Edmo Atique Gabriel

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Reportagem

Conhece a síndrome do 'coração de feriado'? Tenha moderação neste Réveillon

O consumo de álcool é uma marca de festas e feriados no Brasil. No Réveillon então, nem se fale. Época de calor, as pessoas efusivas com a chegada do novo ano, novas esperanças reacendendo e aquela atmosfera efervescente são motivações para o consumo de álcool, muitas vezes de forma exagerada.

E aí a coisa pode pegar, ou seja, nosso corpo e principalmente nosso coração tem limites.

A síndrome do "coração de feriado" representa algumas manifestações cardíacas, especialmente arritmias cardíacas, que podem acontecer nas primeiras 12-36 horas após uma ingestão excessiva de álcool.

Este conceito foi descrito primeiramente no final da década de 70, quando 24 pessoas que consumiram álcool em excesso foram parar no hospital com fibrilação atrial, uma das arritmias mais conhecidas e com grande potencial de complicações.

Aquelas pessoas que nunca consomem álcool ou aquelas que consomem de forma muito ocasional e acabam entrando na empolgação e nos excessos, também podem fazer parte do cenário desta síndrome.

Pesquisas recentes demonstram uma associação entre consumo excessivo de álcool e fibrilação atrial na ordem de 30-60% e, além disso, a ocorrência de fibrilação atrial pode aumentar em 38% a cada 0,1% de aumento dos níveis de álcool em nosso sangue.

A fibrilação atrial e outros tipos de arritmia podem causar uma sensação transitória ou persistente de palpitação, como se fossem solavancos no peito. Concomitantemente, outras sensações desconfortáveis podem aparecer, como fadiga, fraqueza, respiração curta, tonturas e dor no peito.

Em alguns casos mais extremos, podem ocorrer mudanças significativas na pressão arterial.

No momento do diagnóstico, além da percepção de eventuais alterações neurológicas e comportamentais causadas pelo álcool, alguns exames deveriam ser feitos. A dosagem dos níveis de magnésio e potássio no sangue deve ser feita, pois nas pessoas que exageram no consumo de álcool, pode ocorrer redução importante destes elementos. O magnésio e o potássio são importantes para bom desempenho cardíaco, cerebral, movimentos musculares e reflexos.

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A realização de alguns exames de sangue em conjunto com um eletrocardiograma permite descartar um infarto do coração que pode estar acontecendo e sendo mascarado pela arritmia cardíaca. Devemos lembrar que a sensação de dor no peito pode ser causada pela própria arritmia, mas sempre é prudente não descartar o infarto.

Como, nos últimos anos, cada vez mais pessoas jovens estão infartando e estas pessoas costumam consumir álcool em excesso nas festas, não custa prevenir.

Devido às queixas de cansaço e respiração curta, costumamos complementar esta investigação, solicitando uma radiografia de tórax, para avaliar as condições pulmonares, e um ecocardiograma transtorácico com doppler colorido, que nos mostra eventuais alterações na força do coração.

E como tratar esta síndrome? Em primeiro lugar, precisamos combater a intoxicação alcoólica e, para isto, uma hidratação vigorosa, reposição de sais minerais e suplementação de vitaminas (complexo B) são medidas essenciais.

Especificamente para as arritmias cardíacas, algumas medidas podem ser adotadas como medicamentos para acalmar ou normalizar os batimentos cardíacos, uso de anticoagulantes para prevenir possíveis tromboses associadas com arritmias e até mesmo medidas mais intensas como aplicar um choque no peito para reverter uma arritmia.

Saber como ficará esta pessoa, após passar por estes incômodos e por medidas terapêuticas variadas, dependerá muito de suas condições clínicas prévias, seus antecedentes, fatores genéticos, fatores hormonais, etc.

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Melhor ter moderação e bom senso quanto ao consumo de álcool, pois as arritmias cardíacas podem deixar sequelas importantes e potencialmente letais.

Um feliz 2024, com saúde, paz e muita moderação no consumo de álcool.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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