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Edmo Atique Gabriel

REPORTAGEM

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Atividade física excessiva sem check-up pode ser perigosa; entenda por quê

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

19/03/2022 04h00

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Muitas pessoas buscam a prática de atividade física visando emagrecer, melhorar condicionamento e ganhar massa muscular. Até aí tudo bem. A questão é que o empenho nas atividades esportivas exige periodicidade e intensidade para que os resultados esperados verdadeiramente aconteçam.

Quando os resultados começam a surgir, as pessoas naturalmente se animam e ficam mais motivadas a continuar com as atividades físicas; no entanto, alguns começam a extrapolar seus limites para buscar uma suposta perfeição e um padrão físico que gere comentários e suspiros. A vaidade começa a falar mais alto que a prudência de fazer um check-up para conhecer os limites do corpo.

As consequências de um treinamento físico extremamente intenso, sem o amparo de uma avaliação médica prévia, podem ser devastadoras, não escolhendo idade, gênero ou raça. Nesta fase atual da pandemia de covid-19, com a liberação mais ampla das atividades em geral, sabe -se que a retomada de atividades físicas será algo muito intenso e, desta forma, a importância de um check-up físico torna-se prioridade.

Para que fique mais palpável o impacto negativo de um treinamento físico excessivo, especialmente quando este não é precedido por exames preventivos, precisamos entender que atividade física muito desgastante pode provocar mudanças hormonais em nosso corpo, com efeitos adversos em diversos órgãos. Vejamos as possíveis consequências:

1) Osteoporose precoce

Pessoas muito jovens e que praticam atividades esportivas acima do seu limite podem vivenciar fraturas dos ossos, mas não são fraturas causadas por um trauma direto no osso, são fraturas conhecidas como espontâneas, ou seja, consequência direta de um enfraquecimento progressivo do osso.

Num osso normal, ocorre constantemente a renovação do tecido ósseo para manter a viabilidade da estrutura. Atividade física exagerada pode interromper este processo e causar osteoporose em pessoas muito jovens.

2) Descontrole da pressão arterial e do ritmo cardíaco

Quem faz atividade física sabe que nosso coração precisa acompanhar a intensidade dos movimentos e da carga. Para isto, nossa frequência cardíaca aumenta de forma fisiológica para acompanhar as demandas de um exercício mais vigoroso.

A pressão arterial costuma permanecer mais estável durante a prática física, mantendo níveis próximos ao normal e podendo também oscilar temporariamente, sem causar grande repercussão. Porém, a prática exagerada de esportes, sem o conhecimento prévio dos parâmetros anatômicos e funcionais do coração, pode resultar em arritmias cardíacas, picos intensos de pressão e risco elevado para infarto do coração e derrame cerebral.

3) Lesões ortopédicas

Para praticar atividade física em geral, mesmo sem muita intensidade, recomenda-se uma avaliação ortopédica prévia. Será que os joelhos e o quadril de todos estão preparados para suportar a sobrecarga de um treino físico excessivo? Uma atividade física extremamente intensa pode causar lesões irreparáveis nas articulações.

4) Alterações no ciclo menstrual

Muitas mulheres que praticam atividades físicas de elevada intensidade, por um período muito longo, acabam enfrentando mudanças no seu ciclo menstrual. Geralmente ocorrem interrupções no fluxo menstrual ou até mesmo parada da menstruação. O estresse orgânico causado por práticas esportivas exageradas pode ocasionar esta mudança.

5) Infertilidade

Existem inúmeros relatos de homens e mulheres que, após um longo período de prática esportiva intensa, não conseguem dar andamento ao sonho de ter filhos. Esta alteração pode ser temporária, mas também pode ser irreversível. No mundo do esporte profissional, muitos atletas, especialmente as mulheres, ficam impossibilitadas de conseguir ter filhos. Mais um motivo para se valorizar o acompanhamento médico e realizar exames de check-up, pois o impacto emocional para a vida desta atleta pode prejudicar seu desempenho e sua autoestima.

6) Anemia

O exercício físico muito intenso promove consumo das reservas de ferro no corpo. Não havendo uma alimentação compatível e, em alguns casos, uma suplementação adequada, a pessoa pode desenvolver anemia e, consequentemente, risco de insuficiência cardíaca. O ferro é essencial para o transporte de oxigênio aos nossos órgãos e tecidos. O coração e o cérebro são órgãos que não toleram esta deficiência no transporte de oxigênio, elevando, portanto, risco de falência orgânica e morte.

Para o planejamento adequado de um check-up, visando determinar os limites de nosso corpo e selecionar a melhor intensidade e carga para os exercícios, são recomendados:

1) radiografias ósseas - joelho, tornozelo e quadril

2) ressonância para avaliar coluna, músculos, ligamentos

3) teste ergométrico, ecocardiograma transtorácico com doppler colorido, molter 24 horas, Mapa (monitorização ambulatorial da pressão arterial): avaliação do ritmo cardíaco, pressão arterial, válvulas do coração, músculo cardíaco

4) Exames de sangue como dosagem de vitaminas, nutrientes, eletrólitos (sódio, cálcio, magnésio, potássio)

O equilíbrio entre a intensidade dos exercícios e o acompanhamento médico por meio de um check-up completo poderá determinar a longevidade e o prognóstico de uma pessoa, em qualquer faixa etária.

A vaidade não poderia superar a prudência e o bom senso; a atividade física exerce muitos efeitos protetores desde que seja supervisionada e haja paciência. Treinamentos físicos exagerados, para simplesmente mostrar força e exibir corpos, podem abreviar a vida, os sonhos e metas de uma pessoa.