Por que a sociedade estranha pessoas mais velhas gargalhando livremente?

Adoro as risadas que minha mãe e minha tia dão quando estão juntas. Sabe aquela risada que sai até lágrimas dos olhos? É assim que elas ficam! E os motivos são os mais diversos: uma história engraçada, uma palavra mal interpretada que gera uma confusão momentânea, as brincadeiras que faziam na infância ou quando familiares conversam com elas sobre fatos mais atuais do comportamento das pessoas mais jovens.

E quem está por perto acaba rindo muito também!

De uma forma prazerosa, o riso pode se espalhar em um local ou ser uma prática frequente em certos grupos, sejam de familiares ou de amigos. Há sempre algumas pessoas com essa facilidade de rir e de fazer outras pessoas rirem também.

E pessoas que envelhecem com esse hábito, com essa permissão de rir, parecem viver melhor porque incluem a risada no seu estilo de vida, como uma forma de extravasar o que angustia ou de tirar aquela tensão que afeta o corpo todo.

Há pessoas que já riram muito na vida e, atualmente, não mais. Colocaram uma fisionomia séria em seus rostos que, em algumas situações, até impõe um certo respeito, não admiração. É uma face com músculos contraídos que, de longe, expressam uma preocupação, seja com algo que já aconteceu, com algo que ainda acontecerá ou com a tentativa de manter sob controle o que está acontecendo.

E esse comportamento ou forma de nunca rir se aprende e é transmitido para outras pessoas com as quais se convive. Tenho a impressão de que certas religiões restringem a liberdade e a espontaneidade da risada que existe dentro de nós. Certos líderes religiosos conseguem convencer seus fiéis de que rir é errado, pecado e um gesto de desrespeito para com o próximo.

E muitos pais ensinaram aos seus filhos a não rirem tanto para que pudessem ser levados mais a sério na escola, no trabalho e nos relacionamentos, já que eles próprios aprenderam que rir toda hora é coisa de pessoas que não querem nada com a vida. E que a vida tem que ser conduzida com muita disciplina, muita seriedade.

Assim, muitas pessoas envelhecem perdendo a habilidade de rir, seja de si mesmas, seja com os seus, seja com o mundo e suas dinâmicas de acertos e desacertos.

Uma das marcas que se tenta colocar no envelhecimento é a não possibilidade de rir, de impedir que uma pessoa seja engraçada, ainda mais se for uma avó, mãe, amiga ou a tia mais velha.

E quanto aos homens que já foram mais provedores das coisas materiais? Como agora poderão ser provedores de mais risadas e não mais exibir as testas franzidas porque o dinheiro não vem na quantidade e forma que sempre veio? E que tudo bem rir nessa situação?

Difícil mudar o que se aprendeu há anos e que é reforçado diariamente.

"Clarice Lispector beliscava sua amiga Lygia Fagundes Telles quando entravam juntas num encontro literário:
- Não ri, vai! Séria, cara de viúva.
- Por quê? - perguntava Lygia.
- Para que valorizem o nosso trabalho."
(Fonte: O riso é perigoso. Autor: Fabrício Carpinejar)

Chega a ser até um pouco estranho fazer um texto longo no qual a pauta é falar de risada porque a risada não precisa de longas apresentações ou discussões. Tem gente que ri só de olhar para uma pessoa ou situação, que ri com a palavra que quase não sai da boca, com o texto muito curto ou com gesto corporal de alguém.

As redes sociais têm ajudado nesse aspecto. Há milhões de pessoas que enriquecem o mundo com suas habilidades de libertar nossos risos. Tem "meme" para tantas coisas, tem frases e vídeos incríveis.

Os encontros intergeracionais, como as rodas de conversas, com mais pessoas velhas, ou mais jovens, ou de pessoas de todas as gerações podem também ser situações para boas risadas!

Pessoas mais velhas podem rir com a possibilidade da morte, como já dito pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros. E, na minha opinião, tal gesto pode ser um pouco estranho em um momento, mas libertador por outro. Lembro-me agora de uma jornalista que perguntou para um idoso de mais cem anos qual era o segredo para viver tanto?

- É só não morrer, disse ele!

E ambos começaram a rir.

Existe aqui uma situação que "quebra" uma expectativa de que pessoas mais velhas são sempre "sábias" e que sempre vão trazer ensinamentos baseados em alguma disciplina, com grandes discursos e "recomendações". Mas, na frase desse senhor, há uma outra perspectiva: é de um mais velho brincalhão e que traz risos para si e para a repórter.

Em velórios, é possível presenciar um grupo de pessoas mais velhas que começam a dar risadas e isso vai contagiando o ambiente. Mesmo falando baixinho, misturam gargalhadas com olhos ainda marejados de lágrimas.

Seria um desrespeito ou uma forma amorosa de lembrar da alegria que a pessoa ali, dentro do caixão, trouxe para as suas vidas? Quantos momentos alegres essas pessoas mais velhas compartilharam? Pensando dessa forma, o riso é de gratidão pelos momentos de vida tão bem vividos juntas!

O humor muda e varia de acordo com a nossa sensibilidade e valores sociais vigentes na época. Para o escritor Fabrício Carpinejar, a sociedade fala mal dos contentes. Acrescento que a sociedade tem pavor e muito estranhamento de pessoas mais velhas que dão suas risadas e gargalhadas de forma livre, em qualquer espaço público ou privado!

Que possamos criar um mundo com mais risos e gargalhadas, de todas e de todos, sem qualquer distinção ou julgamento! A risada salva, traz saúde e melhora a socialização! Continue aí você a elencar e sentir os outros benefícios que a risada pode trazer!