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Cláudio Mesquita

Qual a relação entre a postura na corrida e as lesões no esporte?

A postura na corrida pode mudar por causa de uma lesão, mas não necessariamente é a causa do problema - iStock
A postura na corrida pode mudar por causa de uma lesão, mas não necessariamente é a causa do problema Imagem: iStock

Colunista do UOL VivaBem

26/06/2019 04h00

Um estudo publicado pela Revista Americana de Medicina do Esporte avaliou corredores com e sem lesão, sendo feita a comparação biomecânica entre os dois grupos. Além disso, foi feita também a análise de acordo com o tipo de lesão apresentada, que no caso eram de quatro tipos:

  • Dor patelofemoral (a famosa "condromalácia");
  • Síndrome da banda íliotibial;
  • Síndrome do estresse tibial medial ("canelite");
  • Tendinite de aquiles.

Resultado: os cientistas encontraram estas três diferenças principais na biomecânica dos atletas que tinham ou não lesão.

1. Queda da bacia oposta ao pé de apoio Na fase em que o pé está apoiado, há uma inclinação da bacia, na qual o lado oposto ao pé apoiado está mais baixo nos corredores com lesão. De fato, quanto maior a queda da bacia, maior a tendência de estar lesionado. Essa foi a alteração mais relacionada à presença de lesão.

2. Inclinação do tronco à frente Ainda em relação à fase em que o pé está apoiado, há uma maior inclinação do tronco à frente naqueles com lesão.

3. Joelho mais esticado e pé mais levantado No momento em que o pé toca o solo, o joelho está mais esticado e a ponta do pé mais levantada (tornozelo mais fletido) naqueles com lesão.

Importante destacar que essas alterações estiveram relacionadas a qualquer uma das quatro lesões mencionadas, ou seja, tendiam a estar presentes em quem estava lesionado, independentemente de qual lesão tinham.

Essas alterações então são a causa das lesões?

Não é isso, não. Todas essas alterações podem ser consequências devido à lesão em si ou devido à dor. Podem, inclusive, ocorrer para que o atleta diminua a dor. Um exemplo é, no caso da condromalácia, a ocorrência de uma diminuição da sobrecarga articular do joelho quando é feita uma inclinação do tronco à frente (como mencionei acima).

As lesões têm muitas causas e os fatores de risco podem, eventualmente, ser identificados. Mas isso é feito por meio de um tipo diferente de estudo, o qual acompanha os atletas ao longo do tempo.

Do ponto de vista científico, seria interessante nos perguntarmos o seguinte: se as alterações são similares para diversos tipos de lesão, será que não há um mecanismo comum fazendo com que elas surjam?". Por exemplo: estaria a dor, em qualquer seguimento, levando a uma tentativa generalizada de diminuir a sobrecarga, para evitar o agravamento da dor?

Por mais que muitos tentem responder de forma rápida ("claro que sim, faz todo sentido"), são necessárias pesquisas para respondermos, de forma mais precisa, a essa (ou qualquer outra) pergunta. E, em relação a essa pergunta específica, já podemos adiantar que a resposta mais provável seria não, já que vem sendo mostrado que o contato no solo com o pé mais levantado parece aumentar mais a sobrecarga em algumas articulações do membro inferior, assim como a correção da queda da bacia parece estar associada a melhora das dores em quem tem "condromalácia.

A identificação das diferenças entre quem tem ou não lesão é importante pois evidencia padrões de movimento que podem necessitar de tratamento, ficando estes também mais fáceis de serem identificados pelos profissionais que atendem corredores. Ainda assim, uma avaliação individual do padrão de movimento de cada atleta pode ser importante, pois não obrigatoriamente atletas lesionados apresentarão esses padrões e, mesmo que apresentem, podem não apresentar todos os descritos.

Referências:

1. Bramah C, Preece SJ, Gill N, Herrington L. Is There a Pathological Gait Associated With Common Soft Tissue Running Injuries? The American Journal of Sports Medicine. 2018 Oct;46(12):3023-31.
2. Teng H-L, Powers CM. Sagittal Plane Trunk Posture Influences Patellofemoral Joint Stress During Running. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy. 2014 Oct;44(10):785-92.
3. Wille CM, Lenhart RL, Wang S, Thelen DG, Heiderscheit BC. Ability of Sagittal Kinematic Variables to Estimate Ground Reaction Forces and Joint Kinetics in Running. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy. 2014 Oct;44(10):825-30.
4. Vannatta CN, Kernozek TW. Patellofemoral Joint Stress during Running with Alterations in Foot Strike Pattern: Medicine & Science in Sports & Exercise. 2015 May;47(5):1001-8.
5. Willy RW, Scholz JP, Davis IS. Mirror gait retraining for the treatment of patellofemoral pain in female runners. Clinical Biomechanics. 2012 Dec;27(10):1045-51.
6. Noehren B, Scholz J, Davis I. The effect of real-time gait retraining on hip kinematics, pain and function in subjects with patellofemoral pain syndrome. British Journal of Sports Medicine. 2011 Jul 1;45(9):691-6.

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