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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O HDL, conhecido como bom colesterol, realmente é benéfico para todo mundo?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

26/11/2022 04h00

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Acredito que todos já devem ter ouvido falar sobre o colesterol e suas duas principais frações: o LDL (colesterol de baixa densidade) e o HDL (colesterol de alta densidade). Na prática, chamamos o LDL de colesterol ruim, por estar relacionado à ocorrência de infarto do coração, derrame cerebral e tromboses; e chamamos o HDL de colesterol bom, por exercer um efeito protetor em nossos vasos sanguíneos, reduzindo os entupimentos tão fatais.

No entanto, existem dúvidas quanto à capacidade do HDL exercer seus efeitos protetores em todas as pessoas, independentemente da raça. Sendo mais específico e mais objetivo, há dúvidas se os benefícios do HDL são semelhantes na população branca e na população negra.

Para sanar essa questão, pesquisadores da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, realizaram um estudo comparativo com esse propósito. Primeiramente, os pesquisadores destacaram que, nos anos 70, quando o conceito do papel protetor do HDL foi amplamente divulgado, os estudos daquela época haviam sido feitos somente com pessoas brancas.

Na pesquisa atual, identificaram que os níveis reduzidos do HDL estão correlacionados com risco elevado de ataque cardíaco na população branca, não sendo constatado o mesmo cenário na população negra. Além disso, os níveis elevados do HDL não foram correlacionados com a redução das doenças cardiovasculares nem na população branca nem na população negra.

Por outro lado, os pesquisadores verificaram que os níveis elevados de LDL, tal como dos triglicérides (um tipo de gordura que está presente nas massas, doces e bebidas alcoólicas), são indicadores de maior risco para doença cardiovascular nos indivíduos brancos e negros.

Os principais protocolos e programas de prevenção da doença cardiovascular tradicionalmente consideram alguns aspectos populacionais como faixa etária e raça. Esse planejamento não teria apenas cunho médico, mas também financeiro, visto que maiores investimentos geralmente são direcionados para as ocorrências por faixa etária e por raça. Essa pesquisa da Universidade de Oregon incluiu pessoas de 45 anos ou mais e foi realizado um acompanhamento clínico por aproximadamente 10 anos.

Considerando então os apontamentos feitos por essa pesquisa recente e também a necessidade de uma otimização dos investimentos para a programação de prevenção da doença cardiovascular, poderemos estar diante de uma importante quebra de paradigma.

Na prática clínica, poderemos estar iniciando uma fase na qual os níveis elevados de HDL não seriam mais um fator isolado e global para segurança cardiovascular e, por outro lado, os níveis elevados de LDL poderiam estar adquirindo um nível de importância maior do que já se imaginou.

Também podemos acrescentar que analisar os níveis elevados de LDL em conjunto com marcadores, como os níveis de triglicérides, poderia compor um protocolo mais fidedigno para mensurar o risco cardiovascular e para otimizar as melhores medidas preventivas.

Para finalizar essa discussão, gostaria de deixar aqui uma opinião minha, como profissional que sou na área de cardiologia e cirurgia cardiovascular. Temos de respeitar essa nova tendência, mas continuar acompanhando novas pesquisas que estão em andamento.

A questão central é realmente identificar os fatores de maior promoção de risco cardiovascular e, a partir dos resultados dessa pesquisa feita pela Universidade de Oregon, tudo caminha para uma maior atenção aos níveis do LDL.