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Bioidênticos ou sintéticos? O que você precisa saber sobre hormônios

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

16/09/2022 04h00

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"Hormônio bioidêntico é melhor porque é natural e não traz risco". Com o aumento da conversa nas redes sociais sobre menopausa e tratamentos para os sintomas, como a terapia de reposição hormonal tenho visto cada vez mais afirmações desse tipo sendo propagadas por aí. E um dos tipos de hormônio é o chamado bioidêntico, que vem sendo erroneamente divulgado como opção "natural".

Reposição hormonal na menopausa tem por objetivo devolver ao corpo da mulher os hormônios que estão em queda e, por conta disso, podem causar uma série de sintomas incômodos, como calores, insônia, dores articulares, falta de memória e secura vaginal, entre muitos outros, em média entre os 45 e 55 anos.

"A reposição hormonal é um tratamento muito eficaz se bem conduzido, isto é, com a medicação apropriada e utilizando as menores doses necessárias para a melhora dos sintomas", diz a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly.

Muitas mulheres têm medo da reposição hormonal porque um estudo chamado Womens Health Initiative, realizado há quase 20 anos, mostrou um pequeno aumento do risco para tumor de mama, mas também identificou redução de outros, como o do intestino grosso e endométrio. A Comissão de Climatério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma que a terapia hormonal, de modo geral, de fato aumenta o risco para o câncer de mama. Apesar disso, quando respeitados os critérios de sua indicação, o tratamento oferece mais benefícios do que riscos para a maioria das mulheres. Ou seja, se bem indicada, com as menores doses possíveis, a reposição é uma ótima solução para a qualidade de vida das mulheres.

Mas existe muita confusão na cabeça das mulheres porque não existe uma única forma de reposição. Existem hormônios sintéticos, fabricados por laboratórios farmacêuticos, utilizando-se distintas vias de administração, como a oral ou transdérmicos. E também os chamados bioidênticos, substâncias hormonais que possuem exatamente a mesma estrutura química e molecular encontrada nos hormônios sintetizados pelo corpo humano. Os bioidênticos podem ser formulados em farmácias de manipulação, com dosagens prescritas pelo médico. No entanto, essa nomenclatura tem sido muitas vezes utilizada indevidamente, como se fossem "naturais".

"Na verdade, o grande diferencial da manipulação é a personalização da dose. E também o uso de hormônios que não existem no mercado, como DHEA ou a testosterona, que não são oferecidos em doses adequadas para a mulher nas farmácias. O médico prescritor precisa entender a melhor opção para cada paciente. E as farmácias de manipulação, desde que sigam princípios éticos e de qualidade, podem oferecer esses benefícios", diz a médica.

Segundo ela, na verdade a opção mais segura para as pacientes é a reposição com hormônios na forma de aplicação transdérmica, seja do hormônio bioidêntico, manipulado, quanto os que a indústria farmacêutica (vendidos em farmácia comum). E sempre na menor dose possível para melhorar os sintomas. "A vantagem nesse caso é o hormônio não passar por um processo de transformação que acontece no fígado no caso das opções de hormônio usadas via oral", diz Vânia. Na prática, segundo ela, muitos pacientes apresentam dificuldade (por motivos genéticos) para processar esses hormônios no fígado, que acabam ficando mais tempo do que deveriam em circulação no corpo, trazendo um risco maior para o tecido mamário, por exemplo. No caso da aplicação transdérmica o hormônio não passa pelo fígado.

Portanto o mais importante ao se optar pela reposição é avaliar o que é seria a melhor opção no seu caso. Converse com seu médico sobre seu próprio cálculo de risco e benefício para que você possa tomar a melhor decisão para você. Não entre nessa de que só porque um hormônio é bioidêntico não oferece nenhum risco. E mesmo nas farmácias comuns, existem opções de hormônios industrializados com característica de serem "biodisponíveis", afirma Vânia. Isso é, podem ter uma boa absorção e serem bem reconhecidos pelos nossos receptores de hormônio no corpo, assim como os chamados bioidênticos.

É importante ressaltar que nem toda mulher pode fazer o tratamento. Existem algumas contraindicações: mulheres com trombose, câncer hormônio-dependentes, como câncer de mama, câncer de endométrio e doenças cardiovasculares prévias, como infarto e AVC, não devem fazer a reposição hormonal.