Taise Spolti

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Opinião

Terapia genética CRISPR: entenda técnica revolucionária de edição genética

Dá para editar o DNA? Tudo indica que sim.

Até poucos anos atrás, a ideia de editar um gene ou outro e manipular nossa própria genética poderia ser chamada apenas de sonho, mas como sabemos, na área da saúde aliada à tecnologia, nada é impossível.

A terapia CRISPR é uma realidade cada vez mais próxima, inclusive sendo estudada e desenvolvida no Brasil, na USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), além do Einstein Ensino e Pesquisa.

A terapia genética está aí, e quanto mais estudamos nosso DNA através de exames genéticos, mais possibilitamos que os bancos de dados sejam usados de forma robusta para ampliar o conhecimento dos genes e possibilidades de terapias.

Cada vez que realizamos um teste genético, estudamos genes específicos para um painel, como painel metabólico, de câncer, de medicamentos, painel esportivo, entre tantos outros que podemos usar como estratégia.

Nessa relação de genes apresentados nos testes, temos um mapa sobre a individualidade do paciente, ou seja, qual gene está presente para determinada função lipídica, como o paciente metaboliza tal vitamina ou nutriente e, em determinado gene, se ele possui alguma variante que indica um polimorfismo, ou seja, um modo diferente do que o esperado.

Isso ocorre em qualquer gene, por exemplo na expressão de genes que codificam proteínas responsáveis pelo metabolismo do folato, ou no metabolismo do glúten. Sabendo dessas variantes na individualidade genética do paciente, sabemos como usar mecanismos diferentes da nutrição (nutrigenética) ou suplementação, ou no estilo de vida (medicina do estilo de vida), para acentuar ou silenciar esse gene que causa danos ao longo da vida.

Dentro dessas possibilidades, está a terapia genética de ponta, que visa a edição direta do gene alvo, a terapia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, que em português pode ser traduzida como repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas). Essa tradução se refere à característica do sistema CRISPR de repetições no DNA que são agrupadas e regularmente espaçadas.

A técnica CRISPR permite aos cientistas editar o DNA de forma precisa, rápida e eficiente, abrindo portas para tratamentos personalizados e mais eficazes. Essa terapia envolve a modificação do DNA de células humanas para corrigir mutações que causam doenças, substituindo ou reparando genes defeituosos.

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Obviamente que ainda está em desenvolvimento, mas já dá para imaginar o quanto isso revoluciona o futuro da medicina e das doenças com perfil genético envolvido, e que até então não se tinha luz à frente de tratamentos diretos.

Posso dizer que, no que diz respeito a condições metabólicas, a terapia genética poderia ser muito benéfica em condições onde o paciente tem alterações dos genes envolvidos em doenças como dislipidemia, hipercolesterolemia familiar, diabetes tipo 2, doença hepática gordurosa não alcoólica, entre tantas outras que surgem ao longo de uma vida tendo como base a suscetibilidade genética somada às condições ambientais (os hábitos).

No Brasil, a terapia genética CRISPR está sendo desenvolvida e estudada, primariamente, para a doença falciforme, uma condição rara no mundo, mas com prevalência na população brasileira, sendo um caso de atenção e preocupação pela saúde publica. Esse desenvolvimento tem envolvimento do Hospital Israelita Albert Einstein junto ao Proadi-SUS.

Como é a terapia genética usando CRISPR?

A terapia CRISPR pode ser usada para corrigir mutações genéticas em células somáticas, com o objetivo de tratar doenças genéticas. Pode ser aplicada em células germinativas, com o objetivo de corrigir mutações genéticas hereditárias e prevenir a transmissão de doenças genéticas para as gerações futuras (essa teoria é altamente controversa, ainda há muita relutância na ciência quanto ao uso nessa abordagem).

A terapia CRISPR pode ser usada para editar o genoma de células-tronco, células que se diferenciam em qualquer outra célula do corpo, com o objetivo de gerar células geneticamente modificadas que podem ser usadas para tratar doenças ou regenerar tecidos danificados.

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Como seria um tratamento usando CRISPR?

Primeiramente é identificado o gene alvo a ser tratado. Após isso, projeta-se uma molécula guia de RNA (sgRNA) ao gene alvo e então essa molécula guia a enzima Cas9 até o local especifico do DNA onde haverá a edição genética.

O sistema CRISPR-Cas9 composto pelo RNA guia e a enzima Cas9 é entregue até a célula alvo a ser tratada, e pode ser feito através de entregas diferentes, como vetores virais ou nanopartículas.

Lá dentro da célula alvo, a enzima Cas9 "corta" o DNA, resultando em uma quebra de dupla hélice. É a partir dessa quebra que as células ativarão um reparo do DNA. Após o reparo, essas células com edição do gene são selecionadas e isoladas, cultivadas no laboratório para que se desenvolvam e garantam sua saúde e função.

Por fim, testes são feitos para garantir que as células apresentem as características necessárias esperadas, ou seja, sem a variação genética que causava a doença ou condição genética antes da terapia. Após isso, faz-se a administração ao paciente, e então monitoramento após a terapia.

Eu juro, lendo esse pequeno resumo de um "passo a passo" da terapia genética usando CRISPR, até parece ser simples, mas imaginem quanto tempo há ainda de estudos para que todas as etapas sejam de sucesso, o quão minucioso é o estudo gene após gene, marcadores e polimorfismos, para que essa terapia possa ser implementada em diferentes condições e doenças.

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Até que o audacioso se transforme em algo mais direto e seguro, ou acessível, posso garantir que, como moduladores genéticos que estão em suas mãos, de forma direta e comprovada, há o exercício físico e a nutrição.

Ambos são os maiores moduladores para todas as alterações metabólicas que comentei anteriormente sobre o metabolismo de gorduras, prevenção de predisposições genéticas ao desenvolvimento de câncer ou outras doenças, já que o meio ambiente que estamos inseridos, ou seja, o que fazemos com nosso próprio corpo, determina a expressão ou não de tais genes relacionados a essas doenças.

Vale a pena investir seu tempo na atividade física e nos bons hábitos alimentares, assim como vale a pena investir na investigação do seu próprio código genético.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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