Taise Spolti

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Opinião

L-triptofano e 5-htp: para que servem e onde encontrar além dos suplementos

Uma crescente busca por ativos que suprem nossas necessidades diárias vem acontecendo nos últimos anos. Sabemos que a suplementação é um apoio de tratamento muito importante nas diversas aplicações, mas com a cautela de tornar o tratamento ou a prevenção um caminho mais saudável.

Em paralelo com a busca pelas suplementações e ativos naturais que nos tragam bem-estar, há também um crescimento em notificações de afastamento por burnout (síndrome do esgotamento profissional), além de ansiedade e depressão. Há dados inclusive que colocam o Brasil em segundo lugar como pais de maiores casos de burnout, e em primeiro lugar, conforme lista da OMS, de pessoas ansiosas. Esses dados confrontam a linha de crescimento em saúde e bem-estar, novas terapias e abordagens cada vez mais comprovadas cientificamente.

A alimentação é a provedora direta das mais incríveis fontes de nutrientes que nosso organismo depende para exercer qualquer que seja a finalidade buscada, seja bater o coração em contrações ininterruptas, seja respirar fundo, manter-se concentrado em uma reunião, relaxar em frente à televisão, ler um livro ou correr uma maratona. Estar vivo é estar plenamente exercendo atividades internas no seu organismo, nas quais você sequer presta atenção. É uma infinita lista de ações e reações acontecendo sinergicamente à vida.

É quando um distúrbio ocorre que devemos dar mais atenção aos nutrientes que podem auxiliar, seja dando suporte e reequilibrando a reação em si, seja ofertando o ajuste necessário para evitar maiores danos a outras reações em cadeia que ocorrem a partir do primeiro desequilíbrio.

Quando estamos em um ritmo frenético, e a ansiedade, depressão e outros distúrbios podem estar ocorrendo, é de se esperar que os primeiros sinais aconteçam: esgotamento, fraqueza, falta de clareza e foco mental, prostração, queda de energia, queda na performance como um todo. A partir disso, outras funções começam a ser afetadas, como o desempenho nas atividades físicas, o sono que não é mais reparador, os tecidos que não cicatrizam, o comportamento alimentar que muda.

Sendo assim, suplementos muito bem reconhecidos, como o 5-htp e o l-triptofano, voltam a fazer parte de muitas prescrições. Eu digo voltam pois ambos são ativos que já são estudados há bastante tempo, porém, com os casos atuais relatados, mais do que nunca suas prescrições voltam a se tornar intensas em clinicas e consultórios. São muitos os produtos hoje que são enriquecidos com esses ativos, desde cápsulas, sprays, balas (gummies), pirulitos e até chocolate.

Conversei com Leticia Duarte Pscheidt, geriatra, especialista em nutrologia e prática ortomolecular, sobre dois dos ativos que usamos muito em consultório para depressão, ansiedade e outras aplicações, como adicção por doces, por exemplo.

Qual a diferença entre 5-htp e l-triptofano?

A diferença entre o 5-htp e o triptofano, sendo mais direta na resposta para facilitar a compreensão, é que o primeiro já está pronto para ser convertido em serotonina, o que traz uma ação antidepressiva mais rápida, porém isso não o torna necessariamente melhor que o triptofano, e sim que é indicado mais para uso durante o dia e em pacientes com depressão por deficiência de serotonina.

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Já o triptofano tem absorção mais lenta, o que leva mais à indução da melatonina, ajuda no sono e tem efeito calmante. Costumo prescrever mais para uso noturno, em pacientes com insônia ou sono superficial, ansiedade ou depressão atípica (aqueles que têm irritabilidade, mau humor, coração acelerado, impaciência).

Por ser mais facilmente convertido em serotonina, o 5-htp pode agitar ainda mais pacientes que não possuem deficiência de serotonina, isso pode tornar a prescrição para alguns um tanto incômoda, já que ao invés de surtir efeito de bem-estar, poderá intensificar comportamentos adversos como a irritabilidade e até a própria ansiedade, quando o paciente já possui diagnóstico.

Outro caso são pacientes com TDAH, quando possuem produção e conversão de serotonina em níveis ótimos, a suplementação com 5-htp para fins de controle de adicção por doces, por exemplo, ou como auxiliar em compulsão episódica, poderá acarretar em efeito contrário ao esperado, aumentando a irritabilidade do paciente e também a inquietude.

As suplementações com triptofano e o 5-htp, na dose correta, ajudam muito como coadjuvantes no tratamento da ansiedade, depressão e consequentemente melhoram a compulsão alimentar. Claro, questão de dose e via de administração devem ser ajustados de acordo com a necessidade individual de cada pessoa.

Também gosto muito de associar fitoterápicos como a l-theanina, magnésio Inositol, para casos de ansiedade, insônia ou depressão atipica. Assim como a ocitocina para quadros de depressão melancólica.

Lembrando que o intestino tem um papel fundamental para a nossa saúde emocional, pois quase 90% desse triptofano é degradado a nível intestinal, e se o intestino não tiver uma boa permeabilidade, a resposta ao tratamento via oral costuma ser pobre, o que leva à necessidade de iniciar em alguns casos o tratamento injetável até a restauração da saúde intestinal adequada para a absorção dos nutrientes.

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Além da suplementação, muitos alimentos podem oferecer a reposição desses ativos, são eles:

Proteínas: basicamente todas as proteínas são fontes de triptofanos, sendo assim, uma boa dieta com ingesta adequada de ovos, carnes magras, peixes, aves, laticínios, semente de abobora, grão-de-bico fará diferença em todo o tratamento (e não apenas no tratamento isoladamente, mas pela saúde e bem-estar durante toda a vida).

Banana: uma das frutas com maior fonte de triptofano, além de ser doce o suficiente para poder ser incrementada em diferentes preparos e horários do dia a dia.

Chocolate amargo: claro, essa vocês já sabiam, já escrevi matérias aqui sobre o cacau e seu potencial de ação no nosso humor, bem-estar e comportamento perante adicções e vícios. O chocolate amargo é fonte de triptofano facilmente convertido em 5-htp, e age diretamente no controle de agressividade, bem-estar, sensação de relaxamento.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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