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Edmo Atique Gabriel

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Raul Gazolla infartou 4 vezes: como é possível e por que ele não morreu?

Raul Gazolla contou ainda que vida como atleta amador ajudou a gatilhar problemas cardíacos - Reprodução/Instagram
Raul Gazolla contou ainda que vida como atleta amador ajudou a gatilhar problemas cardíacos Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do VivaBem

27/02/2021 04h00

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Em dezembro de 1992, a atriz Daniella Perez foi brutalmente assassinada por um outro ator e sua esposa. Daniella era casada com o ator Raul Gazolla. Daniella e o assassino contracenavam na mesma novela e, com Raul, os três eram aparentemente amigos.

Quando o crime foi desvendado o impacto em termos de estresse foi colossal na vida de Raul Gazolla, atualmente com 65 anos. Então, ele partiu para uma nova filosofia de vida, baseada em prática intensa de atividade física, aprendizado de lutas marciais e busca de um perfeccionismo físico inimaginável.

Certamente, essa mudança de filosofia de vida poderia ter tido os melhores desmembramentos caso houvesse a concomitância de paz de espírito e plena serenidade. Mas não foi assim, visto que Raul acumulava em seu âmago profunda angústia e uma ferida que não cicatrizava. Seu corpo seguia um determinando curso totalmente oposto aos pensamentos e sentimentos que permeavam sua mente.

Deste desequilíbrio entre corpo e mente, surgiram os problemas cardiovasculares do ator. E isso certamente não aconteceu ou acontece somente com Raul —quantos de nós já passamos por experiências adversas e decidimos mudar radicalmente nossos hábitos, sem planejar ou consultar alguém que pudesse efetivamente aconselhar e orientar como proceder adequadamente?

Gazolla sofreu o primeiro infarto há 10 anos, em um aeroporto. Achou que os sintomas de mal-estar estavam relacionados a uma intoxicação alimentar, Não eram. Teve um ataque cardíaco e precisou implantar um "stent". O ator relatou que estava profundamente estressado, ainda abalado com a morte de Daniella Perez, e que também havia um fator hereditário muito marcante em sua família.

Após esse primeiro infarto, ele manteve sua rotina utilizando medicamentos, mas acentuou a prática de atividade física, imaginando que não houvesse efeitos colaterais por estar treinando em ritmo tão rígido. Durante um treino de jiu-jitsu, cerca de um ano após o primeiro infarto, apresentou uma nova ocorrência. Segundo relatado por ele, depois deste segundo infarto, recebeu orientações para não treinar com uma frequência cardíaca acima de 180 batimentos por minutos. Ele seguiu a orientação nos treinos e decidiu parar com as medicações e manter uma alimentação regrada. No final daquele ano, abusou dos alimentos doces e gordurosos, apresentando sequencialmente mais dois infartos do coração.

Vários aspectos sobre a saúde cardiovascular merecem muita atenção nesse histórico do ator. Abaixo, vocês entenderão os motivos de Raul ter infartado tantas vezes e não ter morrido, além de ter algumas lições que podem ajudar todos nós a cuidar da saúde.

  • Lição 1: a influência genética

Quando existe forte influência de fatores hereditários em sua saúde cardiovascular, você precisa tomar mais cuidado com seu nível de estresse e com excesso de atividade física. A influência genética pode representar uma menor tolerância do coração e suas artérias a uma sobrecarga causada pelos hormônios de estresse e pelas demandas provocadas pela atividade física muito rígida. Portanto, é importante manter uma rotina de acompanhamento cardiológico, sempre respeitando os limites individuais.

  • Lição 2: intensidade dos exercícios

Quando realizamos atividades físicas, existe uma correlação muito forte entre o condicionamento e a frequência cardíaca (número de batimentos do coração por minuto). Observe como "pessoas destreinadas" cansam facilmente ao correr e seus batimentos cardíacos aumentam muito rapidamente, ficando com aquela sensação de "coração saindo pela boca". O condicionamento cardiovascular e cardiopulmonar consiste em treinar nosso coração e nosso pulmão, sob determinadas circunstâncias de carga, intensidade e frequência, a um determinado ritmo de esforço físico. No caso de Raul, o treinamento intenso gerou uma acentuada elevação dos batimentos cardíacos, sem que houvesse o devido condicionamento. Não houve tempo suficiente de adaptação do corpo ao exercício, resultando em risco maior para uma ocorrência cardiovascular, como o infarto.

  • Lição 3: o estresse

Não subestime o nível de estresse que você está vivenciando. Estresse precisa ser atenuado de alguma forma, seja usando medicamentos ou, preferencialmente e sempre que possível, por medidas não medicamentosas, como atividade física moderada, leitura, ouvir música, atividades de relaxamento e viagens de lazer. O estresse pode progressivamente extinguir pessoas, ceifar vidas. Quando se torna crônico, o problema coloca nosso organismos em risco, eleva a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e exige mais do coração. É uma questão de saúde pública, precisamos direcionar mais foco e investimentos na contenção deste mal.

  • Lição 4: uso de medicamentos

Duas atitudes não devem ser adotadas quando se pretende desfrutar de uma saúde cardiovascular plena : automedicação e parar de tomar os medicamentos por conta própria. Quem se automedica está sujeito aos diversos efeitos colaterais dos remédios e às complicações que resultam da mistura inadequada de medicamentos. Por outro lado, ao decidir parar de tomar as medicações por conta própria, como no caso de uma pessoa que já teve um infarto do coração, o risco de recorrência do infarto torna-se significativamente elevado. Parar de tomar as medicações pode até levar a uma falência orgânica e morte. Uma ressalva: não estou dizendo que Gazolla fez isso, só alertando sobre erros que ninguém deve cometer.

  • Lição 5: alimentação gordurosa e açúcar

Pessoas que já tiveram uma doença grave do coração, como o infarto, não devem abusar de alimentos gordurosos e doces, mesmo em períodos de festas de fim de ano. É preciso moderação na escolha e consumo desse alimentos. Quem já foi vítima de infarto ou qualquer outra doença cardíaca precisa entender que não tem mais a mesma tolerância ou flexibilidade para extrapolar as regras médicas estabelecidas após o primeiro evento cardiovascular. Isso é tão real que muitas vezes um reinfarto pode ser mais fatal do que o próprio primeiro episódio de infarto. Raul Gazzola pode ser considerado um sobrevivente por ter resistido a quatro!

  • Lição 6: anatomia do coração

Existe uma explicação anatômica e fisiológica para o fato de algumas pessoas sobreviverem a vários infartos. Algumas pessoas desenvolvem circulação colateral nas artérias do coração. Isso é: vários novos pequenos vasos sanguíneos vão se formando ao longo do tempo, sendo mais numerosos nas pessoas com mais de 50 anos e também em pessoas que mantêm um ritmo de atividade física regular. Pode-se inferir que um dos fatores que favoreceu Raul, permitindo que os infartos não tivessem um desfecho letal, tenha sido a existência de circulação colateral abundante em seu coração. Assim, quando um vaso sanguíneo foi obstruído, o sangue continuou chegando ao músculo cardíaco pelos pequenos vasos que se formaram. Também podemos cogitar que a extensão dos infartos não tenha sido tão grande, favorecendo a manutenção de uma boa função cardíaca.

Repito que Raul Gazolla pode ser considerado um sobrevivente, mas o roteiro de sua história nem sempre se repete em outras pessoas e, em muitos casos, um único infarto ou um segundo infarto podem ser fatais. Por isso, devemos ter todos os cuidados referentes ao controle do estresse, qualidade da alimentação e intensidade das atividades físicas para prevenir o ataque cardíaco.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Raul Gazolla não contracenou na novela "De Corpo e Alma" ao lado de Daniella e o assassino. A informação foi corrigida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL