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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tenho 53 anos e uso biquíni. Até quando mulheres vão ser notícia por isso?

Por que mulheres de biquíni ainda tem que ser notícia? - Arquivo pessoal
Por que mulheres de biquíni ainda tem que ser notícia? Imagem: Arquivo pessoal

Colunista de VivaBem

16/06/2023 04h00

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"Aos 50 anos, Ingrid Guimarães exibe curvas impecáveis em fotos de biquíni: 'Magnífica'."; "Aos 54 anos, Catia Fonseca exibe corpão de biquíni em clique inédito: 'Arrasou'".

Em uma mesma semana, duas celebridades viraram notícia por usar biquíni e exibir uma "boa forma". Entendo que esses títulos são escritos dessa forma porque certamente geram curiosidade e, por consequência, audiência para os veículos.

Afinal, a gente ainda vive em uma sociedade extremamente etarista, em que o preconceito de idade segue sendo um dos últimos socialmente aceitos. Está tudo bem dizer, nas entrelinhas, que uma mulher está "bem, apesar da idade"; que merece aplausos por se capaz de, depois dos 50, "nem parecer a idade que tem", exibindo curvas impecáveis.

O etarismo está ali, estampado na nossa cara. E, se a objetificação e o valor das mulheres ser reduzido a seus corpos, em qualquer idade, já deveriam ser questionados, no envelhecimento eles ganham mais uma camada.

O que fica implícito nessas notícias é que, nós mulheres, ainda podemos ter algum valor e visibilidade, se nos mantivermos magras, saradas, sem rugas, sem que nossos corpos denunciem a passagem do tempo.

E eu não quero aqui apenas questionar os veículos de comunicação que seguem reproduzindo esse tipo de conteúdo (embora gostaria que repensassem sua responsabilidade em combater estereótipos e preconceitos).

Quero chamar atenção de todos nós, que consciente ou inconscientemente adotamos o mesmo padrão no dia a dia.

Por que muitas vezes gostamos de receber elogios por conta de nossa aparência? Quantas vezes, lá no fundo, ficamos felizes quando ouvimos algo como "nossa, você tem tal idade? Não parece!". É como se, no fundo, isso nos livrasse da vergonha de envelhecer. De perder o valor como mulher.

Acontece que esse tipo de medo e esforço eterno para não perder a beleza, a forma "perfeita" e a juventude, nos joga num lugar onde nunca seremos suficiente. Porque o tempo vai chegar. E a verdade é que, se tivermos sorte, a gente vai envelhecer.

Escrevo essas palavras como uma espécie de autoanálise. Esta semana eu completo 53 anos. E, nos últimos cinco anos, venho combatendo o etarismo aqui, no meu perfil no Instagram e, principalmente, dentro de mim mesma. Porque o etarismo tem um impacto negativo na saúde física e mental, e estudos inclusive mostram uma relação com a morte precoce.

Um estudo descobriu que pessoas com uma perspectiva positiva sobre o envelhecimento viveram em média sete anos e meio a mais em comparação com aqueles que pensavam negativamente. Os pensamentos podem se traduzir em comportamentos.

Então, sim, vamos nos cuidar, fazer o possível para envelhecer bem, com força, mobilidade, vivendo tudo que há para viver. Mas, mulheres, se tem uma coisa que precisamos lutar para ter nessa idade, é a paz de não precisar mais atender às expectativas da sociedade sobre nossos corpos.

Colegas jornalistas, convido vocês a nos ajudar nesse movimento de transformação. Nosso corpo e nossa idade nos pertence, não é notícia.