Taise Spolti

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Semeadura vaginal: benefícios de transferir a microbiota da mãe para o bebê

Semeadura vaginal (ou vaginal seeding) é o termo utilizado para a passagem da microbiota vaginal da mãe para o bebê durante o nascimento em parto cesáreo. A estratégia vem sendo aplicada em muitos locais, incluindo partos realizados pelo SUS.

Expor o bebê ao fluido da vagina da mãe após a cesariana tem como objetivo imitar a exposição às bactérias que a criança teria durante um parto vaginal.

A microbiota vaginal da mãe desempenha um papel crucial na saúde e desenvolvimento do bebê durante o parto e nos primeiros anos de vida, principalmente no que diz respeito ao sistema imunológico. O bebê exposto à microbiota vaginal da mãe recebe uma primeira porta de colonização do seu próprio microbioma intestinal e digestório. Essa colonização é essencial para o desenvolvimento saudável do sistema imunológico e digestivo do recém-nascido.

Os micro-organismos que são "doados" pela vagina da mãe serão fundamentais para o desenvolvimento do sistema imunológico do bebê, ajudando a ensinar o organismo a distinguir entre micro-organismos benéficos e patógenos. Isso será determinante para a saúde do bebê ao longo dos seus primeiros anos de vida.

Muitos estudos já se referem à microbiota vaginal como um dos fatores que reduzem os riscos da criança desenvolver doenças autoimunes, alérgicas, infecções (asma, eczema) e obesidade infantil.

A microbiota intestinal do bebê influenciada pela microbiota vaginal ainda ajuda o recém-nascido a digerir o leite materno de maneira mais eficiente, especialmente os oligossacarídeos do leite humano, que são essenciais para o crescimento de bactérias benéficas e também dos próprios micro-organismos que são doados, que ajudam na colonização e multiplicação do microbioma intestinal que será responsável pela digestão de outros alimentos logo mais, na introdução alimentar.

Como é feita a semeadura vaginal?

Antes do parto cesariano, um pedaço de gaze estéril é inserido na vagina da mãe por um período que varia de uma a duas horas. Essa gaze absorve o fluido vaginal, que contém a microbiota. A semeadura também pode ser feita de outra forma, como no momento da cesárea, quando o parto se inicia, e então é coletado o fluido vaginal.

Logo após o nascimento, o fluido é cuidadosamente aplicado no bebê. Isso pode ser feito esfregando suavemente a gaze em áreas do corpo da criança que teriam sido expostas durante um parto vaginal, como boca, rosto, olhos, nariz e, especialmente, nas dobras do corpo e área genital.

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Obviamente que, antes disso, a equipe médica monitora a mãe para garantir que ela não tenha bactérias que possam infectar negativamente o bebê, ou infecções propriamente ditas que possam ser transmitidas para o recém-nascido.

Após a semeadura o bebê também passa por monitoramento.

Esse procedimento começou a ser estudado por María Gloria Domínguez-Bello, uma renomada microbiologista colombiana. Aqui no Brasil, doulas e algumas equipes médicas já vêm praticando a semeadura vaginal de forma independente.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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