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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Campanha inglesa causa polêmica ao celebrar o sexo na maturidade

Rankin/Relate/Reprodução
Imagem: Rankin/Relate/Reprodução

Colunista do UOL

30/04/2021 04h00

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Esta semana postei no meu perfil no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) as imagens que você vê nesta página com a seguinte pergunta: "Olhe bem para esta sequência de fotos e responda: como você se sente sobre essas imagens?"

Eu sabia que casais maduros nus em poses sensuais e em total intimidade é algo que a gente praticamente não vê por aí (coisa absolutamente corriqueira em campanhas de moda, videoclipes ou propagandas, sempre com pessoas jovens) e causaria um certo alvoroço.

Mas não imaginava que o incômodo seria tão grande. Entre muitos comentários positivos, vieram vários outros como: "Sinceramente, achei um horror. Me deu nojo"; "Não consigo achar bonito. Tudo na vida tem seu tempo. Quando chega a idade, existe carinho e amizade"; "Imagens criadas para chocar. Não entendo a razão para isso." Em poucas horas, centenas de pessoas deixaram de me seguir, não sem antes mandar mensagens indignadas com o "mau gosto" da minha postagem.

Essa "polêmica" me deu ainda mais certeza sobre a importância da campanha que a ONG inglesa Relate acaba de lançar espalhando essas fotos em cartazes pelas ruas do Reino Unido e na internet. O famoso fotógrafo de moda Rankin foi recrutado para fazer os registros de intimidade na maturidade.

Batizada de 'Vamos Falar sobre a Alegria de Sexo na Vida Madura', a campanha é estrelada por cinco casais e uma mulher que foram capturados em poses amorosas e sensuais, ostentando frases provocadoras e espirituosas como: "Alguns homens descobrem que amam golfe. Alguns homens descobrem que amam homens." (na foto de um casal homossexual).

Em outra imagem, Daphne, vestida com lingerie, é abraçada por seu parceiro Arthur com a legenda: "A segunda revolução sexual. Como a primeira, mas com mais alguns pedaços instáveis."

A campanha visa quebrar o tabu em torno do sexo e da intimidade de casais mais velhos, um assunto que raramente é abordado abertamente. E me parece mais necessária do que nunca.

Campanha inglesa 2 - Rankin/Relate/Reprodução - Rankin/Relate/Reprodução
Imagem: Rankin/Relate/Reprodução

Embora seja verdade que imagens sexualizadas estão em toda parte (do clipe da Anitta à novela as oito), elas sempre revelam casais jovens, e qualquer menção a pessoas mais velhas fazendo sexo costuma ser usada para rir.

Colocar as pessoas mais velhas como seres puros e infantilizados e, portanto, assexuados, é mais um capítulo do etarismo, o preconceito de idade, que vivemos intensamente e precisa ser combatido.

Imaginar que o sexo acaba na maturidade não poderia estar mais distante da realidade. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Michigan, por exemplo, 40% dos adultos de 65 a 80 anos são sexualmente ativos e, mais da metade, 54%, diz que sexo é importante para sua qualidade de vida. Mais: 65% das pessoas dessa faixa etária se dizem interessados em sexo.

"Ao contrário do que muitos pensam, observo que não há uma ruptura muito grande na vida sexual com o avanço da idade. O que parece ser mais determinante para o fim do desejo sexual é o fato de ter tido experiências pouco prazerosas com os parceiros e também o tempo de duração da relação. Entrevistei mulheres mais velhas que, após o término de seus casamentos, encontraram relações amorosas e sexuais plenas e satisfatórias", escreveu recentemente em sua coluna na Folha a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio, autora do livro "A Bela Velhice" e estudiosa desse público.

Por isso, é importante, sim, normalizar o que é normal. Sexo é parte da vida, seja aos 20 ou aos 70. "Todos nós precisamos de intimidade agora mais do que nunca", diz Rankin, "e a idade, é claro, é apenas um número". Eu não poderia concordar mais com ele.