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Alexandre da Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você tem cuidado da sua memória para envelhecer bem?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

22/11/2021 04h00

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Começarei o assunto da coluna de hoje pedindo para que você memorize essas três palavras: maçã, mesa e dinheiro.

Nós somos constituídos de células das mais diferentes formas e funções e também de memórias, das mais diferentes formas e funções, uma para lembrar de informações recentes, outra para as informações mais antigas, para cálculo, para a criatividade, para a realização de atividades diárias e por aí vai.

Não é sem sentido perceber que a morte de uma pessoa muito querida por nós é também um pouco da gente que morre também. Na vida de pessoas idosas, a perda de memórias, com nomes próprios, é muito frequente e, não tem jeito, abala quem ficou aqui com uma ou duas pessoas a menos, se comparada à situação do ano anterior.

Muitas doenças ocorrem em maior frequência na velhice, aumentando as chances para os problemas relacionados aos esquecimentos e dificuldade de aprendizagem. Para pessoas idosas pode ficar ainda pior quando algumas dessas doenças, de causas mais neurológicas ou vasculares, chegam e também afetam direta ou indiretamente toda uma família ou grupos de amigos. E quanto mais se envelhece, maiores os riscos de problemas relacionados à memória surgirem.

Há também mudanças comportamentais que podem ser sinais de que a memória possa estar comprometida. Sabe aquela pessoa que nunca falou um palavrão e agora é o que mais faz? Ou aquela pessoa que agora passou a usar blusa de frio no verão e só regata e shorts no inverno? Se antes não existia esse hábito, e mais recentemente passou a existir, pode ser sinal de algo não vai bem e pode até piorar.

Mas as diversas funções da nossa mente, assim como os músculos, podem ser cuidadas e fortalecidas, já pensou nisso? Chega a ser estranho imaginarmos que funções cerebrais possam responder a estímulos semelhantes àqueles que executamos quando queremos ficar mais fortes ou melhorar o desempenho em alguma modalidade específica.

Músculos são construídos ou definidos a partir de "sobrecargas" muito bem calculadas, a ponto de gerar uma mudança que resulta em bons resultados. Não dá também para exagerar na dose de carga, repetição, frequência e não valorizar o descanso porque daí não se alcança a meta desejada. Tudo isso cabe quando o assunto é o aprimoramento das nossas funções cognitivas.

Veja o seguinte...

Antes de seguir, quais foram as três palavras que havia pedido para que você memorizasse?

Pois bem, se você se lembrou das três isso é um sinal de que esse estímulo foi adequado para estimular uma das suas funções cognitivas. Agora, se você não se lembrou, bem, isso é um sinal de que...pode tudo estar bem ainda (risos).

Sim, há diversos fatores que podem estar associados com as possibilidades de guardarmos ou não algum tipo de informação. Se eu dissesse que aquelas palavras fossem uma senha para ganhar um objeto que você almeja há muito tempo, talvez você utilizaria algumas "estratégias mentais" para melhorar o registro das três palavras.

Também podem existir fatores emocionais que dificultam a nossa memorização. E isso não depende da idade. As emoções nos afetam sempre, para o bem ou para o mal.

Vamos fazer um outro teste? Acho que nesse você se sairá bem! Lembre-se de uma comida que gosta muito, mas muito mesmo.

Lembrou?

Ao se lembrar dessa situação você pode até ter "voltado ao lugar onde já degustou esse prato", lembrou do cheiro da comida, quem fez e, como disse minha amiga Gislaine Gil, neuropsicóloga, possa ter até salivado um pouco mais tamanha a quantidade de conexões das diversas áreas cerebrais acionadas para lembrar dessa informação.

O que quero dizer com essas duas provocações que fiz acima? Quero mostrar que exercitar a memória pode ser mais fácil do que imaginamos, mas que precisa da mesma disciplina, cuidado e frequência que dispomos ao praticar algum exercício físico.

Hoje meu texto é também meio diagnóstico e meio intervenção. Se estiver com disposição, pare um pouco a leitura, sente-se em uma cadeira que tenha à sua frente um espaço para você andar, algo em torno de três metros.

Você irá se levantar dessa cadeira, andar os três metros e voltar a sentar na mesma cadeira. Registre o tempo que levou para fazer todas essas etapas. A seguir, repita o mesmo teste, mas agora você irá dizer em voz alta os dias da semana de trás para frente, ou seja, "domingo, sábado, sexta, quinta, quarta, terça e segunda-feira". Repita até você sentar novamente e, ao final, registre o tempo que levou para fazer essa outra parte do teste.

Houve diferença entre a primeira medição e a segunda? É bem provável que sim, já que você precisou dividir a sua atenção, seja para fazer uma atividade motora, que foi o andar, com uma outra função cognitiva, no caso dizer os dias da semana.

Faço muito dessas intervenções quando estou atendendo pessoas idosas ou ministrando cursos e aula e, tanto quem fez, quanto familiares ou estudantes que acompanham ficam tensos e apreensivos com os resultados.

Com algumas dessas exemplificações, mostro que sempre haverá possibilidades de exercitarmos nossas mentes para não esquecer e, quando existir condições físicas, psíquicas e emocionais, passar a se lembrar mais e melhor.

Ainda não se conhecem medicamentos eficazes para a grande maioria das doenças que afetam a memória, mas muitas pesquisas apontam que boa alimentação, boas horas de sono, controle do estresse, exercício físico regular e na intensidade adequada são capazes de retardar os efeitos de um processo de perda cognitiva em andamento ou até de preservação do bom funcionamento dessas funções.

Se entendeu bem o que escrevi, em mais de um parágrafo apontei que atividade física também ajuda na preservação da memória. Indiretamente, digo que deixar de fazer qualquer tipo de atividade, seja mais física ou mais mental, pode trazer danos para quem quer se lembrar dos anos vividos e projetar os que estão por vir.

Daí que se aposentar, passar a morar sozinha e mais na solidão, parar de aprender e passar a ficar mais tempo somente em casa não "exercita bem" os neurônios, que são células do nosso sistema responsáveis pelas funções cognitivas e parte dos sistemas fisiológicos que mantêm todo o corpo ativo.

Exercitar neurônios e músculos em qualquer contexto ajudará você a se esquecer menos de fatos e manter possibilidade do bem viver e ainda encontrar ou usufruir o seu propósito de vida!

VivaBem fez, na última semana, uma série de conteúdos com a finalidade de trazer informações, soluções, pensar políticas, programas e ações capazes de manter toda uma sociedade com uma boa memória, já que o Brasil tem números preocupantes.

Grande parte de pessoas acometidas por doenças que afetam nossas funções cognitivas tem a doença de Alzheimer como a principal causa.

E, antes de finalizar o texto de hoje, gostaria de te fazer mais duas perguntas sobre cálculo: 93-7, quanto é? E 72-7, quanto é?

Uma sociedade com mais possibilidades de aprendizagem e que não se restringe ao ensino considerado formal, que é esse fundamental, médio e superior, é capaz de dar melhor qualidade de vida a todas as gerações, reduzir os gastos com os cuidados relacionados com todo o contexto de pessoas com problemas cognitivos, além de possibilitar uma expectativa de vida maior e com mais qualidade nos anos vividos.

Então, procure uma atividade que te traga prazer como aprender um novo idioma, uma nova dança, um novo prato culinário, a leitura de um livro fora das suas áreas de preferência e saiba do enorme benefício que estará fazendo para seus neurônios! Com certeza, haverá mais chances de você se lembrar de que tudo valeu a pena!

Se você ficou preocupado com a condições da sua memória ou querendo saber mais, procure um profissional da área da gerontologia. O que mais queremos é ver você, quando nonagenário ou centenário, com uma mente ativa e ainda desejosa de aprender mais, sempre.

Abaixo, você pode acompanhar o bate-papo sobre o tema mediado por Bárbara Paludeti, editora de VivaBem, em que eu, junto de Gislaine Gil, Tony Ramos e Rosamaria Murtinho participamos:

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL