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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você sabia que cutucar o nariz pode favorecer doenças letais e limitantes?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

25/03/2023 04h00

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Quando somos crianças, temos o hábito de colocar os dedos em tudo —inclusive na terra e areia— e, na sequência, levá-los até os olhos, boca e nariz. A imaturidade e a falta de um histórico de experiências permitem que uma criança execute esse hábito de cutucar olhos, nariz e boca com coisas sujas, sem reconhecer os eventuais riscos e complicações dessa prática.

Esse hábito aparentemente pueril também está presente na rotina de muitos adultos, fato este que, quando testemunhado publicamente, gera muito constrangimento e desconforto. Talvez alguns se lembrem que o técnico da seleção alemã de futebol masculino (aquela que ganhou e humilhou nossa seleção em 2014), Joachim Löw, foi certa vez flagrado pelas câmeras cutucando o nariz. Foi um fato certamente grotesco e feio de se ver.

Mas o ato de cutucar o nariz não se restringe a uma questão de deselegância e de constragimento social. Existe um risco muito sério por trás dessa prática, um risco que se distancia de qualquer conotação cômica. Pesquisadores australianos defendem que cutucar o nariz com muita frequência pode aumentar risco de desenvolver doenças neurológicas como Alzheimer e demências.

Quando se cutuca o nariz, supostamente para "limpar o salão" (acredito que muitos se lembrem dessa expressão que pais e avós usavam para advertir seus filhos e netos, quando flagrados cutucando o nariz), estaríamos abrindo caminho para uma bactéria, conhecida como Chlamydia pneumoniae, chegar até o cérebro.

Além da infecção de nosso cérebro por esta bactéria, os pesquisadores notaram que pode ocorrer a produção de uma proteína chamada beta amiloide, um dos principais fatores para o mal de Alzheimer.

É importante dizer que esse foi um estudo demonstrativo e feito com camundongos (que obviamente não cutucam o nariz). Os pesquisadores colocaram a bactéria em questão no nariz dos animais, o que levou às conclusões. Mas perceberam a encrenca que as cutucadas no nariz poderiam causar?

Ainda existe mais um detalhe importante nesse cenário pueril, cômico e trágico. Quando cutucamos o nariz, acabamos destruindo aqueles pelos de proteção, que estão ali exatamente para filtrar o ar que respiramos e conter a entrada de partículas estranhas e de germes. Nossos dedos certamente não são delicados no momento das cutucadas e acabam ferindo o tecido interno do nariz e destruindo os pelos de proteção. Dessa forma, a porta de entrada para agentes infecciosos atingirem nosso cérebro fica imensa.

As estatísticas revelam que os homens cutucam mais o nariz do que as mulheres. Muitas vezes essa prática é motivada por um estado de estresse, irritabilidade e ansiedade.

Não podemos subestimar a ocorrência de infecções do próprio cérebro quando se cutuca o nariz com muita frequência. Claro que o Alzheimer e outras demências seriam verdadeiras catástrofes se efetivamente puderem ser correlacionadas com as cutucadas no nariz, mas quem gostaria de enfrentar uma meningite bacteriana causada por esta prática pueril, cômica e trágica?

A meningite representa a inflamação das meninges, membranas que revestem e protegem nosso cérebro. Uma pessoa com meningite bacteriana pode apresentar sintomas como febre, vômitos, prostração, confusão mental, endurecimento do pescoço e dor de cabeça. Em alguns casos, uma meningite bacteriana pode ser transformar em uma infecção sistêmica, ou sepse, podendo cursar com falência múltipla dos órgãos.

Até uma brincadeira, uma aparente ação cômica, pode matar. Cutucar o nariz com frequência parece ter esse risco. Não custa pecar por excesso e ter mais precaução, educando melhor as crianças quanto aos riscos desse hábito, e também conscientizando de forma mais contundente os adultos, que ainda insistem em manter essa prática.

Nosso nariz tem a função nobre de filtrar o ar que respiramos e remover as sujeiras. Ferimentos no interior do nariz, causados pelas cutucadas, poderão predispor a maior risco de infecções cerebrais como a meningite e ao desenvolvimento de doenças como Alzheimer e demências.