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Um vírus inocente e uma doença complexa: entenda melhor o caso de Anitta
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Em geral, quando analisamos de forma lógica, concluímos que um vírus pode causar uma gripe e uma bactéria pode causar pneumonia. Até este ponto, nenhuma novidade e pouca coisa a se questionar.
Entretanto, quando um vírus está associado com um câncer ou com uma doença complexa, como a esclerose múltipla, não parece que há algo estranho? Câncer não é uma virose, esclerose múltipla não é uma virose, mas, ainda assim, um vírus pode ser um gatilho para o desenvolvimento dessas doenças.
Uma obstrução de uma artéria do coração por acúmulo de gordura pode levar a um infarto. As placas de gordura que se formam dentro de artérias não são constituídas somente de colesterol, cálcio e coágulos de sangue. Muitos estudos apontam a presença de bactérias no interior destas verdadeiras rolhas de gordura, responsáveis pela interrupção do fluxo sanguíneo.
Naquelas pessoas que sofrem por gastrite e câncer de estômago, frequentemente se faz uma endoscopia para avaliação mais detalhada e retirada de fragmentos (biópsias) do tecido interno do estômago.
Em conjunto com as biópsias, comumente se faz a pesquisa sobre a presença ou não de uma bactéria, conhecida como Helicobacter pylori. Qual o valor clínico de se pesquisar a presença desta bactéria no estômago? Helicobacter pylori tem sido considerada como um agente cancerígeno e, como tal, exige um tratamento específico com antibióticos, visando eliminar este fator de risco.
No Brasil, o câncer de colo de útero é responsável por taxas significativas de mortalidade nas mulheres. O grande gatilho para ocorrência deste tipo de câncer é exatamente a presença de uma infecção causada por um vírus, conhecido como papilomavírus humano (HPV).
Diante de todas estas considerações, fica um pouco mais fácil compreender o que pode estar acontecendo com a cantora Anitta.
Existe a suspeita de que Anitta possa ter esclerose múltipla, ainda em fase inicial, sendo que esta doença estaria acometendo a parte neurológica, principalmente os movimentos e reflexos. O mais intrigante neste cenário é uma possível relação entre uma infecção viral por um vírus chamado Epstein-Barr e o desencadeamento da esclerose múltipla.
Anitta foi diagnosticada com a mononucleose, infecção viral causada pelo Epstein-Barr e também conhecida como "doença do beijo".
Como o nome já diz, uma das formas de transmissão seria pela saliva através do beijo e também pelo compartilhamento de copos ou talheres. A mononucleose causa como sintomas principais febre, prostração, dor de garganta e gânglios (ínguas) inflamados na região do pescoço.
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, envolvendo mais de 10 milhões de pessoas, mostrou uma relação consistente entre esclerose múltipla e a presença do vírus Epstein- Barr.
A hipótese mais aceita é que a infecção causada pelo vírus Epstein-Barr possa fazer com que as células de defesa ataquem o próprio organismo, especialmente o sistema nervoso, podendo comprometer a coordenação motora. A possível influência deste vírus no desenvolvimento da esclerose múltipla não é pequena, pode ocorrer aumento em 32 vezes neste risco.
Uma infecção viral ou bacteriana pode ser um dos inúmeros gatilhos para o desenvolvimento de doenças complexas, como o câncer e esclerose múltipla e, desta forma, as medidas preventivas seriam mais eficazes que as intervenções terapêuticas.
Em outras palavras, o uso de vacinas, a precaução quanto aos hábitos de higiene, os cuidados quanto ao contato físico íntimo entre as pessoas e hábitos alimentares saudáveis poderiam enfraquecer esta influência negativa de vírus e bactérias.
O caso da cantora Anitta ainda está sendo amplamente investigado, mas pode ser um retrato dos males que uma infecção viral aparentemente benigna pode desencadear no sistema nervoso: um vírus aparentemente inocente, que é capaz de confundir nossas defesas orgânicas, de tal maneira que as próprias células de defesa atacam o sistema nervoso, induzindo o desenvolvimento de esclerose múltipla.
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