Quebrando mitos: a individualidade da dieta carnívora em um atleta
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Indo na contramão do que vemos em congressos, matérias, estudos e bibliografia, um atleta brasileiro está fazendo sucesso em provas de ultramaratona mundo afora. O atleta Alessandro Silva de Medeiros, 51, está morando fora do Brasil há alguns anos, e desde que decidiu modificar sua alimentação, com auxílio de sua nutricionista Leticia Moreira, relatou estar em sua melhor performance. E, diga-se de passagem, de fato suas conquistas estão provando e comprovando que a individualidade deve ser sempre respeitada para que o melhor de cada organismo seja otimizado, sempre de forma individualizada e personalizada.
Alessandro hoje se alimenta única e exclusivamente de carnes, vísceras e proteínas animais. Nada de frutas, nada de vegetais, nada de legumes... Imaginou?
A dieta carnívora é uma das opções alimentares que vem se mostrando cada vez mais escolhida por milhares de pessoas pelo mundo, sejam atletas ou amadores, e esta estratégia alimentar se baseia na alta concentração e consumo de proteínas, gorduras (provenientes dos alimentos, e geralmente saturadas) e baixíssimo teor de carboidratos, já que estes são encontrados em baixo valor nos alimentos de origem animal. Antes de procurar o Alessandro para entrevistar, li seus laudos genéticos e exame de microbiota intestinal (da ProBiome) que revela o desequilíbrio ou equilíbrio dentre todos os microrganismos presentes na nossa microbiota intestinal. Quando em desequilíbrio, este exame consegue fazer relações entre o estado de saúde do paciente, sintomas, sinais, alterações inclusive de comportamento, comportamento alimentar, perfil inflamatório ou anti-inflamatório, doenças existentes ou predisposição para tais doenças, devido ao perfil de microrganismos presentes na coleta de suas fezes.
Eu já escrevi matérias bem completas aqui pra vocês sobre a saúde intestinal, sobre o eixo intestino-cérebro, e cada dia que passa sabemos mais e mais na literatura sobre como nossa microbiota afeta nossa saúde no geral, de forma sistêmica, seja para o bem, seja para o mal.
E porque a matéria traz essa chamada então? Pois, indo contra o que achamos de concreto na ciência, o Alessandro possui uma microbiota em equilíbrio, mesmo se alimentando conforme tudo que já sabemos estar relacionado a desequilíbrio da microbiota intestinal.
O alto consumo de carnes vermelhas, carnes, gordura saturada e baixo consumo de fibras é o principal fator a ser relacionado a doenças inflamatórias intestinais, doenças coronárias, doenças metabólicas e surgimento de câncer, principalmente de intestino, fígado e estômago. Mas aqui fica um sinal de alerta: dentro das especificações individuais de cada doença, vale lembrar que o consumo de proteína animal pode ser amplamente indicado, visto que são proteínas completas, assim como a gordura saturada já é aliada inclusive dentro do tratamento de pacientes com doenças coronárias. E a ressalva é exatamente essa: é a sua equipe médica que vai te orientar quando à individualidade do seu caso.
Alessandro hoje mora nos EUA, radicado, e tem uma rotina intensa de treinos em duas sessões ao dia e é o primeiro atleta no mundo a fazer 100 milhas sendo carnívoro.
Bom, iremos aos fatos, e análise dos laudos que me foram enviados: segundo sua análise Nutrigenética (exame realizado: Multigene), ele possui riscos de desenvolver doenças que estão exatamente ligadas ao seu estilo de vida, como alto LDL, baixo HDL e alto triglicerídeos, que somados, são os fatores causadores de dislipidemia. Também vemos em seu exame nutrigenético, um escore genótipo aumentado para hipertensão arterial e inflamação. O teste nutrigenético avalia o DNA de cada indivíduo, e seus polimorfismos, genótipos relacionados a prevalência e predisposição de doenças que estão presentes em seu DNA, mas que podem sofrer alterações e serem 'diminuídas' conforme o estilo de vida e alimentação, ou seja, a relação entre o alimento e o seu organismo, individualmente. Bem como o exame da microbiota. Realmente, o Alessandro e sua equipe investiram muito na investigação do estado de saúde do atleta para que confirmem o estilo de vida do mesmo.
"Eu sempre digo que eu era um atleta 'doente', inchado, inflamado, com fadiga crônica e com dores musculares intermináveis e hoje sou um atleta com saúde. Estou chegando a aproximadamente 30 anos de esportes de endurance e posso afirmar que estou aí na minha melhor forma física e mental. Não me recordo da última vez que fiquei doente, nunca parei de treinar e trabalhar na pandemia e até o momento não tive o covid. O humor não sofreu nenhuma alteração e o sono é totalmente reparador (no início da readaptação pode ter sim alterações acredito muito pela produção dos corpos cetônicos)"
No caso exclusivo de Alessandro, podemos ver que a sua predisposição está em alerta, mas sendo atleta de Ultraman — modalidade ainda mais intensa que o Ironman —, o próprio estilo de vida, resposta inflamatória e recuperação causadas pelos exercícios intensos e a suplementação utilizada para tal feito pode estar modulando essa capacidade "previamente escrita" em seu livro da vida, que é o DNA.
O que está em jogo aqui: até quando o organismo de Alessandro, um homem atleta de alto rendimento, com 51 anos, conseguirá manter-se em alto consumo proteico e com perfil lipídico elevado? Quais serão as resoluções da ciência quebrando regras definidas com base em milhões de casos e bem documentados?
Eu, como profissional, gosto sempre de visualizar o cenário amplo, sistêmico e no futuro. O perfil de Alessandro e o que sua equipe estão conseguindo realizar, no momento em que se é atleta, é incrível, e isso não vem baseado na vontade, no bate-papo curto ou em uma visita clinica de uma hora. Mas sim, lendo, relendo e observando cada detalhe dos seus exames atuais, e friso bem aqui: atuais.
Não são exames comparativos com quem Alessandro era há 30 anos, ou exames que preveem seu futuro, mas aquilo que está escrito hoje e acontecendo hoje no seu corpo, e que poderá mudar a partir do momento que suas atividades mudam, idade muda, composição corporal muda. E também sabemos como a rotina, estilo de vida e alimentação modulam nossa condição genética, sendo assim, tanto os exames da microbiota quanto os exames genéticos, podem ser modulados positiva ou negativamente.
Afinal, como é a dieta carnívora e a rotina de Alessandro?
"Treinos pela manhã sempre em jejum (independente da intensidade ou volume) o café da manhã são 10 ovos que são acompanhados de carne moída, miúdos, bacon. Almoço são carnes bovinas e no jantar carnes bovinas e por volta de 6 ovos. Os peixes, frango, eu evito porque não me traz saciedade".
Valores energéticos aproximados:
Dieta de 4300 kcal
Carboidratos: 7,71 gramas - 0,11 g/kg (exclusivamente provenientes dos alimentos de origem animal)
Proteínas: 412,77 gramas - 5,98 g/kg
Lipídeos: 284,08 gramas - 4,12 g/kg
Como foi a transição? "Começou-se pelo lowcarb, passando para cetogênica e então carnívora."
Dê exemplos de como as pessoas podem se inspirar em sua dieta carnívora, ou fazer trocas em suas rotinas:
"Então, a maravilha de ter esse estilo de vida é que não precisamos ficar comendo o tempo todo, as proteínas e gorduras animais ficamos extremamente saciados, mas se bater uma fome as opções são: ovos de codorna e bacon, são bem práticos e deliciosos."
Alguém na sua família possui alteração de peso, dislipidemias e doenças crônicas não transmissíveis? "Minha família tem histórico de diabetes tipo 2 e também cardíacos."
Independente da dieta escolhida para seguir, qualquer que seja o objetivo, tratamento, perfil atlético, o indivíduo deve sempre buscar pelo auxilio profissional, como o Alessandro bem fez, assim, mesmo sabendo de suas condições genéticas, ele poderá sempre buscar pela melhor performance individualizada a ele e ao perfil dele, e com o passar do tempo, saberá adequar conforme as mudanças da composição corporal, necessidades, idade, etc.
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