Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Candidatos à presidência: é preciso parar com as discriminações
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Era segunda-feira, dia 29 de agosto. Assim como muitos brasileiros que puderam acompanhar o debate de candidatas e candidatos à presidência do país, eu já estava lamentando a ausência da discussão de algumas pautas importantes para o nosso desenvolvimento e retomada do crescimento. E aqui não me limito a pensar somente na economia.
Ouvi diversas vezes, de candidatas e candidatos, sobre a preocupação quanto à formação e a empregabilidade das pessoas mais jovens. De fato, isso é muito importante, mas fico questionando se esse excesso de preocupação também não é para manter um modelo de economia que, em termos de retorno para a sociedade, muitas vezes se restringe às possibilidades de consumo. Isto é, manter a cadeia de compra e venda, produção de conhecimento e de materiais ou de equipamentos.
Isso parece ser suficiente para o crescimento de uma nação, ainda mais se considerarmos o momento pandêmico que o Brasil atravessa, mas é preciso pensar nos valores vigentes no país que afetam comportamentos e atitudes de muitos grupos sociais. É importante lembrar que vivemos em uma democracia, ainda que nem todas as pessoas consigam vivê-la plenamente bem, com todos os seus direitos respeitados.
Durante o debate, um candidato falou que professoras e professores não estão ensinando corretamente e que a formação desses profissionais está errada, mas se esqueceu de apontar que, nas últimas décadas, ocorreu o declínio da importância desses profissionais no nosso país. Estamos em 2022 e muitas instituições já substituíram o docente por uma máquina que reproduz alternativas e respostas pré-programadas, em prol da maior lucratividade da instituição privada que oferece esses cursos.
Senti também que muitos falaram em ofertar mais cursos técnicos à população jovem, e não foram todos que abordaram o direito de acesso ao ensino superior, o mais valorizado neste país.
Dessa forma, achei que precisasse aguardar mais algumas semanas para fazer um texto capaz de contribuir para a discussão e escolha de uma candidata ou candidato que trouxesse propostas para algumas causas que defendo, estudo, pesquiso, leciono e atuo por meio de consultorias e outros trabalhos técnicos.
Antes de comentar um pouco mais sobre esse debate, já me antecipo para lembrar que a política partidária é um campo de relações sociais que demanda muita estratégia e equipes muito bem organizadas, a fim de entender o comportamento e expectativas de eleitoras e eleitores, principalmente para aquelas pessoas que estão indecisas.
Mas dois candidatos se saíram mal entre o domingo e a segunda-feira, pois propagaram atitudes discriminatórias, um dos assuntos que considero muito importante. Outra triste constatação foi perceber que não verbalizaram algum plano real e concreto para o seu enfrentamento.
O primeiro candidato foi Jair Bolsonaro, um idoso de 67 anos que, mais uma vez, explicitou sua prática preconceituosa e discriminatória contra as pessoas do gênero feminino. Em um mesmo programa agrediu duas mulheres. Para uma delas, usou termos extremamente machistas e misóginos, algo muito difícil para se ouvir de um atual presidente. Minha mãe e minhas filhas estavam ao meu lado e ficaram constrangidas diante daquela prática violenta transmitida ao vivo, entrando em milhões de moradias do Brasil e de outros países.
Já na segunda-feira, um dia após o debate, uma "surpresa" foi saber que o candidato Ciro Gomes, pessoa idosa de 64 anos, considerado um candidato com preparo para assumir a função, se eleito, compartilhou em suas redes sociais um discurso que explicita uma prática idadista, que é a discriminação fundamentada na idade de outra pessoa.
Em sua fala, há ofensas direcionadas ao candidato mais velho dessa disputa presidencial, Luís Inácio Lula da Silva, de 76 anos. Para Ciro, Lula está "...cada dia mais fraco, fisicamente, psicologicamente e teoricamente (sic), para enfrentar a direita sanguinária". A postagem, feita em uma rede social, foi apagada após a repercussão negativa que evidenciou a violência de um idoso contra outro idoso. Sim, pessoas idosas podem naturalizar e reproduzir a discriminação praticada contra pessoas do seu próprio grupo social!
Trata-se de uma situação bastante embaraçosa para se discutir, uma vez que um deles, Lula, é ofendido por outro idoso, o Ciro. E, considerando que pessoas idosas ficam mais expostas a situações de discriminação, é outro idoso, agora o Jair Bolsonaro, que discrimina duas mulheres, outro grupo social muito violentado nesse campo da política partidária.
E é assim que a discriminação pela idade opera na estruturação de uma sociedade. Deixar de apontar, para as grandes mídias, os projetos previstos para melhorar a vida de pessoas idosas foi um erro que todas e todos candidatos cometeram. Trata-se de 14,7% da população brasileira, isto é, são mais 31 milhões de pessoas que não sabem exatamente se terão algumas das suas demandas atendidas nos próximos quatro anos.
Essa invisibilização das demandas das pessoas idosas ficou evidente quando não houve falas de candidatos idosos e que não foi um assunto lembrado por suas equipes, já apontando que o combate ao idadismo será uma das pautas que toda a sociedade precisará reivindicar nos próximos quatro anos.
Como escrevi lá no começo deste texto, esse foi o primeiro debate. Ainda estamos no começo das campanhas. Às candidatas, aos candidatos e às suas equipes: assuntos como envelhecimento e velhices precisam ser abordados com a devida importância! A revolução da longevidade já chegou! O Brasil ainda ficará atrasado na construção de uma nação menos idadista?
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