Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Devemos celebrar a cena de masturbação de mulher na menopausa em novela
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Uma mulher se masturbando em plena novela das nove. Mais: uma mulher de mais de 50 anos, na menopausa. Aconteceu. Na ultima quarta-feira, a personagem Rebeca, interpretada pela genial Andréa Beltrão (que na vida real tem 58 anos), causou furor nas redes sociais com a tal cena de masturbação, seguida de uma discussão de casal sobre a falta de atenção do marido, que a estaria fazendo perder o interesse sexual por ele. Em um post que fiz no Instagram (me siga lá também @silviaruiz_ageless) foi imensa a quantidade de mulheres que se identificaram com Rebeca.
A cena não foi por acaso, a autora da trama, Lícia Manzo, conhece muito bem as dores e delícias da personagem. "A inspiração veio da minha vivência de mulher de 56 anos. Tenho lugar de fala para os temas dela, como a menopausa, as relações afetivas", diz a escritora. Lícia decidiu escancarar os tabus e o etarismo que existem em torno das mulheres maduras.
Rebeca é uma ex-modelo de 50 anos em plena crise da idade, rejeitada pelo marido (que a trai com uma mulher mais jovem), excluída do trabalho, sentido os sintomas da menopausa batendo à porta. É uma novidade para as novelas, já que as mulheres de meia idade são frequentemente apenas as mães dos núcleos familiares, sempre desprovidas de sexualidade. Falar de menopausa abertamente, então, é revolucionário. Para melhorar a história, Rebeca vai se envolver com um homem mais jovem (vivido pelo ator Gabriel Leone).
E por que essa personagem é tão importante? Porque ela ajuda a romper estereótipos da mulher madura e a combater os preconceitos que nos cercam, dando voz e visibilidade para nossas questões (as boas e a ruins). "Falar de sexualidade e masturbação é conversa nas rodas de amigos dos homens. Eu sinto que até entre mulheres esclarecidas, amigas minhas, é um tema pouco falado e desconfortável. Eu me pergunto, por quê?"
A própria autora fala de sua vivência com a menopausa e de se ver envelhecendo: "é uma transição tão grande quanto menstruar pela primeira vez. Eu gosto de dizer que é uma adolescência sem ilusão. Mas existe um pacote desafiador para a mulher nessa fase. Além disso, há toda a cobrança pela juventude. Para muitas mulheres isso é doloroso, elas acabam gastando dinheiro, tempo e muitas vezes a própria saúde buscando tratamentos estéticos para combater algo absolutamente natural que é envelhecer. Eu sou vaidosa, mas quero parecer a minha idade. E para os homens, essa é uma escolha, para as mulheres, não."
Masturbação e relação afetiva melhoram o orgasmo
Para quem ficou chocado com a cena da Rebeca, saiba que masturbação é uma grande aliada e deveria estar na rotina das mulheres que querem chegar ao orgasmo. Um estudo mostra, por exemplo, que a capacidade orgástica é maior com o relacionamento mais afetivo com o companheiro e com a prática da masturbação em mulheres na menopausa. Mulheres que apresentam secura vaginal, mas que praticam a masturbação e mantêm relacionamento afetivo com o parceiro, conseguem obter o mesmo número ou um número maior de orgasmos se comparados à frequência de relações sexuais.
O que a tal cena da novela mostra é exatamente isso. Rebeca perde o "tesão" pelo marido que a trata sem afetividade. E ao mesmo tempo sente prazer se tocando sozinha.
Pesquisa Mosaico Brasil, liderada pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, revelou que apenas 3% dos homens disseram que nunca haviam se masturbado. Entre as mulheres, a porcentagem foi de quase 40%.
Nenhuma mulher deve se sentir obrigada a manter-se sexualmente ativa se não quiser. Na idade que for. Mas, se esse for o seu desejo e estiver faltando uma forcinha, já falei por aqui sobre tudo o que você precisa saber sobre masturbação na menopausa.
Desejo que Rebeca ajude muitas mulheres a refletirem e conversarem com suas amigas, parceiros e especialistas médicos se for o caso, para buscar uma vida mais livre e sem tabus na maturidade. Obrigada, Lícia Manzo, por levar esse debate tão urgente para a sala de milhões de brasileiras.
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