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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Existe relação entre aspirina e o câncer de intestino?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

29/04/2023 04h00

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Quem nunca ouviu falar de um remédio chamado aspirina? Sabem quando esse produto foi comercializado pela primeira vez? 1899! Talvez possamos dizer que aspirina fez parte da infância de todos nós e praticamente acompanhou a evolução e as transformações do mundo no último século.

Quando se relaciona aspirina com as doenças em geral, de imediato pensamos no uso desse produto para o tratamento de problemas cardiovasculares, como infarto do coração e derrame cerebral. Além do tratamento, tem sido muito comum a utilização da aspirina como medida preventiva desses mesmos problemas cardiovasculares. Enfim, o papel da aspirina, seja como medida preventiva ou terapêutica, faz parte da história da medicina e da história de vida de muitas pessoas.

Nos últimos anos, algumas pesquisas têm mostrado que o uso da aspirina poderia ter outro efeito preventivo muito relevante: a proteção contra o câncer de intestino em homens e mulheres. O câncer de intestino está diretamente relacionado com a qualidade de nossa alimentação e, nos últimos meses, muitas pessoas conhecidas, como o ex-jogador Pelé e as cantoras Simony e Preta Gil, vivenciaram ou estão na batalha contra essa doença. O hábito de ingerir alimentos gordurosos e doces em grande quantidade pode ser determinante no desenvolvimento desse tipo de câncer.

A relação entre aspirina e seu papel protetor contra o câncer de intestino parece estar relacionada ao efeito anti-inflamatório desse medicamento. Aspirina exerce algumas funções benéficas em nosso corpo, como alívio de dor, redução da inflamação, prevenção de tromboses e ativação do fluxo sanguíneo. Essas funções são possíveis graças à inibição da produção de algumas proteínas que causam inflamação em nosso corpo. A maioria dos estudos demonstra essa coincidência ou correlação, na qual pessoas que utilizam doses baixas de aspirina podem ter uma redução de 20 a 40% nas taxas de câncer de intestino.

As doses consideradas baixas de aspirina podem incluir a ingestão diária de uma concentração de 81 a 325 mg. Como esse intervalo de doses é relativamente amplo, alguns estudos mais específicos foram realizados para comparar os efeitos protetores da aspirina em dois grupos —quem ingere diariamente 81 a 160 mg, em comparação com quem ingere diariamente 300 a 325 mg. A conclusão foi muito interessante, pois ficou claro que não há diferença entre essas duas dosagens, especialmente quanto à prevenção do câncer de intestino.

Essa conclusão tem um aspecto muito positivo e favorável para aquelas pessoas com algum tipo de intolerância ao uso diário de aspirina. Sempre é essencial destacar que aspirina pode desencadear alguns efeitos colaterais, como hematomas (manchas arroxeadas na pele), sangramento nas fezes e dor de estômago.

As doses baixas de aspirina, além da possibilidade de prevenir o desenvolvimento de um câncer de intestino, podem agir contra o surgimento de metástases, ou seja, a disseminação do câncer para locais próximos ou distantes da localização inicial do câncer. O câncer de intestino tem um potencial razoável de metástases, podendo atingir órgãos como pulmões e fígado.

A ciência tem caminhado para a determinação de quais pessoas ou qual o perfil de pessoas que melhor responderia ao uso preventivo de aspirina, pensando especificamente no câncer de intestino.

De qualquer forma, as evidências apontam para um papel preventivo da aspirina muito mais amplo do que se imagina, não se restringindo ao universo das doenças cardiovasculares. Em conjunto com uma alimentação rica em fibras e restrição de gorduras e açúcares, o consumo da aspirina em baixas dosagens poderia agregar benefícios anti-inflamatórios, necessários para prevenir o desenvolvimento do câncer de intestino e, eventualmente, auxiliando no controle do potencial metastático de um câncer intestinal já estabelecido.