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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Ninguém vive por mim': é possível ser responsável pela própria existência

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

20/01/2023 04h00

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Sérgio Sampaio é um cantor do qual eu gosto muito. Conterrâneo meu, esse capixaba compôs e cantou umas músicas que eu acredito que sejam as coisas mais incríveis que eu já escutei. Talvez você conheça a música mais famosinha dele, chamada "Eu quero é botar meu bloco na rua".

A verdade é que Sérgio Sampaio, que morreu em 1994, aos 47 anos, abordava com maestria questões de saúde mental e críticas ao tratamento dado em manicômios, como é o caso da música "Que loucura" e minha preferida "Ninguém vive por mim". E é a partir dessa última que vou trazer uma reflexão.

Nós precisamos nos responsabilizar pela nossa própria existência ou, como disse Sérgio Sampaio, "vivo o que sou e ninguém vive por mim".

Eu posso ter muita gente disposta a me ajudar em meu processo de autocuidado, posso ter muitos colos e ouvidos para me acolher, mas não posso esquecer que a responsabilidade primeira desse cuidado tem que ser prioritariamente minha, porque sou eu quem me habito e sou eu que vivo o que sou.

Minhas amizades podem me ajudar, mas sou eu quem deve guiar essa ajuda, explicar o que quero e sinto.

É muito importante saber que não preciso aceitar todo cuidado oferecido pelas pessoas, porque nem todo cuidado vai cuidar de mim do jeito que preciso naquele momento. Sou eu quem ensina o caminho a quem se interessa a andar um pouco comigo e me fazer companhia.

Claro que posso me abrir para a escuta de novas ideias para me cuidar, mas sou eu quem deve escolher o recurso mais adequado para meu cuidado e, consequentemente, me responsabilizar por dar movimento à minha vida.

E esse exercício de ser responsável por si é muito chato (não vou romantizar nada aqui). Tem dias que eu mesma queria que alguém lavasse meu cabelo, aguasse minhas plantas e resolvesse meus problemas, mas a responsabilidade por tudo isso é minha. Ninguém vai fazer xixi por mim, ninguém vai me alimentar por mim.

E entenda que responsabilidade por si não tem nada a ver com deixar de pedir ajudar quando precisar. Responsabilidade por si é justamente sentir o momento em que seu corpo precisa de ajuda e aceitar apoio.

Responsabilidade tem mais a ver com cuidar de si e aprender a entender seus próprios sentimentos do que com fazer tudo sozinho.

Autocuidado também é autorresponsabilidade. É segurar os próprios B.O. e pedir apoio quando não conseguir fazer algo sozinha.

Não posso pedir que minhas amizades escrevam por mim a minha história, mas posso pedir para que me emprestem canetas que não tenho e me ajudem na revisão do texto.