Conflitos entre pessoas adultas e adolescentes: sempre podemos cuidar

Quero começar essa nossa conversa indicando um curta-metragem da Pixar chamado "Oi, Alberto", inspirado no filme "Luca".

O parágrafo a seguir contém spoiler.

O curta, com duração de oito minutos, conta um trecho da vida de Alberto, um menino meio monstro marinho que está no início da adolescência (deve ter uns 12 anos de idade) e trabalha com seu mentor Massimo, um pescador que pouco se comunica, mas que, por sua sabedoria, torna-se figura de admiração do garoto.

Durante o curtinha, Alberto tenta, o tempo todo, realizar suas tarefas buscando agradar Massimo, mas quanto mais o menino tenta, mais ele se atrapalha nas atividades e gera muita confusão. Massimo sempre se mantem em silêncio e Alberto fica sem saber se agradou ou não seu mentor.

Certa vez, o adolescente decide pescar durante à noite para mostrar a Massimo que consegue pescar sozinho e assim receber sua aprovação. O problema é que o barco acaba pegando fogo, deixando o pescador muito bravo com o menino.

A cena que segue é de Alberto carregando uma mala pela rua, dizendo que vai embora. Massimo o alcança e conta uma história:

-- Certa vez eu deixei meu pai com tanta raiva que ele fez um buraco na parede com um soco.
-- Sério? O que aconteceu depois?
-- Bom... nós consertamos.

A partir desse momento, Massimo e Alberto passaram a realizar as mesmas tarefas cotidianas, só que dessa vez, conversando.

Assisti a esse curta e me recordei dos momentos em que tive encontros com pessoas adultas que me contavam de suas angústias por não conseguirem se comunicar com adolescentes em casa. Diziam que toda tentativa de diálogo sempre acabava em atritos intensos.

De fato, muitos conflitos acontecem quando adolescentes e pessoas adultas convivem. Há uma questão geracional envolvida, mas também o processo de luto que envolve o fim da infância e início de uma nova fase. Para a pessoa adulta, é difícil olhar para aquele ser e não enxergar mais uma criança.

Muitas pessoas na adolescência começam a se afastar de familiares e buscam em seus grupos de amizades uma identidade própria, e também com outras coletividades, mas também há adolescentes que buscam se aproximar mais da família ou de figuras adultas que admiram e realizam feitos buscando receber validação e aprovação.

No caso de Alberto, a admiração por Massimo o movia para agradar seu mentor e o não retorno desse investimento gerava sofrimento ao menino. A situação só pôde ser mudada quando Massimo escutou a queixa de Alberto: "Você não fala comigo, você não gosta de mim".

A validação de Massimo para o que Alberto sentia fez toda diferença no processo de fortalecimento do vinculo entre os dois. Ele, enquanto adulto, recordou um momento em que ele e o pai estiveram diante de um conflito e puderam consertá-lo.

Conflitos com adolescentes acontecerão em nossa caminhada, mas é importante que nós, pessoas adultas, possamos escutar, validar e cuidar do que nos é comunicado.

Assim como a parede do pai de Massimo, a relação entre pessoas adultas e adolescentes sempre poderá pode ser cuidada.