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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Adolescentes nas férias: desafio de convivência em casa e na comunidade

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

16/12/2022 04h00

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Dezembro chegou e, com ele, as férias escolares. O que deveria ser um período de descanso e diversão, acaba, muitas vezes, tornando-se um momento de desgaste emocional, ansiedade e conflitos no ambiente familiar e comunitário.

Diversos são os fatores que podem desencadear atritos em casa e com a vizinhança, e é importante lembrar que não existe apenas um fenômeno isolado que seja responsável por brigas e desentendimentos.

O período de férias é um momento em que a convivência cotidiana aumenta, abrindo espaço para questões que antes apareciam na escola, nas interações com colegas e profissionais da educação.

As férias escolares são uma oportunidade para que essas situações também possam aparecer em casa, até para tirarmos de nossa mente o estigma de que os conflitos na adolescência aparecem mais no ambiente escolar somente por sua estrutura física e organizacional.

É inegável que a escola é um espaço onde pipocam muitas questões difíceis de lidar com adolescentes (e sendo adolescente é mais intenso ainda), mas os conflitos só aparecem mais na escola porque é nela que adolescentes passam a maior parte de seu tempo (e aqui, não falo somente do espaço físico da escola, mas das atividades que se desdobram a partir da convivência na escola).

Adolescentes podem passar meio período na escola, mas no outro estão em convivência também, seja pelas redes sociais ou encontros no bairro onde moram.

Quantas vezes você, pessoa adulta, continuou falando de trabalho mesmo depois de o seu expediente ter finalizado? Quantas vezes não chegou em casa "impregnado" dos conflitos vivenciados no emprego?

Isso mostra que assim como os ecos do trabalho nos perseguem mesmo depois de finalizarmos nossa jornada laboral, os ecos da escola perseguem adolescentes após um dia cheio de aula. Então, durante o ano letivo, os desdobramentos da convivência na escola ocupa um grande espaço nas mentes adolescentes.

Quando chegam as férias, uma nova oportunidade de convivência se apresenta: estar no bairro por mais tempo e com as pessoas em casa também. Daí tanto as vivências tranquilas quanto os conflitos aparecem de uma vez. E lidar com esse aparecimento é extremamente desafiador!

Recentemente, uma colega de trabalho leu um texto meu e disse: "Cadê as respostas, Elânia? Você não deu as respostas". Então pensei em trazer algumas inspirações para nós, pessoas adultas, cuidarmos do convívio com adolescentes no período de férias escolares.

  • Exercite a paciência: lidar com adolescentes mexe com muita coisa dentro de nós, sobretudo com nosso ego. O tempo inteiro seremos desafiados e avaliados por adolescentes em casa, e precisamos compreender que ser adolescente não é sinônimo de "pessoa adulta inexperiente". Adolescentes precisam que exercitemos nossa paciência. Em breve farei um texto só sobre paciência com adolescentes.
  • Compartilhe como se sente: apareceu um conflito? Conte para a pessoa adolescente como você se sentiu, mas faça isso sem acusar. Por exemplo: "Pedro, quando você diz que eu sou uma bruxa, eu me sinto desrespeitada e isso me magoa".

  • Valorize as tarefas, mesmo que não estejam do seu agrado: é muito comum ouvirmos de adolescentes "lá em casa, nada do que eu faço está bom". Nós, pessoas adultas, podemos sugerir tarefas para adolescentes, mas é importante valorizarmos mais o ato de fazê-las do que estabelecer critérios rigorosos de qualidade da atividade feita. Se você pediu que o garoto varresse a casa, valorize o fato de ele ter feito isso: "Lucas, obrigada por ter lavado o quintal".

  • Dê espaço: adolescentes estão passando por muitas mudanças, então é interessante que tenham momentos para refletir sobre o que sentem e como sentem. É importante atentar-se para que os períodos de solitude não se tornem isolamento social das demais pessoas.

  • Peça seu espaço: você também está passando por um período de mudanças. Então é importante pedir a adolescentes que respeitem seus momentos de aquietar-se e exercitar o autocuidado. "Filha, eu preciso ficar um pouco quieta agora."

  • Tente chamar para atividades prazerosas: atribuir tarefas em casa é importante para adolescentes, mas viver momentos mais descontraídos com as pessoas do bairro e/ou de casa é muito interessante. Sugira jogos coletivos, banhos de mangueira no quintal, pasteis na feira, soltar pipa, um passeio que a pessoa adolescente propor. No início é comum que relutem, mas depois podem aproveitar mais do que imaginavam.

Desejo boas férias para todas as pessoas e festividades com muito respeito e acolhimento.