Taise Spolti

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Opinião

O que não contam a você sobre a cirurgia bariátrica e a cirurgia metabólica

A cirurgia bariátrica é um procedimento claramente seguro. No Brasil, mais de 300 mil cirurgias foram realizadas em cinco anos, apenas pelo SUS. Além das operações feitas no sistema público, há ainda outras centenas de milhares que foram realizadas pelos planos de saúde e de forma particular.

As cirurgias mais realizadas no Brasil são: sleeve e bypass gástrico.

Sleeve Basicamente, é a redução do tamanho do estômago, chamada de gastrectomia vertical. A redução do órgão chega à capacidade de 80 ml a 100 ml, transformando-o em um tubo.

Bypass (ou gastroplastia com desvio intestinal) É a cirurgia mais realizada e estudada. São duas técninas em um procedimento: reduz-se o estômago e realiza-se um desvio da porção intestinal inicial (intestino delgado), aumentando a produção de substâncias que geram saciedade. Nessa técnica, os nutrientes absorvidos pelo organismo caem exponencialmente, o paciente entra em um déficit nutricional pela baixíssima absorção calórica e de nutrientes, como vitaminas e minerais. A perda de peso se dá exatamente por esse motivo, porém, o paciente corre risco elevado de doenças relacionadas a deficiências nutricionais, síndrome de dumping e hérnias.

O que não contam sobre as cirurgias

Seu cérebro vai estranhar a mudança no corpo

Nosso cérebro possui partes importantes que se conectam e formam o que chamamos de 'self' e 'imagem do corpo', um complexo mapa que o cérebro constrói para reconhecer o seu corpo como sendo sua individualidade.

Ao longo da vida, uma espécie de plasticidade neural é moldada. Isso permite que nos reconheçamos no espelho, ou então, pelo mesmo motivo, sintamos o "membro fantasma" em casos de amputação.

Quando o paciente se submete à cirurgia bariátrica, a perda de peso é um processo extremamente rápido, muito mais rápido do que o nosso cérebro consegue realizar a remodelação do "self", ou melhor, da imagem que vê do próprio corpo.

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O trabalho com psicólogos se torna tão indispensável não apenas para o controle dos mecanismos que nos fazem ter vícios alimentares ou comportamentos compulsivos, mas também para que a modificação do próprio corpo seja vista e remodelada a ponto de sermos "aceitos" por nós mesmos.

Seu metabolismo vai diminuir

Devido à baixa absorção nutricional e ao menor aporte de energia (calorias), seu corpo irá realizar ajustes metabólicos para reduzir o gasto calórico, reduzindo atividades que demandam energia —como bater o coração, respirar, produzir hormônios, recuperar tecidos.

De maneira muito simples, o paciente pode entrar em estados depressivos induzidos por esse efeito depressor do organismo.

Quando o paciente possui histórico de depressão, ansiedade, dismorfismo corporal, o acompanhamento psiquiátrico poderá ser indicado.

Como forma de se adaptar à baixa ingesta calórica, ao longo de muito tempo, o corpo irá se ajustar metabolicamente para que o corpo fique mais econômico. É justamente por isso que, ao longo dos anos pós-bariátrica, a maioria dos pacientes sente que a perda de peso se torna penosa, difícil e, mesmo com muito esforço, estagna.

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Isso se dá pela adaptação neuroendócrina, citada antes, em que o metabolismo provoca redução de suas atividades anabólicas e catabólicas a fim de estabelecer o equilíbrio entre o que recebe de energia e o que gasta de energia.

Inicialmente, o paciente tem bastante peso a ser perdido e energia estocada (em forma de gordura). É um processo de choque, por isso a perda de peso é tão expressiva.

Ao passo que o peso reduz e o corpo se adapta, os mecanismos de ação para que haja resultados na perda de peso, manutenção de massa óssea e manutenção da massa muscular se tornam difíceis de serem mantidos.

Você não pode comer mal

Infelizmente, há muitos casos de pacientes que não tiveram acompanhamento antes e depois do procedimento e acabaram entrando na ilusão de que, a partir desse momento, podem comer alimentos não saudáveis de "pouquinho em pouquinho". Já houve relatos de pessoas que seguiam uma dieta à base de mini-hambúrger!

E há pacientas que fizeram o mesmo, consumindo em pequenas quantidades muitas vezes ao dia alimentos que adoravam, como sorvete, brigadeiro e outras sobremesas.

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O paciente pode ter esse comportamento como resposta a uma compulsão. O ato pode também estar diretamente relacionada ao reganho rápido de peso.

É fundamental fechar o "ciclo da bariátrica"

O ciclo da bariátrica se encerra quando o paciente recebe liberação de cuidados e realiza a cirurgia plástica reparadora (que retira excessos de pele). Essa remoção do tecido é ponto fundamental na saúde do paciente, pois reduz processos inflamatórios crônicos que se instalam nessas sobras de pele, além de remover células adiposas vazias restantes, resultado da perda de peso.

Infelizmente, muitos pacientes abandonam o acompanhamento médico, deixando de realizar a cirurgia plástica e fechar o ciclo da bariátrica.

Ter em mente o lado que ninguém conta sobre a cirurgia bariátrica eleva o entendimento e preparo do paciente para o que está por vir, de forma realista, após a cirurgia.

A cirurgia bariátrica salva vidas. Mas, para isso, reforço que o acompanhamento médico, nutricional e psicológico é de extrema importância.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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