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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Incentivo ao sexo ou prevenção? Qual o papel da educação em sexualidade?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

02/09/2022 04h00

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Nos últimos anos, muitas pessoas que atuam na área da educação em sexualidade têm se mobilizado para mostrar o quanto a sexualidade é um assunto fundamental para se tratar junto a crianças e adolescentes e pessoas adultas responsáveis pela proteção infantojuvenil.

Temos enfrentado grandes desafios e retrocessos no que diz respeito à garantia de direitos sexuais e reprodutivos enquanto direitos humanos. Distorções e fake news sobre o real papel da educação em sexualidade se propagam cotidianamente e, infelizmente, ainda há quem acredite que falar sobre sexualidade de crianças e adolescentes é incentivo ao ato sexual.

A educação em sexualidade enfrenta uma série de desafios e sofre com a escassez de espaços para se falar sobre sua verdadeira função na sociedade.

Devido a essa escassez de escuta e espaço para dialogar sobre esse tema, quando encontramos brechas para conversar sobre nossa atuação optamos por defender a educação em sexualidade trazendo a sua importância na prevenção de violências sexuais.

Essa é uma estratégia importante para sensibilizar as pessoas que têm certa resistência em nos escutar, afinal todo mundo quer —ou deveria querer— que todas as crianças e adolescentes cresçam sem exposição a violências sexuais. Mas é importante que não esqueçamos que a prevenção de violências sexuais é apenas um desdobramento positivo do trabalho de educação em sexualidade.

A educação em sexualidade existe para garantir o direito à informação e reflexão sobre corpo, saúde e sexualidade. Sendo assim, seu objetivo principal é de fortalecimento de direitos sexuais e reprodutivos. A prevenção de violências é desdobramento e isso pode parecer apenas um detalhe, mas não é.

Quando temos a prevenção de violências como elemento norteador de nossa prática, acabamos perdendo a possibilidade de pensar o prazer e o afeto como elementos fundamentais do desenvolvimento sexual saudável.

Se você nasceu antes dos anos 2000, deve se lembrar das palestras que aconteciam nas escolas, em que um profissional de saúde levava fotos de pênis e vulvas com ferimentos para mostrar o que nos aconteceria se não usássemos camisinha. Também pode recordar dos momentos em que alguma pessoa adulta dizia que é possível engravidar sentando na cama de um casal ou no banheiro público.

Aprendemos a pensar o ato sexual como um ato perigoso —e não como um ato de responsabilidade, consentimento mútuo e troca. Nesse caso, o autocuidado sexual estava relacionado ao medo de contrair alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) ou gravidez.

Com a educação em sexualidade na infância e adolescência acontece algo parecido. Precisamos aprender sobre como cuidar de nossos corpos desde a infância, porque nossos corpos merecem o bem viver.

Então proponho que pensemos na educação em sexualidade sem polarizações, que de um lado dizem que nosso trabalho é "incentivar o ato sexual precoce" e do outro dizem que nosso principal objetivo é prevenir violência.

Nosso principal objetivo é garantir o direito à informação sobre corpo, saúde e sexualidade e promover o desenvolvimento sexual saudável.