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Taise Spolti

O que todos os pacientes com câncer de intestino têm em comum?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

19/01/2023 04h00

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Um assunto que tomou conta da internet nas últimas semanas foi, com certeza, a incidência de câncer de intestino, visto que muitos famosos foram diagnosticados, e outros, vieram a falecer. Porém, tantos outros milhares ainda estão na luta diária.

Os dados são alarmantes: segundo Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de intestino ocupa o quarto tipo de câncer mais comum no Brasil, sendo o terceiro mais comum em homens. Estima-se ainda que a partir de 2023 esse número aumente ainda mais, cerca de 12% a mais de casos.

Existem correlações entre os cânceres e o estilo de vida de um indivíduo. Por mais que hoje nossa sociedade tenha acesso a mais informações, mais literatura, mais ciência acessível com dados abertos a todos, ainda assim encontramos resistência da população sobre o conhecimento de que suas atitudes podem aumentar os riscos de determinadas doenças e condições. O câncer é uma delas.

O que todo paciente com câncer de intestino possui é o histórico de maus hábitos alimentares ou de vida. Mesmo em raríssimos casos infantis, existe uma condição genética favorável, e os hábitos alimentares herdados da família. O câncer de intestino em crianças se torna mais raro (cerca de 1 a cada 100.000 casos), e o processo de formação do câncer é outro fator que justifica o hábito alimentar na infância: a malignização das células que formam os pólipos intestinais, processo que pode demorar aproximadamente 10 anos.

Justamente por isso, uma das orientações para adultos, até então, é que a cada 10 anos façam exames investigativos, principalmente quando há histórico familiar de câncer, histórico patológico do paciente (como internações, infecções repetitivas, doenças e condições intestinais ao longo da vida, uso de antibióticos e medicamentos contínuos, entre outros) e, o mais determinante, maus hábitos.

O hábito alimentar é, com toda certeza, o fator determinante para que o câncer de intestino se instale, ou, mesmo com predisposição genética, que ele nunca apareça na vida do indivíduo. A cada década de vida a pessoa tem a responsabilidade de mudar alguns hábitos de vida que favoreçam o aparecimento do câncer de intestino, principalmente se o mesmo já tem em seu histórico as condições que mencionei anteriormente.

Pode parecer rude, mas quando se trata de um aviso profissional a um paciente, temos que ser sérios e incisivos, mesmo que, infelizmente, o paciente, sabendo do que precisa ser feito, vá lá e continue fazendo errado.

O Ministério da Saúde no Brasil, com algumas políticas públicas tomadas há anos, e com a criação do Guia Alimentar Para a População Brasileira, virou exemplo em todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nesse guia de fácil leitura o brasileiro recebe gratuitamente todas as orientações que levam a uma vida saudável, sem precisar ter maiores gastos financeiros em sua estrutura familiar.

É de entendimento geral e comum que se alimentar com ultraprocessados, comer poucas fibras, tomar pouca água, consumir muitos açúcares, consumir álcool, automedicar-se e não realizar exercícios físicos é perigoso, é maléfico, e são hábitos que levam a inúmeros tipos de doenças. Dizer que não sabe é ignorância (do verbo ignorar, aquele que ignora informações).

São necessários anos de maus hábitos para que algo se torne crônico, para que uma doença crônica se instale, para que um câncer de intestino apareça. E o contrário também é verdadeiro: são necessários anos de bons hábitos para que a saúde se torne algo crônico, para que condições patológicas se tratem de forma efetiva.

Existem alguns sinais de que a saúde intestinal não está nada bem, e você deve ficar de olho nisso, em qualquer idade:

  • Constipação como o seu padrão: existem pessoas que passam anos assim, desde a adolescência, ou como contam em consulta, desde a infância. A constipação crônica é um grande sinal de alerta e deve ser investigado, as causas da constipação podem ser diversas, como distúrbios de motilidade intestinal, disbiose, síndrome de intestino irritável, má absorção de nutrientes, consumo alto de carboidratos e gorduras, entre outros.

  • Episódios de diarreia constantes e frequentes: a diarreia crônica é classificada naquele indivíduo que tem aumento na frequência das evacuações, consistências moles ou líquidas, e que tem duração de mais de quatro semanas. Porém, existem pacientes que, apesar de não se classificarem como pacientes com diarreia crônica, possuem episódios semanais ou frequentes de diarreia, durante anos de sua vida. Isso pode se dar pelo distúrbio de motilidade mencionado acima, mas mais claramente está envolvido aos maus hábitos alimentares e intolerâncias alimentares, nas quais o paciente insiste no consumo de determinado alimento --mesmo com intolerância-- e esses episódios de diarreia ocasionam na perda de enzimas importantes, vitaminas, causam processos inflamatórios e podem estar ligados ao leaky gut (intestino permeável)..

  • Estufamento, eructações e dores na região do abdome: pacientes que mencionam frequentes acessos a formação de gases, dores no abdome, arrotos (eructações), má digestão de alimentos, dores de cabeça frequentes são pacientes que já sabemos estar passando por uma condição patológica intestinal. A investigação se dá pelo motivo de entender em qual estágio o paciente está, e qual tratamento ou intervenção deve ser feito de forma imediata para evitar o progresso/evolução para uma doença como o câncer.

  • Paciente que fuma, come ultraprocessados diariamente, bebe álcool com frequência: esse paciente é um candidato ao câncer, não somente de intestino, mas de outros. Com o foco no câncer de intestino, esses hábitos são capazes de criar um ambiente inflamado, intestino permeável, infiltração de toxinas do intestino e outras substâncias e microrganismos patogênicos para fora do intestino. Isso, a longo prazo, cria um ambiente nada positivo, nem para o intestino, nem para outros órgãos próximos que receberão cargas toxicas de forma crônica.

  • Hereditariedade: apesar de a hereditariedade não ser um fator decisivo hoje em dia, ter a carga genética torna o surgimento de câncer muito mais fácil. Por que não é fator decisivo? Na epigenética conseguimos modular, através de ações do ambiente (como os hábitos), silenciar ou ativar determinados genes que se encontram em nosso DNA. Isso quer dizer que, mesmo tendo como hereditariedade determinado câncer, com o uso da informação que temos hoje --principalmente no que diz respeito à suplementação e alimentação-- poderemos silenciar o gene do câncer de intestino e evitar que ele apareça ao longo da vida. Assim como, poderemos, com atitudes negativas, antecipar o surgimento dele. Uma doença que poderia surgir ou ser facilmente evitada após os 65 anos poderá surgir aos 30, 35, 40...

Se você se encaixou em qualquer dado citado acima, fale com seu médico ou nutricionista, existem alguns exames que podem ser realizados e que ajudarão a mapear o estado de saúde do seu intestino, prever possíveis patologias ou condições. Quanto antes você iniciar a prevenção, ou tratamento, maiores as chances de cura e remissão de doenças.

Alguns exames que podem ajudar a você a conhecer melhor sua saúde intestinal e que irão facilitar o diagnóstico:

  • coprologico funcional e sequenciamento de DNA da microbiota;
  • calprotectina fecal;
  • parasitológico de fezes;
  • hemograma;
  • provas inflamatórias;
  • teste de DNA.