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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Acolhendo as certezas de adolescentes sobre identidades e afetividades LGBT

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

27/05/2022 04h00

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Desde o começo da pandemia da covid-19, tem aumentado o número de pessoas adultas que me procuram para dialogar sobre o tema das questões LGBTQIA+ no início da adolescência.

São mães, pais, equipes de Saica (Serviços de Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes) e profissionais da educação trazendo preocupações com adolescentes de 12 à 14 anos que revelaram ser LGBTQIA+.

A pergunta que as pessoas adultas me fazem é: "Você não acha que é cedo demais para ter essa certeza?".

Por acreditar que, talvez, essa dúvida seja sua também, estou escrevendo esse texto com a proposta de exercitarmos a reflexão sobre certezas, sexualidade e início da adolescência.
Se você já tem aprofundamento nessa discussão, é possível que meu texto lhe pareça muito óbvio ou básico demais, mas é sempre bom lembrar que estamos vivendo um contexto de repressão das discussões sobre sexualidade no Brasil e algo que é básico para algumas pessoas, pode ser novidade para outras.

Vamos começar nosso exercício com calma e sem palavras difíceis.

Vamos começar pela palavra certeza.

Muita gente acredita que ter certeza de algo é uma sentença para a vida toda, mas nem sempre é assim. A certeza tem a ver com o que sinto, penso e percebo agora. E isso pode ou não mudar. Então, nunca é cedo demais para se ter certeza, assim como nunca é tarde demais para mudar de certeza.

Aqui vale deixar bem frisado que não estou dizendo que você deve torcer para que adolescentes mudem suas certezas sobre quem são ou por quem se apaixonam. O que estou falando é que precisamos ser menos duros no uso dessa palavra e que é possível acolher as certezas de qualquer pessoa a qualquer momento da vida.

As certezas de adolescentes podem ou não mudar, mas cabe a nós, pessoas adultas, acolhe-las por meio da escuta sem julgamento e validando o que é dito e sentido.

Por exemplo: se uma menina de 12 anos diz a você "Pai, eu tenho certeza de que sou lésbica", cabe a você acolher o que ela diz para que essa menina sinta que sua casa é um lugar seguro e acolhedor. Nós já vivemos numa sociedade extremamente lesbofóbica, então sua filha precisa de um lugar para respirar tranquila e se fortalecer para lidar com questões que, infelizmente, poderão aparecer "do portão para fora". Você não precisa transformar a lesbofobia numa vivência "do portão para dentro". Mais que isso, sua filha precisa saber que você também defende o direito dela de viver os afetos em segurança.

Quando adolescentes nos revelam suas afetividades não heterossexuais ou identidade de gênero trans, estão realizando um ato que demandou muita energia, reflexão e coragem (dependendo do contexto que estão). Não é fácil se assumir LGBTQIA+ em qualquer idade, imagine com 12, 13 ou 14 anos. Precisamos valorizar esse passo.

"Mas e se ele mudar de ideia?". Bom, se seu filho "mudar de ideia", você pode seguir o apoiando e acolhendo.

Você pode seguir dizendo: "Eu ainda estou aqui!"