Faustão com insuficiência cardíaca: como diagnosticar e qual o tratamento
Quando se usa o termo insuficiência como referência a um órgão que não está funcionando bem, a situação por si só já é delicada. Insuficiência hepática indica que o fígado não está executando suas funções de forma adequada; insuficiência renal indica que os rins não estão filtrando o sangue satisfatoriamente; insuficiência cardíaca significa que o músculo cardíaco não está conseguindo bombear o sangue de uma forma efetiva.
As razões que levam o coração humano a se tornar insuficiente são diversas, mas podemos destacar a ocorrência de infartos recorrentes, problemas no funcionamento das valvas cardíacas e inflamação do músculo cardíaco (miocardite). Em geral, a insuficiência cardíaca é um processo insidioso, ou seja, vai piorando ao longo do tempo. Os sintomas também vão se agravando e se tornando cada vez mais limitantes.
Na consulta cardiológica, é muito comum classificarmos a insuficiência cardíaca de acordo com esse aspecto evolutivo dos sintomas. Vou dar alguns exemplos para que vocês entendam melhor. As perguntas a serem feitas seriam as seguintes:
—Você sente cansaço e falta de ar quando faz esforços ou ao repouso?
Quando a reposta for "aos esforços", faço uma nova pergunta:
—Que tipo de esforços causa mais cansaço: grandes esforços como correr, médios esforços como caminhar por duas quadras, ou pequenos esforços como escovar seus dentes?
Dependendo das respostas, já fica muito claro para o cardiologista qual a intensidade da insuficiência cardíaca.
Outros pontos interessantes podem ser abordados durante a entrevista, sendo estes também fortes indicativos de uma insuficiência cardíaca: "Você precisa dormir com muitos travesseiros para não se sentir sufocado?" e "Você costuma enfrentar episódios de falta de ar durante a madrugada?".
Um bom exame clínico, constatando alguns sinais como inchaços, distensão da barriga e aumento do volume do fígado, pode fornecer mais pistas para o diagnóstico de insuficiência cardíaca.
O próximo passo seria a realização de exames de imagem para conseguimos avaliar as condições estruturais do coração. Começamos pelo ecocardiograma, que nos mostra a perda de força do músculo cardíaco e eventuais alterações nas valvas cardíacas.
Existe um parâmetro do ecocardiograma chamado fração de ejeção —um valor percentual que varia de 50 a 80%. A fração de ejeção, de uma forma muito simplista, indica a força do músculo cardíaco. Nas pessoas com insuficiência cardíaca avançada, a fração de ejeção pode cair para níveis entre 10 a 20%.
Na continuidade da investigação por meio de exames de imagem, a ressonância magnética do coração seria o exame mais sofisticado, devido à riqueza de informações técnicas e capacidade de identificar, com alta precisão, a perda de contratilidade do músculo cardíaco.
E o que temos de fazer ou o que podemos fazer diante da confirmação de uma insuficiência cardíaca? A primeira medida envolve medicamentos e mudanças do estilo de vida. São muitos os medicamentos que podem ser usados, mas podemos destacar os diuréticos para rápido alívio dos inchaços no corpo. As mudanças de estilo de vida incluem rever os hábitos alimentares e tentar eliminar vícios, como o tabagismo.
Num segundo momento, pode-se pensar em algum procedimento mais invasivo, visando melhorar o desempenho do músculo cardíaco. Nesse contexto, o implante de um marca-passo conhecido como ressincronizador e uma cirurgia de reconstrução de valvas cardíacas e da geometria do coração podem ser considerados.
A última etapa do tratamento de uma insuficiência cardíaca avançada, e certamente a etapa mais desafiadora, seria implantar um "coração artificial" conectado ao coração humano ou realizar um transplante cardíaco. Um "coração artificial" é um dispositivo cirurgicamente conectado ao coração humano para tentar auxiliar, dar assistência a um coração extremamente debilitado. Ainda é algo pouco acessível e extremamente custoso.
O transplante cardíaco significa trocar o coração doente por um coração saudável ou pelo menos em melhores condições. Esse tipo de transplante ainda é um grande desafio, pois envolve questões culturais, religiosas e também dificuldades de logística, captação e transporte. De qualquer forma, existem muitas equipes médicas empenhadas nesse tipo de procedimento e que têm conseguido bons resultados.
O apresentador Faustão está internado para tratamento de uma insuficiência cardíaca. Tecnicamente, sua internação tem como objetivo a compensação clínica, ou seja, a tentativa de melhorar a função do coração e estabilizar os sintomas por meio exclusivo de medicamentos, sem necessidade de intervenções cirúrgicas. Somente o tempo para determinar se o tratamento ficará restrito a medicamentos ou se haverá necessidade de algo complementar —nesta fase os médicos observam a resposta orgânica de Faustão ao uso de medicamentos e realizam exames para avaliar se há indícios de melhora da função cardíaca. Por isso a necessidade de internação hospitalar e vigilância intensiva.
Faustão também tem um antecedente de uma cirurgia bariátrica para redução de peso. Esse tipo de cirurgia acaba sendo muito favorável para melhor controle da hipertensão arterial e do diabetes, condições que poderiam causar ou agravar a insuficiência do coração. Por outro lado, esse tipo de cirurgia exige suplementação de alguns nutrientes que não são adequadamente absorvidos, pelo fato de terem sido feitas mudanças nos órgãos da digestão, como estômago e intestinos. Certamente, todos esses aspectos estão sendo considerados pela competente equipe médica que acompanha o apresentador.
Insuficiência cardíaca é uma condição que inspira cuidados e exige um pronto controle dos sintomas e manifestações. Falar em cura é muito relativo, vai depender muito da causa e da fase do processo.
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