Carta aberta de uma mulher na menopausa para Grazi Massafera
Querida Grazi,
Eu sei que, como a imensa maioria das mulheres, você deve ter pouca informação sobre a menopausa. Você não está sozinha, uma pesquisa mostrou que 70% das brasileiras não estão preparadas para a chegada dessa fase normal da vida feminina.
Então, eu entendo que, quando você diz "tenho minha libido lá em cima, estou na idade da loba. Daqui a pouco vem a menopausa, deixa eu aproveitar", está apenas reproduzindo clichês que existem sobre o climatério. Quando um assunto é tabu, ele dá margem a isso. Mas deixa eu te dar uma boa notícia: seu prazer não tem prazo de validade.
Segundo a mesma pesquisa, conduzida pela empresa de higiene e saúde Essity, 55% das brasileiras disseram não gostar de falar sobre a menopausa por ela ser associada à velhice e à "deterioração" do corpo. Pelo estigma de se tornarem indesejáveis. Sabe o que está por trás disso? O etarismo. Por muito tempo se associou a mulher mais velha como assexuada, como carta fora do baralho.
Para desmistificar o tema, uma pesquisa americana acompanhou mais de 3,2 mil pacientes por cerca de 15 anos. Sabe o que eles descobriram? Mulheres não perdem o interesse pelo sexo ao envelhecer.
"Cerca de um quarto das mulheres avaliam o sexo como muito importante, independentemente da idade", disse Holly Thomas, autora principal de um resumo apresentado durante a reunião virtual anual da American Menopause Society em 2020.
"O estudo mostrou que um número substancial de mulheres valoriza muito o sexo, mesmo quando envelhece, e que isso não é anormal", continuou Thomas, professora assistente de medicina da Universidade de Pittsburgh.
"Se as mulheres podem conversar sobre o tema com seus parceiros e garantir relações sexuais satisfatórias e agradáveis, estarão mais propensas a avaliar a atividade como muito importante à medida que envelhecem", explicou.
Não é tudo culpa dos hormônios
E Grazi, é importante você saber. É verdade que existe um componente biológico que compromete a intensidade da libido. Mas ele não é determinante.
A sexualidade é um fenômeno com partes psicológicas, fisiológicas e sociais. Por isso, a menopausa em si, pela redução hormonal, não seria um ponto único de influência para a diminuição do comportamento sexual.
Eu mesma, quando era mais jovem, já tive momentos com muito menos libido do que agora, aos 53 e na pós-menopausa, porque estava num relacionamento desgastado, exausta, sem tempo. São momentos e ciclos da vida. Hoje eu sei que, ainda mais num casamento longevo, libido depende de cuidado. Tanto quanto aos 40, sua idade.
Para você ter uma ideia de como libido não depende só de hormônios, os jovens atualmente estão passando por uma espécie de "apagão sexual". O fenômeno foi observado pelos estudiosos do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, e pelo Departamento de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unido.
Considerando a faixa etária de 18 a 24 anos, 31% dos homens e 19% das mulheres afirmaram que não tiveram relações nos 12 meses anteriores à pesquisa. Em 2002, menos de 20% deles e 15% delas diziam não ter transado nesse mesmo intervalo de tempo. Ou seja, mesmo bombando de hormônios, essa galera não está transando.
Segundo Carmita Abdu, psiquiatra e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da USP), "a perda de hormônios na menopausa interfere na disposição sexual, mas não podemos esquecer que o desejo feminino é multifatorial. A mulher precisa ter estímulos e motivação para ter vontade de transar."
O que pode atrapalhar a libido, em qualquer idade, são coisas como, cansaço, depressão e ansiedade, crise no relacionamento, excesso de telas e falta de olhos nos olhos, toque, beijo na boca (que pode acontecer com casais estáveis e que caem na mesmice, que é inimiga do tesão).
Aliás, sexo na maturidade pode ser inclusive melhor, já que a gente se conhece melhor, sabe o que gosta e o que não gosta, perde a vergonha, sabe escolher melhor os parceiros.
Então, para seguir curtindo seu prazer aos 50, 60 e além, fica a dica: cuide das suas relações, reduza o estresse, faça atividade física, siga uma dieta saudável, beije muito e troque abraços. Além disso, hoje existem recursos que fazem muita diferença na vitalidade feminina nessa fase, como reposição hormonal, laser vaginal (para quem tiver alguma secura ali), suplementos fitoterápicos. Estamos juntas. "Menopower pra quem nunca se entrega", como dizia Rita Lee.
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