Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O alívio na despedida e seu benefício na longevidade
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Recentemente, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, pediu perdão ao presidente eleito Lula que, quando ainda preso em Curitiba, foi impedido de comparecer ao velório de seu irmão, Genivaldo Inácio da Silva, ainda que existisse uma lei concedendo essa permissão.
Esse assunto já foi tratado aqui. Cabia ao juiz a autorização para este fim. No entanto, outros juízes e a Polícia Federal manifestaram-se contra.
Segundo Dias Toffoli, em um encontro recente com o presidente eleito Lula:
O senhor tinha direito de ir ao velório. Me sinto mal com aquela decisão, e queria dormir nesta noite com o seu perdão.
A situação ocorrida, que impediu um último "adeus" entre irmãos, além de injusta foi também violenta. E cabe aqui uma reflexão sobre quantas pessoas, injustamente, não conseguem dar o último adeus às pessoas que amam.
O quanto milhares de mães e de avós que não conseguem dar o último adeus a um filho ou a um neto. Ou também a situação de muitas filhas, filhos, netas e netos que não conseguem dar o último adeus para o seu mais velho, seja uma mãe, um pai, um avô ou uma avó.
E quantas práticas e decisões unilaterais no campo da saúde são pautadas apenas na interpretação de profissionais não comprometidos com a humanização do cuidado, como na decisão de desligar ou não um aparelho que mantém uma pessoa viva?
Essa pessoa, ainda doente e no hospital, pode ter a condição inviabilizada para a despedida de familiares e de tantos amigos queridos, que a acompanharam quando tinha saúde e quando foi adoecendo e agora acaba de morrer.
Seria possível a liberação de visitas no quarto onde essa pessoa estava internada? Cabia a alta para voltar para casa e ali ter seus últimos momentos na companhia de pessoas queridas?
Não é novidade que, para diversos povos, é fundamental que exista o ritual da despedida. Este ritual é um momento de encerramento, de fechamento de um ciclo ou de uma fase da vida. E não executá-lo pode deixar grandes lacunas tanto para a pessoa que vai, na perspectiva espiritual, como também para as pessoas que ficam, pois sentem que algo essencial não foi, de fato, concretizado.
Já não seria o momento de levar mais a sério a necessidade de oportunizar as despedidas, principalmente nos momentos que envolvam pessoas mais velhas? Como é que os serviços e instituições poderiam estar prontos para ofertar aquele último encontro do marido com a esposa, dos filhos com os pais ou dos netos com a avó?
No momento da pandemia, presenciamos, por milhares de vezes, as cenas de decepções, frustrações e tristezas de muitos familiares que não puderam fazer o ritual de despedida, segundo as suas crenças e valores religiosos.
E isso, no curto ou médio prazo, poderá trazer grandes consequências físicas, emocionais e espirituais para as pessoas que estão por aqui, no planeta, já que muitas pessoas podem acreditar que a vida continua em outros mundos. E isso precisa ser respeitado.
Dias Toffoli teve a oportunidade de se encontrar com o presidente Lula e pedir perdão, o que pode ser reparador e servir de consolo. Foi a oportunidade de pedir perdão e, sendo perdoado, ficar mais em paz. Resta saber se Luiz Inácio perdoará uma pessoa que impediu esse fechamento de ciclo.
E quantas pessoas já agiram da mesma forma que o juiz e em nenhum momento pensaram em pedir perdão? E pode ser que essas pessoas ainda acreditem que fizeram o melhor ao impedir a despedida de uma pessoa que se foi, seja para outro país, outro estado ou outro mundo?
Quantas demissões ocorreram de forma fria e remota e impediram que o trabalhador ou a trabalhadora pudesse se despedir das pessoas com quem passava quase metade do seu dia de vida, do seu lugar de trabalho, muitas vezes abençoado, seja por um objeto ou por uma oração (aquele mesmo local que foi a fonte de dinheiro para a realização de muitos de seus sonhos!). E tudo isso pode adoecer ou gerar um vazio, uma incompletude.
E nas mais diversas situações da vida cotidiana, quantas despedidas eram necessárias para a eliminação de mal-entendidos, de desavenças familiares, de ofensas proferidas em momentos de muita raiva, mas que nunca representaram o real afeto existente entre duas pessoas? E quem ficou com o sentimento de tristeza ou de arrependimento pela partida ou o afastamento, em definitivo, dessa pessoa?
O período de final de ano é, para muitas pessoas, uma oportunidade para pensar sobre isso, Muitas vezes, aquele prato salgado ausente na mesa simboliza essa situação. Outras vezes, é aquela ligação telefônica que nunca mais ocorreu.
E ficar mais velho ou mais velha nessa condição faz com que a urgência para uma despedida, que pode até virar uma reconciliação, tenha que ocorrer o quanto antes.
Por isso, não deixe a oportunidade de se despedir de alguém ou de alguma situação. E também não impeça que outras pessoas possam se despedir a partir de uma atitude sua, seja uma carona, uma assinatura, uma troca de plantão ou até um fingir que aquilo não está acontecendo nas suas costas.
É uma oportunidade que você tem para ficar em paz e feliz pela atitude que teve.
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