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O mais velho venceu: o que esperar do novo presidente do Brasil?
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O mais velho dos candidatos e candidatas à presidência venceu.
Foi uma vitória importante e que superou o medo da perda da democracia do país.
Uma vitória que traz a esperança diante da miséria que cresceu absurdamente nesses últimos anos.
Uma vitória que poderá trazer grandes esperanças para pessoas que estão com 60 anos ou mais e também para aquelas que chegarão à velhice nesses próximos quatro anos.
Mas não foi fácil.
O candidato eleito sofreu com a morte da companheira, do irmão e, nesse último, sem o direito de acompanhar o seu enterro, um ritual típico no nosso país. Houve o descumprimento da Lei de Execução Penal que prevê o direito humanitário, ou seja, nas condições em que Luiz Inácio estava, haveria a permissão para acompanhar o enterro e dar um último adeus.
Mas a morte do neto pode ter sido a mais dolorida. E nessa, o avô Luiz, também não pôde estar presente para, como o mais velho da família, levar o acolhimento e a força para que pais, tios, primos e amigas de seu neto pudessem suportar tamanho sofrimento. Só os avós sabem dimensionar o impacto da morte de um neto ou de uma bisneta em suas vidas.
Foi necessário ouvir milhões de desaforos que ultrapassaram facilmente "as quatro linhas" do campo da política. Ouviu, de um outro candidato, que estava velho demais para aguentar todo o processo de campanha eleitoral. Sofreu a discriminação etária, ainda que fosse o mais experiente e com mais tempo de atividade na função para a qual se candidatava.
O candidato eleito soube se comportar adequadamente perante o público que queria ouvi-lo e também diante daquele que não fazia tanta questão. Foi uma vitória que não agradou milhões de brasileiros e brasileiras. E esse talvez seja um dos maiores obstáculos dos primeiros meses de gestão do presidente Luiz Inácio.
Trata-se de um velho que chega mais uma vez à presidência, contrariando as estatísticas de que ensino superior e família rica são pré-requisitos para governar e, como ele mesmo diz, para cuidar desse país!
Não escrevo essa coluna com a intenção de desrespeitar ou gerar qualquer sentimento negativo para quem torcia contra a vitória de Lula. O direito para o não querer é democrático, é legal. Entretanto, um novo governo é capaz de renovar as esperanças para uma gestão com mais diversidade, que é outro desafio.
Infelizmente, ainda não conseguimos ver, em qualquer outra gestão presidencial da história do Brasil, a presença de representantes dos mais diversos grupos sociais que constituem a sociedade brasileira e que estão em todas as partes e áreas, com suas competências e currículos prontos para assumir cargos que nunca lhes foram destinados.
Outro desafio para o mais novo presidente é a redução das desigualdades. Nos últimos anos, o aumento da distância entre as pessoas mais ricas e aquelas mais pobres serviu para tornar ainda mais complexa a governança deste país.
Em relação ao grupo populacional que mais cresce no maior país da América do Sul, que possamos esperar um governo no qual assuntos relacionados ao envelhecimento sejam colocados sobre à mesa e discutidos a partir de uma agenda e com um orçamento que garantam ações e programas para milhões de brasileiros e brasileiras.
Cabe a preocupação com a condição de saúde das pessoas idosas. Ela precisa ser reorganizada a partir dos mais atuais saberes que tiram o foco essencialmente da doença e compreende que viver é, além de chegar aos 80 ou 100 anos, ter qualidade de vida com menos dificuldades para a realização das atividades cotidianas. E isso envolve ações intersetoriais, como ajustes dos espaços públicos, principalmente quanto aos aspectos de acessibilidade e oferta de espaços onde se possa desenvolver atividades de socialização, lazer, de práticas corporais e de aprendizagem.
Para o novo presidente, que procure devolver e ampliar o direito ao trabalho digno para pessoas mais velhas, com mais empregabilidade, como capacitação para as novas demandas do mercado e, inicialmente, com mais estímulos fiscais para instituições que se comprometam a ter mais pessoas idosas no seu quadro de colaboradores.
Que o novo presidente pense na moradia digna que muitas pessoas mais velhas ainda não têm e que esperam conquistá-la antes de morrerem. Que a moradia esteja em uma rua sem tantas e intransponíveis barreiras arquitetônicas. Um programa que envolvesse União, Estados e Municípios na construção de boas calçadas nos milhares de municípios brasileiros, seria uma ótima sinalização de um começo de gestão focada nas pessoas mais velhas e em tantas outras milhares de pessoas com deficiência.
Que Lula se lembre das milhares de pessoas idosas quem vivem sozinhas, abandonadas por seus familiares ou pelo Estado. Um programa intersetorial precisa ser construído urgentemente para atender todas as necessidades dessas pessoas que sofrem de ausências: ora da comida, ora do teto, ora de alguém para conversar, ora de alguma atividade prazerosa para se fazer.
As pessoas mais velhas pensam muito nos seus descendentes que veem ameaçadas suas próprias possibilidades de envelhecer bem. Das filhas até os bisnetos, o medo de não se aposentar está se convertendo em uma triste realidade. As garantias trabalhistas vão muito mal e a maioria que hoje chega aos 60 anos chega mal, sem poder pensar em descansar ou em desacelerar o seu ritmo de trabalho. Financeiramente, a vida de pessoas idosas e de muitos de seus familiares está muito ruim. Os boletos se tornaram "gatilhos" que trazem insônia e muita desesperança.
Tenho orgulho da vitória do mais velho, mas me preocupa a chance da perpetuação das práticas idadistas que mantêm a discriminação contra as pessoas mais velhas. Ainda que Lula seja um idoso e tantas outras pessoas eleitas também, até o momento, não se observou uma articulação forte para reduzir esse problema que começa na educação infantil e chega até a fase final da vida de qualquer pessoa.
Ao derrotado, nada de pensar que a vida já acabou, como já pronunciado em uma de suas falas durante a campanha para a reeleição. Sempre haverá tempo para aprender, rever atitudes e pedir desculpas.
Caro presidente, o protagonismo para pessoas mais velhas começa quando essas podem ser ouvidas no seu lugar de fala, de vivência, de sofrimento e de expectativas. O Brasil precisava mudar! Que esse mais velho, eleito pela maioria da população, governe para toda a sociedade e possa nos mostrar que a maturidade, as experiências profissionais anteriores e o convívio com pessoas de outras gerações são capazes de melhorar a condição de vida de todas as pessoas que residem nesse território!
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