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Taise Spolti

É tempo de vinho: dá pra consumir sem medo?

Silberkorn/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Silberkorn/Getty Images/iStockphoto

Colunista de VivaBem

22/04/2023 16h17

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Frio já chegou no Sul, inclusive já andou nevando na serra catarinense. E como sabemos, algumas bebidas são muito típicas do frio, mas é grande o número de pessoas que consome vinho no calor também.

O que sabemos sobre a interação entre o vinho e a nossa saúde?

Muito além dos polifenóis que já conhecemos, o vinho é uma bebida fermentada que, assim como outros fermentados, pode contribuir beneficamente para a saúde intestinal.

Apesar do álcool, já que estamos falando aqui de uma pequena quantidade diária, o que já se conhece é que bebidas fermentadas como o vinho, kombucha, saquê, podem ser auxiliares na produção de enzimas através da biossíntese bacteriana a nível intestinal.

E o álcool? O álcool é de fato um produto para metabolização que não é nada benéfico ao nosso organismo, ainda mais em se tratando de interação com outros nutrientes, bem como suplementos ou medicamentos que o paciente esteja usando.

A metabolização do álcool pode prejudicar a absorção de nutrientes, formação de ácidos graxos de cadeia curta no intestino e também inflamação de tecidos como o hepático. Porém, as baixas quantidades, estão associadas a exatamente o oposto, novos estudos lançados ainda em 2022 mostraram que o baixo consumo de produtos contendo álcool podem estar associados a uma proteção da função cognitiva, além de reduzir possíveis danos resultantes de inflamação crônica de baixo grau.

Qual a dose segura? Lembra-se do "um cálice por dia", pois bem, o cálice segue sendo a dosagem ideal, sendo em mL, entre 35 mL podendo chegar a 140 mL (conforme a Secretaria Nacional de Politica Sobre Drogas).

Nem todo álcool é igual! Bebidas destiladas, como gin, vodca, uísque, possuem um teor alcoólico muito mais alto quando comparado a outras bebidas alcoólicas como vinho, cerveja e frisantes, ou até mesmo a própria kombucha, que resulta em um teor alcoólico de menos de 1%.

Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a kombucha não pode ser considerada uma bebida alcoólica, pois deve-se manter controlado abaixo de 0,5% seu teor de álcool por porção. Porém sabemos que na fabricação caseira muitas vezes esse teor é bem maior.

E quanto ao açúcar dessas bebidas?

Bom, assim como as diferentes bebidas possuem diferentes teores de álcool, o açúcar contido nessas bebidas pode ser, sim, um empecilho para quem deseja se manter na dieta.

A vodca, gin e outros destilados, geralmente são consumidos com outras misturas, sejam energéticos, água tônica, xaropes e biters de ervas, isso aumenta a quantidade de açúcares da bebida, além de que o próprio álcool metabolizado pelo nosso corpo resultará em açúcares, ou seja, o resultado final é o dobro da quantidade de açúcares contabilizados inicialmente.

Já algumas marcas vêm apostando em suas receitas e produções a fim de manter esses teores mais baixos, desde água tônica zero, xaropes sem açúcares, concentrados de ervas e chás ao invés de utilização de frutas, e também, no mundo do vinho, a fabricação de vinhos com redução significativa de álcool e açúcares, já que o processo de substrato para fermentação é muito menor, isso acaba resultando em uma bebida intensa, com mais acidez e com menor teor de açúcares e, consequentemente, calorias.

Este é o caso da linha Belight, recentemente lançada no Brasil pela Casillero del Diablo (da vínicola chilena Concha y Toro), que entrou no mercado com duas versões de vinhos com teor alcoólico menor em até 32% e com 42% menos açúcares, na porção de 100 mL, comparado a outros vinhos e bebidas.

Na versão vinho branco, a uva utilizada é a Sauvignon Blanc e na versão rosé, a uva Cinsault (eu provei os dois e garanto que entregam o prometido, tanto em sabor como na adequação alcoólica e dietética).

Para saber: 50 mL de uísque, gin ou outro destilado tem até 42% de granulação alcoólica e 147 calorias por porção. Já no caso de outras bebidas, como o próprio vinho tinto, branco ou rosé, chegamos a 12% ou 14% de álcool, até 3 g de açúcares, e 90 a 100 calorias por porção de 100 mL, no caso desse lançamento da Casillero del Diablo, as porções de 100 mL ficam entre 8,5% de álcool, menos de 0,5 g de açúcares e 58 calorias (dados obtidos da Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos - USP).

Boa notícia para quem gosta de vinhos, mas não abre mão de se manter em dieta ou com alimentação mais saudável e equilibrada.

A fermentação é antiga, oferece muitos benefícios ao corpo humano como já citei anteriormente, e que já é bem conhecida na ciência e em diversas culturas: fermentado de soja, chucrute, kimchi, missô, kefir, queijos, entre tantos outros produtos de centenas de anos já usados pelo ser humano, e que atualmente mostram efeitos benéficos para o sistema imune modulado pela microbiota, melhor absorção de nutrientes e biossíntese bacteriana.

Cabe ressaltar: estamos aqui falando de consumo moderado de todo tipo de fermentado, principalmente quando há teor alcoólico, porém, como também já sabemos, o extremismo e terrorismo nutricional está longe de ser uma prática benéfica à nossa saúde física e mental.

Comprovadamente —e neste final de semana houve atualizações em congressos internacionais de saúde intestinal e eixo intestino-cérebro—, dietas restritivas podem afetar negativamente a diversidade microbiana dos nossos intestinos, causando alterações em como sintetizamos vitaminas, neurotransmissores, hormônios e enzimas digestivas.

Isso resulta em mais uma vez a prática equilibrada da liberação que reforçamos em nos manter em equilíbrio, alimentando-nos de forma ampla e diversa, salvo quando há alguma patologia associada ou condição em que o paciente deve passar por restrições durante um tratamento especifico.

Vai provar algum vinho ou bebida alcoólica com apelo a vida e prática saudável? Fale com o seu médico e o seu nutricionista.