Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Ninguém vive por mim': é possível ser responsável pela própria existência
![Reprodução](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/2014/03/19/capa-do-disco-eu-quero-e-botar-meu-bloco-na-rua-do-cantor-sergio-sampaio-1395257608523_v2_450x450.jpg)
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Sérgio Sampaio é um cantor do qual eu gosto muito. Conterrâneo meu, esse capixaba compôs e cantou umas músicas que eu acredito que sejam as coisas mais incríveis que eu já escutei. Talvez você conheça a música mais famosinha dele, chamada "Eu quero é botar meu bloco na rua".
A verdade é que Sérgio Sampaio, que morreu em 1994, aos 47 anos, abordava com maestria questões de saúde mental e críticas ao tratamento dado em manicômios, como é o caso da música "Que loucura" e minha preferida "Ninguém vive por mim". E é a partir dessa última que vou trazer uma reflexão.
Nós precisamos nos responsabilizar pela nossa própria existência ou, como disse Sérgio Sampaio, "vivo o que sou e ninguém vive por mim".
Eu posso ter muita gente disposta a me ajudar em meu processo de autocuidado, posso ter muitos colos e ouvidos para me acolher, mas não posso esquecer que a responsabilidade primeira desse cuidado tem que ser prioritariamente minha, porque sou eu quem me habito e sou eu que vivo o que sou.
Minhas amizades podem me ajudar, mas sou eu quem deve guiar essa ajuda, explicar o que quero e sinto.
É muito importante saber que não preciso aceitar todo cuidado oferecido pelas pessoas, porque nem todo cuidado vai cuidar de mim do jeito que preciso naquele momento. Sou eu quem ensina o caminho a quem se interessa a andar um pouco comigo e me fazer companhia.
Claro que posso me abrir para a escuta de novas ideias para me cuidar, mas sou eu quem deve escolher o recurso mais adequado para meu cuidado e, consequentemente, me responsabilizar por dar movimento à minha vida.
E esse exercício de ser responsável por si é muito chato (não vou romantizar nada aqui). Tem dias que eu mesma queria que alguém lavasse meu cabelo, aguasse minhas plantas e resolvesse meus problemas, mas a responsabilidade por tudo isso é minha. Ninguém vai fazer xixi por mim, ninguém vai me alimentar por mim.
E entenda que responsabilidade por si não tem nada a ver com deixar de pedir ajudar quando precisar. Responsabilidade por si é justamente sentir o momento em que seu corpo precisa de ajuda e aceitar apoio.
Responsabilidade tem mais a ver com cuidar de si e aprender a entender seus próprios sentimentos do que com fazer tudo sozinho.
Autocuidado também é autorresponsabilidade. É segurar os próprios B.O. e pedir apoio quando não conseguir fazer algo sozinha.
Não posso pedir que minhas amizades escrevam por mim a minha história, mas posso pedir para que me emprestem canetas que não tenho e me ajudem na revisão do texto.
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