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Edmo Atique Gabriel

O inverno se aproxima: como fica o nosso coração?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

03/05/2020 04h00

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O metabolismo humano e as reações enzimáticas dependem da temperatura corpórea. Como sabemos, a temperatura humana normal varia entre 36 e 37ºC. Mesmo em condições climáticas de baixas ou altas temperaturas, nosso corpo é capaz de autorregular-se.

No inverno, as temperaturas mais baixas podem predispor a redução da temperatura corpórea —situação denominada hipotermia— sobretudo quando as pessoas não se agasalham adequadamente e não se alimentam suficientemente.

A produção de calor pelo corpo —termogênese— depende diretamente da alimentação regular, uma vez que, durante a digestão e metabolização dos alimentos, ocorre elevação da temperatura corpórea. Neste contexto, já podemos depreender que pessoas desnutridas ou com transtornos alimentares estão muito suscetíveis à hipotermia corpórea.

À medida que a temperatura corpórea cai, a saúde cardiovascular pode ser comprometida. Fisiologicamente, a hipotermia promove redução do fluxo sanguíneo e da oxigenação para todos os órgãos. As reações químicas tornam-se mais lentas, o metabolismo cai e, na dependência do órgão, algumas complicações podem levar a morte.

Em situações de inverno rigoroso, as pessoas mais expostas ao frio apresentam maior risco de infarto agudo do miocárdio e derrame cerebral. Os vasos sanguíneos, diante da exposição ao frio excessivo, apresentam vasoconstrição generalizada, ou seja, se contraem demasiadamente, com redução significativa do fluxo sanguíneo.

No coração, esta redução de fluxo compromete a vitalidade do miocárdio e causa o infarto —morte das células. Analogamente, os vasos sanguíneos do cérebro se contraem, a irrigação cerebral fica insuficiente, resultando no derrame ou acidente vascular cerebral.

Fundamental ressaltar que muitas pessoas já são portadoras de problemas cardiovasculares, como hipertensão arterial, arritmias cardíacas, diabetes, dislipidemias e quando expostas ao frio excessivo seu risco cardiovascular se agrava. Esta consideração é absolutamente importante, pois uma das orientações preventivas para uma pessoa cardiopata é evitar exposição ao frio excessivo.

Muitas vezes trata-se de uma viagem de lazer nos meses de inverno que, ao invés de ser um período de descontração e descanso, torna-se um período conturbado com aparecimento de sintomas cardiovasculares, como dor no peito, palpitações e picos de pressão arterial.

As principais medidas preventivas nos meses de inverno rigoroso incluem o uso de aquecedores, a utilização de lareiras, cobertores durante a madrugada, consumo mais frequente de bebidas quentes como chás de ervas e manutenção rigorosa de um ritmo alimentar consistente.

Não é interessante que as pessoas cardiopatas façam períodos prolongados de jejum ou não mantenham regularmente as três refeições diárias.

Do ponto de vista medicamentoso, não existem remédios específicos, uma vez que as temperaturas baixas representam um fenômeno eminentemente climático.

No entanto, alguns compostos com maior poder estimulante podem ser empregados para incrementar a termogênese corpórea. Produtos baseados em substâncias como cafeína, taurina e xantinas podem ser úteis no aquecimento corpóreo, mas devem ser prescritos por profissionais habilitados.

Além do consumo destes compostos, a prática supervisionada de atividades físicas aeróbicas (bicicleta, caminhada, corrida, natação) também é uma alternativa interessante para gerar calor e combater os efeitos deletérios das baixas temperaturas.

As orientações de um cardiologista, educador físico, endocrinologista e nutricionista podem ser extremamente salutares na prevenção e tratamento da hipotermia e seus efeitos.