Taise Spolti

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Opinião

Jejum ou contar calorias: qual é melhor para emagrecer e controlar diabetes

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo. Estima-se que em 2030 o Brasil contabilize mais de 21 milhões de indivíduos com a doença. Em paralelo, a obesidade e sobrepeso também aumentam.

O diabetes é uma doença crônica relacionada a complicações diretas da obesidade e do estilo de vida de um indivíduo. Obviamente, nem toda pessoa com obesidade terá diabetes de imediato, assim como nem todo diabético necessariamente precisa ter obesidade, mas ambos andam juntos no decorrer dos anos.

As complicações diretas do diabetes se dá pelo mau funcionamento de um órgão essencial ao metabolismo energético: o pâncreas e suas porções endócrina e exócrina. Com o passar dos anos, aumentam os riscos de ganho de peso, descontrole metabólico e má absorção de nutrientes, devido à dificuldade em produzir e secretar enzimas digestivas —capacidades que vão muito além do controle da glicose no sangue, como os pacientes geralmente acham.

Já na obesidade, com o passar dos anos, são inúmeras as complicações metabólicas, surgimento de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, além de câncer. Essas correlações se envolvem ao nível de inflamação no organismo do paciente, dificuldades metabólicas, toxicidade no fígado por meio de alimentos e aditivos químicos, sedentarismo e muito mais.

São muitos os tratamentos para obesidade. O uso de medicamentos off-label (como o uso de medicamentos para diabetes que têm como efeito colateral o emagrecimento) é o que se observa em crescente na sociedade. Mas nem sempre com sucesso, visto que os efeitos dos medicamentos não se sustentam a longo prazo, ou com relatos de pacientes com inúmeras complicações.

Vale a pena? Bom, essa é uma resposta complicada e deve ser avaliada individualmente.

Porém, na contramão dessa demanda, um estudo recentemente publicado na JAMA (American Medical Association), em outubro deste ano, revelou um resultado intrigante: fazer janela de restrição alimentar sem contagem de calorias se tornou mais eficaz do que a contagem de calorias com redução do consumo diário para pacientes com IMC elevado e diabetes tipo 2.

Esse estudo randomizado dá luz a uma pergunta frequente em clinicas médicas, pois o paciente geralmente quer entender qual melhor caminho a se tomar. Essa estratégia está longe de ser uma dieta, distante de ser a cartada final, eu diria, mas poderá auxiliar tanto o profissional quanto o paciente a caminhar longitudinalmente, e com paciência, a um tratamento muito mais eficaz e menos traumático do que reduzir vorazmente as quantidades do que o paciente consome em um dia apenas —já sabemos que isso pode ser gatilho para compulsões alimentares ou distúrbios.

Entenda o estudo

Um grupo de pesquisadores realizou um ensaio clínico randomizado, unicêntrico, de seis meses, na Universidade de Illinois, Chicago (EUA), entre 25 de janeiro de 2022 e 1º de abril de 2023.

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A pergunta principal era: a alimentação com restrição de tempo sem contagem de calorias é mais eficaz para perda de peso e redução dos níveis de hemoglobina em comparação com a restrição calórica diária em adultos com diabetes tipo 2?

Como foi realizado

Os pesquisadores dividiram 75 adultos, em sua maioria mulheres, em três grupos: grupo controle, restrição calórica e alimentação com restrição de tempo (janela de estado alimentado).

Durante os seis meses de pesquisa, o grupo de restrição teve redução significativa de calorias diárias em 25%; já os participantes da janela de estado alimentado tiveram apenas que anotar o horário de inicio e fim do consumo de refeições diárias, comendo de forma livre conforme suas rotinas, mantendo as refeições entre 12h e 20h de um dia, jejuando entre as 20h e as 12h do dia seguinte.

Já o grupo controle foi instruído a manter os hábitos, peso, alimentação e exercícios, conforme o tempo antes do estudo.

Todos receberam instrução de um nutricionista, em reunião prévia ao estudo.

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Para controle da glicemia, foi usado um monitor contínuo de glicose.

Resultados

No sexto mês foi realizada a avaliação dos resultados, e vejam bem, o grupo de restrição de calorias não teve redução significativa de peso corporal (IMC), nem redução significativa de massa gorda.

Já para a hemoglobina glicada, um marcador fiel para controle de diabetes e suas complicações, não houve diferença entre os três grupos, sendo avaliada então a qualidade de adesão do paciente ao tipo de estratégia a ser tomada. Todos os participantes do grupo de janela de estado alimentado acharam mais fácil se manter nessa estratégia do que a redução do consumo total de calorias num único dia.

Até o momento, apenas dois estudos de curto prazo e com poucos participantes foram feitos com o mesmo objetivo: tentar encontrar a melhor estratégia comprovada para o tratamento de obesidade e diabetes tipo 2 sem envolver medicamentos ou mudanças drásticas ao paciente.

O estudo em questão foi o de maior impacto e com resultados significativos para seis meses de intervenção, dando maior potencial de interpretação para os pacientes e profissionais que querem manter estratégias eficientes na mudança do estilo de vida de um indivíduo obeso e na prevenção de doenças e maiores complicações no decorrer dos anos de vida.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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