Topo

Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Adolescentes perguntam: sexo com camisinha é como chupar bala com papel?

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

23/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Semanalmente me encontro com alguns grupos de adolescentes para dialogar sobre saúde e sexualidade. São quatro encontros com cerca de 18 participantes cada, divididos por faixa etária que varia de 12 a 15 anos. No total, entro em contato com mais de 70 adolescentes a cada sete dias.

Há alguns meses, com o grupo de adolescentes de 13 anos, temos conversado sobre a importância da consulta médica periódica e o conhecimento de métodos de prevenção a ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e gravidez não planejada. Trata-se de um processo relacionado ao Planejamento Reprodutivo (que antes era chamado de Planejamento Familiar).

Dialogar com adolescentes sobre Planejamento Reprodutivo é conversar sobre projeto de vida, planos para um futuro que pode ou não incluir a reprodução. Algumas meninas e meninos mencionam que não desejam ter filhos, outros dizem que querem, mas somente depois de concluídos os estudos no ensino superior.

De encontro em encontro temos conversado sobre o desejo de ter ou não filhos, mas também sobre o desejo de iniciar ou não a vida sexual nos próximos anos.

A ideia desses momentos de troca é construir um planejamento do melhor momento para se fazer sexo, entendendo que a informação sobre o assunto nada tem a ver com o incentivo do ato em si.

Alguns adolescentes desse grupo já iniciaram a vida sexual ou estão planejando iniciar em breve, nesses casos busco dialogar sobre a importância do uso de camisinha associado a métodos contraceptivos. Lembrando sempre que a camisinha previne não só a gravidez, como também ISTs.

Outros adolescentes mencionam que não têm interesse algum no início da vida sexual, e com esse grupo buscamos dialogar sobre a importância de conhecer os métodos de prevenção como forma de incentivar amigas e amigos que já fazem sexo a usar métodos eficazes e respeitosos.

Vale salientar que esses adolescentes têm a ciência e a autorização dos familiares para participar das atividades e, os pais, periodicamente são informados do percurso que estamos construindo com os adolescentes em questão.

O caso é que recentemente, o grupo de adolescentes que está construindo o projeto de vida com Planejamento Reprodutivo, informou que não deseja usar camisinha em suas vivências sexuais, pois acreditam que "sexo com camisinha é como chupar bala com papel". Eram 12 adolescentes acreditando nessa informação.

Tentando entender a linha de raciocínio do grupo, perguntei porque acreditavam que sexo com camisinha era como chupar bala com papel?

Uma menina informou que sua mãe havia dito isso a ela. Um garoto concordou: "Meu pai também diz isso para mim".

Foi então que o grupo informou que seus familiares mencionam que o uso da camisinha é incômodo e o comparam à bala com papel.

É muito importante que nós, pessoas adultas, saibamos que ao mencionar frases como essa na presença de adolescentes, estamos desencorajando-os a ter uma vivência sexual saudável.

É possível que as pessoas adultas nesse contexto tenham falado sobre o não uso de camisinha dentro de um relacionamento de longa data, como um casamento, por exemplo, mas adolescentes podem interpretar essa frase de uma maneira que adultos não têm controle.

Por essa razão é muito importante que tenhamos cuidado no diálogo sobre sexo e sexualidade, ainda que não seja num ambiente de educação formal.

Existem adolescentes que verbalizam ter incômodo no uso da camisinha externa durante o ato sexual. Nesses casos é interessante que busquem exercitar o uso da camisinha no momento da masturbação, assim o pênis já se acostuma com a sensação do preservativo e o adolescente pode praticar a colocação.

É sempre bom enfatizar que a pessoa não precisa esperar o momento do ato sexual para praticar o uso do preservativo.