o consumidor não vai deixar de comprar por causa disso”, acredita o professor da Trevisan Escola de Negócios Ricardo Cintra. Para o professor de Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) Fábio Gallo, o consumidor dificilmente faz a conta para saber se o crédito está mais caro ou não. “O brasileiro compra pela prestação que cabe no bolso”, considera.

A elevação do imposto, de acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, veio no sentido de tentar frear o consumo e impedir pressões na inflação. O aumento, aliado às medidas anunciadas em dezembro pelo Banco Central, faria o crédito ficar mais caro. E o consumidor, a princípio, pensaria mais antes de entrar em financiamentos.

Contudo, para a consultora financeira Eliana Bussinger, não serão medidas pontuais que farão a diferença no comportamento do consumidor. “O brasileiro não tem educação financeira sequer para saber o que é o IOF. E, com isso, mais uma vez, a pessoa física é prejudicada, sem perceber que pode estar pagando mais”, afirma.

Comportamento
Cintra explica que a diferença na compra a prazo de 1,5 ponto percentual de imposto só será significativa em compras de alto valor. E ainda assim, só será entre aqueles que fazem as contas – o que não é a realidade de grande parte dos consumidores.

“Se você contrata R$ 1 mil de empréstimo, antes, você pagava R$ 15 de IOF. Agora são R$ 30. Isso pode não fazer diferença para o consumidor”, avalia Cintra. “Essa mudança de comportamento está ligada diretamente ao conceito de elasticidade da demanda: quanto maior o valor, mais sensível o consumidor estará à mudança”, considera.

“As medidas encarecem o crédito, mas do ponto de vista macro não acho que o consumidor fique atento a isso, por isso, os impactos não serão substanciais”, considera Gallo. Para o professor, uma possível mudança de comportamento pode acontecer quando o brasileiro notar que as dívidas estão ficando grandes demais para o bolso.

Gallo explica que isso deve acontecer por conta de um possível aumento da inadimplência que as medidas adotadas pelo Governo para conter a inflação podem gerar. Com crédito mais caro, ainda que o consumidor não faça a conta agora, o peso das compras financiadas pode ser maior mais para frente. “Por isso, insistimos para que o consumidor faça a conta para ver o peso dos juros e das taxas nos parcelamentos”, avalia o professor.

O peso psicológico
Ainda que a princípio as medidas do Governo não pesem tanto no bolso, elas podem exercer influência na decisão de compra a longo prazo. “Se houver uma propaganda forte de que a compra a prazo está mais cara, os consumidores poderão, daqui a alguns meses, pensar melhor antes de comprar”, avalia Cintra, da Trevisan.

“Quando você começa a martelar notícias ruins, a pessoa passa a perceber que está gastando mais. É o efeito manada”, explica Eliana. Para ela, se o Governo quiser controlar a inflação por meio do controle do consumo, está errando o caminho. “O que faz o consumo cair é o fato de os bancos oferecerem menos crédito”, considera a consultora.

Para Gallo, da FGV, o anúncio de medidas “a conta gotas” ajuda ainda mais a dissipar os efeitos psicológicos do encarecimento do crédito. “Se você anuncia todas as medidas de uma vez só, os efeitos são diferentes”, avalia o professor.

Cintra acredita que nem a elevação do imposto nem as medidas do Banco Central são suficientes para atingir os objetivos que o Governo pretende. “Por isso, outras medidas podem vir por aí”.