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Atletas envelhecem e desafiam as regras do tempo
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Nas últimas semanas presenciamos o quase sexagenário lutador de boxe Evander Holyfield retornar aos ringues e enfrentando o lutador brasileiro Vitor Belfort, mais de uma década mais novo que ele. O senhor Holyfield, 58 anos e que estava há 11 anos sem fazer uma luta oficial, aparentou um corpo muito bem definido e com a maioria das condições médicas que o habilitavam a lutar.
Perdeu a luta, mas deixou uma mensagem de que corpos que são cuidados podem não apresentar os efeitos do sedentarismo e da instalação cada vez mais precoce das doenças, principalmente as crônico degenerativas, como a obesidade, a osteoartrose e tantas outras que, para as pessoas menos informadas, são facilmente confundidas com estereótipos de pessoas velhas. Uma barriga mais saliente, queixas de fraqueza, dores, desânimo, depressão e problemas de equilíbrio são comumente associadas com o ser velha ou velho.
Anderson Silva, 46, um lutador dominante por muitos anos, capaz de mesclar diversas modalidades de lutas, já poderia ser considerado um aposentado diante dos últimos resultados obtidos. Recentemente, na prática do boxe, voltou ao cenário das lutas ao vencer outra lenda, Tito Ortiz.
Os corpos já não são os mesmos se comparados há 10 ou 20 anos, mas provaram que, existindo um bom treinamento, ganhos de força, de resistência e de agilidade continuam a existir muito bem.
Na história das Olimpíadas, é frequente que existam atletas idosos competindo seja por medalha ou para honrar a presença do seu país em uma determinada modalidade esportiva. O atleta olímpico mais idoso foi o atirador sueco Oscar Swahn, com 72 anos, em 1920.
Em Tóquio, tivemos na equipe australiana de hipismo Mary Hanna e Andrew How, de 66 e 62 anos, respectivamente. Pelo Brasil, tivemos também no hipismo Marcelo Tosi, 51, e a atleta medalhista de ouro e recordista mundial Beth Gomes, 56, no lançamento de disco na Paralimpíada de Tóquio.
Evander Holyfield foi avisado duas semanas antes do confronto e teve sua permissão rejeitado por um Comitê de profissionais da saúde da Califórnia, já que havia riscos dele se machucar gravemente. No boxe, as respostas de reação e deslocamentos são essenciais para a boa prática. Ainda assim, representou um grupo social de pessoas que estão desafiando o tempo da prática não apenas amadora ou recreativa do esporte. E o que para mim é o mais importante: sempre esteve treinando.
Tem sido cada vez mais comum a vida imitando a arte. Muitas pessoas irão se lembrar dos filmes do Rocky Balboa que, interpretado por Sylvester Stallone, volta aos ringues depois de aposentado. Não faz muito tempo, atletas de alto nível já foram considerados velhos para competições quando estavam ali, por volta dos 30 a 35 anos.
Recentes lutas e outros feitos no mundo dos esportes têm mostrado que corpos e mentes treinadas desafiam o avançar dos anos e mostram que, com equipamentos adequados e profissionais competentes, podem viver mais tempo o auge do esporte profissional, com menos incapacidades e desafiando cronômetros, barras de ferro, raias de piscina e quadras poliesportivas espalhadas pelo mundo.
Esportes competitivos precisam buscar a proteção de senhores e senhoras atletas mais velhos. Algumas regras do jogo podem também ser mais flexíveis. Nas lutas citadas acima, o tempo e algumas condições foram estabelecidas para a preservação da integridade dos competidores. Lutas na modalidade de exibição já seriam suficientes para apontar que as práticas esportivas estão cada vez mais no cotidiano de pessoas mais velhas.
É uma barreira contra o etarismo que se quebra. E isso é muito bom e pode ser um "convite" para que muitas pessoas continuem a praticar seus esportes de preferência ou que iniciem uma prática após os 40 ou 50 anos.
Isso mostra que, cada vez mais, as pessoas idosas podem estar em plenas condições cognitivas e físicas para realizar o que na gerontologia são consideradas como atividades avançadas de vida diária que, nesse caso, pode envolver a busca por melhores resultados a partir de muito treinamento e outras condições associadas, como alimentação.
Ainda que Evander não volte a lutar nos próximos anos, ele, Mike Tyson e tantos outros atletas mostram ao mundo que o envelhecer do século 21 literalmente não é o mesmo do século passado!
Ainda assim, corremos o risco de "estragar" essas possibilidades de idosos e idosas praticarem cada vez esportes! Há muita insuficiência de quadras, de raias, de piscinas, de bolas e tabelas para praticantes jovens, adultos e não seria diferente para pessoas mais velhas.
Empresas que atuam no campo da área esportiva parecem não se interessar o suficiente para incluir a população idosa como consumidora dos seus produtos. Parecem que já ficam satisfeitas quando essas pessoas velhas compram equipamentos e roupas para netos e netas. E isso acaba se configurando como um grande erro!
Recentemente fiz contato com uma dessas empresas, propondo um projeto que incluísse pessoas idosas como praticantes de modalidades até então pouco usuais ou recomendadas para sua faixa etária. O plano envolvia um bom diagnóstico, uma equipe competente e ações de inserção bem coordenadas. Tive uma primeira resposta que me motivou. E parou por aí.
Ou seja, nas redes sociais, o engajamento aparente de empresas gera a atenção e curtidas de muita gente que quer ver velhos e velhas pedalando ou subindo as rampas de skate, mas pensar em derrubar o etarismo é ainda, para muitas empresas, um sarrafo muito alto para tentar superar.
Idosas velocistas já estão em alguma parte do mundo treinando e procurando melhorar seus tempos, outras melhoram seus exames de sangue a cada semestre. Viver mais anos de vida precisa deixar de ser significado de vida com mais dificuldades funcionais!
Que profissionais de saúde possam recomendar natação, corrida, ciclismo e musculação juntos como uma intervenção para o bem viver! Que mulheres possam cada vez mais ter a experiência de praticar um esporte que sempre quiseram! E que surjam mais avós boxistas, tenistas de mesa ou praticantes de pole dance!
O estranhamento ainda está na pouca diversidade de pessoas idosas como pobres, negras, gays, lésbicas ou com deficiências realizando essa atividade avançada de vida diária. Quando apontei bons equipamentos, profissionais competentes, infelizmente, destaquei que nem todas as pessoas têm essa oportunidade de vivenciar o esporte realizado em boas condições.
Há experiências exitosas, como o Jogos Regionais do Idoso (Jori), mas ainda é um espaço de pouco acesso a muitas pessoas idosas. Não é só passar por uma boa avaliação médica para começar os treinos. Boa alimentação, equipamentos, condução para se chegar aos locais de treinamento, alguém que, no mínimo, divida as tarefas domésticas e, por vezes, o incentivo de familiares e profissionais que atuam na área do envelhecimento.
Ganho de massa muscular é muito importante para quem quer envelhecer bem fisicamente. Boa parte das atividades realizadas no nosso cotidiano envolve potência. Há outras atividades que demandam flexibilidade. Outras pedem um bom equilíbrio e coordenação. Às vezes, outras pedem uma boa dose de equilíbrio e paciência. Muitas doenças e outros agravos à saúde são evitados ou bem reduzidos na vida de pessoas idosas que treinam.
Quem sabe, e que seja em um futuro próximo, possamos ver com muito mais frequência e aceitação da sociedade que velhos e velhas possam fazer aulas de balé, fisiculturismo, alpinismo, escalada, tiro ao alvo, maratona aquática, basquete de rua e futebol de salão.
Há muita gente que não pode morrer sem essa experiência e uma quantidade ainda maior de pessoas que só vendo para acreditar o quanto pessoas idosas são ainda capazes e surpreendentes.
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