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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rede de afeto, rede de apoio e rede de serviços: por que precisamos delas?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/03/2023 04h00

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Sempre que alguém em meu cotidiano de trabalho fala sobre a importância de estarmos em rede, eu imagino uma rede de pesca ou uma rede daquela de descanso. Tenho colegas que me dizem se lembrar de uma rede de computadores.

Independentemente do tipo de rede que nossa imaginação cria ao escutar essa palavra, a rede da qual nos referimos quando falamos sobre a importância de estarmos em rede ou de ter uma rede fortalecida tem a ver com estabelecimento de relações que, entre outras funções, é capaz de oferecer suporte e solicitá-lo quando precisar.

Quando exercemos algum tipo de parentalidade com adolescentes ou trabalhamos em espaços que atuam diretamente com esse público, precisamos contar com a rede para lidar com as demandas que surgem no cotidiano.

Adolescentes, por sua vez, também precisam ter suas redes para conseguir se cuidar e vivenciar as questões que surgem nessa fase da vida.
Rede, em resumo, seria um conjunto de pessoas (ou serviços) que, em relação, se fortalece mutuamente.

Existem vários tipos de redes que podem exercer funções variadas. Uma mesma pessoa ou serviço pode fazer parte de várias redes. Você certamente é parte de alguma rede e talvez nem tenha se dado conta. Para entender um pouco melhor, vou apresentar três tipos de redes:

  • Rede de afetos: são as pessoas e/ou espaços com quem eu teço afetos de amizade, carinho e troca de ideias sobre a vida.
  • Rede de apoio: são pessoas e/ou espaços com quem eu posso contar em momentos de maior fragilidade ou que eu precise de algum suporte.
  • Rede de serviços: são espaços públicos que interagem entre si para pensar ações de garantias de direitos básicos como saúde, educação, cultura, lazer, moradia etc.

É importante que saibamos que a rede não é um lugar, mas uma relação que se estabelece entre pessoas, espaços ou serviços. Dessa forma, a rede só existe porque estamos nela.

Se você tem amizades saudáveis, sabe que o afeto tecido entre vocês é uma troca e não uma doação unilateral.

Rede é construção!

Um ponto importante a ser mencionado é que uma pessoa pode ser parte de apenas uma rede, e está tudo bem se for assim.

Muita gente acredita que se alguém é sua amiga (rede de afeto), obrigatoriamente também compõe a rede de apoio, ou seja, ela precisaria estar disponível para me dar suporte quando eu precisar. Essa suposição, muitas vezes, desgasta as relações, pois gera uma expectativa que poderá não ser alcançada.

É comum pessoas expressarem frustração quando tentam pedir ajuda a amizades e elas não estão disponíveis para aquele cuidado. Nesse momento, é como se aquela amizade não fosse real, afinal se você é parte da minha rede de afetos, você tem como função cuidar de mim. Essa afirmação é complicada, porque nem toda amizade conseguirá ajudá-lo e isso não anula o afeto que ela sente por você.

Então é possível que suas amizades não componham sua rede de apoio, mas seguem sendo da rede de afeto.

Os serviços públicos, por exemplo, podem compor sua rede de apoio.

"Toda vez que sinto ansiedade, vou correr no parque aqui perto de casa." O parque perto de sua casa é um serviço público, mantido pela Secretaria de Meio Ambiente, dessa forma, trata-se do acesso a um espaço da rede de serviços que também oferece algum tipo de apoio.

Um exercício gostoso de se fazer é se perguntar:

  • Quem é parte de minha rede de afeto, apoio ou de serviços?
  • Quando eu as acesso?
  • Quais redes eu componho?
  • Que relações eu estabeleço e quais eu dou conta de fortalecer e manter?

É muito importante que tenhamos redes que nos acolham e que sejamos parte dessa rede acolhedora também. Quanto mais gente e serviços temos em nossa rede, mais recursos teremos para acessar quando precisarmos.