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Taise Spolti

Cuidado com o consumo de adoçantes: você pode estar sendo enganado

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

21/08/2022 11h33

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No dia 19 de agosto, foi divulgado um novo estudo na revista Cell, associando o uso de adoçantes dietéticos com alterações intestinais. A nossa microbiota intestinal, assim como as outras microbiotas presentes no nosso organismo, desempenham papéis importantíssimos na síntese de nutrientes, absorção de compostos importantes para nosso organismo, e, principalmente, defesa contra microrganismos patológicos.

A microbiota intestinal sofre com a interferência de tudo a que estamos expostos: poluição, contaminação de água e alimentos, dieta, estresse, medicamentos, e além de toda lista que já conhecemos, agora, com mais este estudo, podemos incluir na lista a interferência da nossa saúde intestinal através do consumo de adoçantes.

Você deve estar agora se perguntando: "Mas eu não tenho o hábito de consumir adoçantes mesmo... como isso tem a ver comigo?"

Nossa alimentação está enfrentando uma transição, que se iniciou há alguns anos, e que se encaminha cada vez mais para o perfil altamente industrializado, com isso, você, querendo ou não, notando ou não, está consumindo adoçantes. E pior, adoçantes sintéticos.

Com essa informação em mãos, aliado a essa confirmação pelos cientistas de que nossa saúde intestinal é afetada amplamente com o consumo de adoçantes, devemos então ficar em estado de alerta, já que muito da nossa condição geral de saúde depende da boa saúde intestinal. E como sabemos, o consumo de adoçantes está mascarado.

Você pode estar optando por alimentos com o slogan de saudável, com aquela mensagem de que tem menos calorias, que é integral, que tem menos açúcares, que é rico em proteína, mas na verdade, na lista de ingredientes, você está consumindo um alimento ultraprocessado e com uma lista de pelo menos cinco ingredientes químicos: edulcorante (o mesmo que adoçante, pois tem papel de adoçar), conservantes (geralmente em duplas), emulsionantes, corantes, e o clássico 'antimofo', ou então um estabilizante, um antioxidante, e a lista segue longa.

Quando o consumo desses alimentos é baixo, o risco também é baixo, mas o que nos preocupa é que o consumo vem cada vez mais aumentando em todas as famílias, que podem encontrar nesses alimentos ultraprocessados o valor mais em conta para o alimento da família, frente a carne pura, um arroz de boa procedência ou alimentos naturais.

Obviamente que isso gera uma discussão bem ampla sobre desigualdade social, mas vou me conter no que diz respeito a coluna: a sua saúde está sendo afetada por perigos escondidos que você não está percebendo.

E um dos alarmes está aqui: na sua microbiota intestinal, e em como todo seu corpo responde a isso.

E como ele responde?

Basicamente, e de forma simples, a disbiose —descontrole no crescimento de microrganismos patológicos na sua microbiota intestinal, que diminuem e impossibilitam a defesa do organismo com os microrganismos benéficos, atrapalham sua síntese de nutrientes, absorção de nutrientes importantes para o funcionamento metabólico, neurológico e até comportamental— mais fome, menos saciedade, tendencia a adição e vícios, mudanças do comportamento.

Mas esse termo engloba uma série de fatores importantes a serem discutidos, como a resistência microbiana a Escherichia coli, efeito bacteriostático na espécie dos streptococcus, ambos comprovadamente resultantes do consumo da sucralose.

Os adoçantes geralmente passam pelo trato gastrointestinal sem serem completamente digeridos, chegando de forma mais integra ao intestino, e lá, causando essas interferências na cultura microbiana. Das mudanças significativas que este estudo observou, destacam-se:

Alterações na percepção de doce e amargo, alteração do sistema imunológico, estimulo para crescimento de microrganismos e espécies patológicas, inibição de espécies benéficas e alterações de fatores intermediários. E não para por ai, a microbiota oral também foi afetada.

O consumo desses adoçantes, que são sacarina sódica, aspartame, stevia e sucralose (mas podemos incluir outros, que não estão no estudo, mas que são edulcorantes amplamente utilizados na indústria: acesulfame-k, sorbitol, xilitol, ciclamato, manitol, isomalte, taumatina, maltitol), estão diariamente na alimentação de quase todo mundo, seja no biscoito, no pão integral, na bebida láctea, até em embutidos, temperos e condimentos.

Outra condição importante de se alertar, é de que a escolha pelo consumo dos adoçantes geralmente é feita, e indicada, para que o consumo do açúcar seja reduzido. Este, por sua vez, é tão maléfico quanto o adoçante, pelas quantidades que são ingeridas.

Veja bem, enquanto com um você coloca duas gotas, com outro, você precisa de duas colheres. Além disso, o uso do adoçante não se mostrou tão efetivo no controle metabólico, já que a microbiota tem papel fundamental na saúde metabólica, e o consumo de ambos (açúcar e adoçante) estão presentes na síndrome metabólica, obesidade, e descontrole da glicêmica por exemplo, um perigo para diabéticos, que está consumindo adoçante para que não hajam picos de insulina, porém, o que se sabe até então, é que o adoçante também altera a glicemia (especificamente no caso da sacarina e da sucralose).

Bom, que o consumo de açúcar é um ponto crucial a ser sempre destacado nas orientações para a boa saúde, prevenção e tratamento de doenças, isso não se discute, mas o que fica é que a mudança de hábitos deve estar realmente como base para que tratamentos sejam eficazes.

Pois, penso eu como profissional da nutrição, o paciente que busca pelo paladar doce, assim o fará com o adoçante, não mudando em nada seu consumo de alimentos doces, mesmo com o a indicação do adoçante, então, que com o tempo de tratamento, o paciente mude seu comportamento pela busca do doce, reduzindo tanto o açúcar, quanto o adoçante, e assim, realizar a manutenção da doença preexistente, ou então, prevenção.