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Etarismo no trabalho afeta até a saúde mental dos profissionais maduros
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"Você está velha demais para trabalhar com recreação infantil"; "A headhunter falou, sem papas na língua: você está velha demais para a vaga"; "Me chamam de 'mãe' do departamento, de forma depreciativa"; "Escutei: você é nova na empresa, mas velha na idade"; "'Tem certeza de que você sabe usar esse aplicativo sem ajuda?' Pergunta de colega mais jovem, sendo que sou engenheira de computação"; "Não tenho coragem de deixar meus cabelos grisalhos, temo que me achem velha para trabalhar com meu meio, que é o de internet".
Essas foram apenas algumas das mensagens que recebi no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) quando perguntei aos seguidores se já viveram situações etaristas no trabalho. Etarismo (ou ageismo) que é toda forma de estereótipo, preconceito e discriminação baseado em idade. Ele afeta nossa vida de várias maneiras, mas é especialmente cruel no ambiente de trabalho.
Estudos e especialistas da área revelam que esse preconceito afeta não apenas a situação financeira, mas, também, a saúde mental dos profissionais. "Vejo muita gente ficando deprimida, se sentindo mal porque o mercado a rejeita, porque não consegue recolocação depois de perder um emprego", diz Morris Litvak, CEO e Fundador da Maturi, empresa que atua na geração de oportunidades de trabalho e empreendedorismo para pessoas com mais de 50 anos.
Uma pesquisa recente realizada pela Maturi em parceria com a Noz Pesquisa e Inteligência aponta que mais da metade dos entrevistados perdeu o emprego durante a pandemia. Para 67% deles, a questão principal foi que o preconceito de idade, que provoca barreiras no mercado de trabalho, e que piorou durante o último ano.
"Nós começamos a trabalhar com o estímulo ao empreendedorismo porque realmente faltam vagas para essas pessoas. A gente mostra que trabalho não é igual a emprego, que elas podem trabalhar por conta própria, desenvolver esse lado. E ao mesmo tempo atuamos mostrando para as empresas que a diversidade etária dentro as torna muito mais inovadoras", diz Morris.
Exemplos de como o etarismo se manifesta no trabalho:
- Políticas de recrutamento que colocam limites de idade na elegibilidade de trabalho de uma pessoa (como restringir para aqueles que têm menos de 20 anos de experiência)
- Ser rejeitado em uma promoção e a posição ser dada a alguém mais jovem fora da empresa, porque seu empregador deseja que a empresa tenha uma imagem mais jovem
- Demitindo principalmente trabalhadores mais velhos durante as demissões da empresa
- Ser chamado de velho antes de ser despedido
- Demitir funcionários mais velhos e mais experientes em favor de manter os trabalhadores mais jovens, que recebem menos
- Dar aos trabalhadores mais jovens oportunidades ou condições de trabalho mais favoráveis, como oferecer-lhes projetos ou equipamentos melhores do que os trabalhadores mais velhos
- Assédio, como ser xingado ou outras formas de hostilidade, como colegas e superiores fazerem piadas com base na sua idade
- Não ser contratado porque o empregador estava procurando alguém que parecesse mais jovem
Segundo Morris, o principal elemento que intensificou o etarismo nos últimos anos é a transformação digital. "As empresas acham que os mais velhos não vão ter capacidade de aprender a usar novas tecnologias. Nós mostramos que isso não tem nada a ver com a idade, mas, sim, com a atitude."
Morris se inspirou na avó, Keila, para criar a Maturi. "Ela trabalhou até os 82 anos, andava de metrô e ônibus todos os dias. Quando parou, rapidamente sua saúde mental se deteriorou ao ficar em casa sem fazer nada. Isso me fez perceber o quanto o trabalho tinha um papel que vai muito além do financeiro", diz ele.
Que a dona Keila seja exemplo para nós, e para que empregadores acordem para seu papel econômico, mas também social, em relação ao etarismo. E que se aposentar um dia possa ser uma escolha, não uma ação compulsória determinada pelo preconceito.
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