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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Família em férias: observações sobre as adolescências na praia

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

30/12/2022 04h00

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Estou de férias, gente!

Há muito tempo eu não dou uma pausa na rotina para ficar fora da minha casa socializando com outras pessoas e aprendendo mais sobre outras regiões. Eu escolhi passar esse período de férias numa região do litoral norte paulistano e cá estou.

Tem chovido bastante nessa região e raramente sai sol, então quando a chuva dá uma cessada, a gente já coloca os trajes de banho e corre para a areia na tentativa de queimar um pouco o corpo que se acinzentou junto com o cinza da cidade de São Paulo.

Vamos à praia, vamos dourar!

Eu sempre gosto de ir para as águas mais calmas, ondinhas pequenas, "rolezinho família" como dizem.

Pois bem, estava eu lá na praia cheia, as pessoas adultas bebendo, porém atentas às crianças que brincavam na areia e pulavam as ondas miudinhas no mar. O moço dos espetinhos passa e as pessoas adultas piram, o moço do sorvete passa e aí são as crianças que piram.

É interessante o jeito da gente (eu) se enganar dizendo: "Eu não sou psicóloga durante as férias, não me falem sobre trabalho, hein?". Eu tiro férias do trabalho, mas não consigo tirar férias do olhar que tenho sobre o mundo, e esse olhar é a partir da psicologia, mais especificamente da psicologia que se dedica aos estudos sobre infância e adolescência.

Nos momentos de férias, eu gosto de observar as interações de adolescentes com seus pares e com as pessoas adultas com quem estão passando as férias.

Pois eu estava lá sentadinha observando as interações e pude ver muitas vivências acontecendo.

Havia um menino branquíssimo na areia da praia usando tênis e camiseta de um grupo de rock dos anos 1980. Seu rosto não esboçava um sorriso e suas roupas destoavam tanto das demais pessoas que pareciam mais um protesto contra a decisão de alguma pessoa adulta de ir à praia nas férias. Com ele havia uma senhora de maiô lendo um cardápio, ambos debaixo de um guarda-sol.

Havia também um grupinho de três adolescentes com uma caixinha de som dançando com uma senhora superanimada "Tubarão, te amo". Tinha meninas enroladas nas toalhas ou com camisetas compridas, e na água algumas adolescentes pulavam as ondas, subiam em pranchas de isopor.

Gosto quando há essa diversidade adolescente no mesmo espaço, mas não romantizo.

Sei que em meio a tanta socialização ainda impera, nessa época do ano, a erotização de adolescentes, principalmente no ambiente praiano em que os corpos estão mais expostos e pessoas adultas (sobretudo homens adultos) veem no corpo adolescente um pretexto para o assédio sexual.

De acordo com dados do Instituto Libertas, o Brasil está em segundo lugar no ranking de casos de violências sexuais contra crianças e adolescentes, ficando atrás apenas da Tailândia. Estima-se que esses casos por aqui representem apenas 10% das situações de violência sexual contra crianças e adolescentes no país.

No período de férias e em todas as épocas do ano, a praia, assim como qualquer outro lugar, precisa ser um lugar seguro para adolescentes poderem ter suas vivências de lazer e descanso.

As políticas públicas precisam estar alinhadas nesse objetivo, mas nós, pessoas adultas, também precisamos fazer nossa parte, seja promovendo diálogo sobre o respeito à adolescente, ou denunciando casos de violência sexual (e assediar adolescentes é violência sexual, sim).