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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como acolher e lidar com adolescentes e suas escolhas de amizades?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

24/03/2023 04h00

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Como eu disse na semana passada, redes de afetos são aquelas formadas por pessoas e/ou espaços com quem tecemos e cultivamos afetos de amizade, carinho e troca de ideias sobre a vida.

Na adolescência, as redes de afeto cumprem um papel muito importante, pois são esses laços que criam uma espécie de lugar de respiro na vida de adolescentes e ajudam a lidar com a pressão da sociedade, escola e família.

Mas assim como qualquer relação, é preciso observar as amizades e ter cuidado para não estar num laço que seja doloroso e abusivo. Lembrando sempre que não é só no namoro que pode acontecer uma relação abusiva.

Certa vez, uma mãe me trouxe uma questão mais ou menos assim:

— Meu filho tem um amigo que o trata com desrespeito. Já falei com meu filho, mas ele defende o amigo e me chama de exagerada. O que fazer? Devo afastá-lo ou proibir a amizade?

A princípio, conversamos bastante sobre os momentos nos quais ela percebia o desrespeito do amigo com seu filho, e refletimos se esse caso se tratava de um desrespeito ou uma dinâmica de amizade que ela não gostava. Às vezes pode acontecer de a pessoa adulta achar o modo como adolescentes interagem desrespeitoso, mas na verdade não se trata de desrespeito, mas de uma dinâmica muito específica entre eles.

Vou dar um exemplo: Pedro e César (nomes fictícios) eram dois adolescentes de 14 anos, muito amigos e se tratavam com um apelido de "trouxão". A família de Pedro, ao ver César o chamando assim, ficou chateada e disse que o menino não respeitava seu filho. Desde então, passaram a proibir a entrada de César na casa. O caso é que, para os meninos em questão, o tratamento —ainda que não gostemos nem achemos bacana— não era desrespeitoso, mas uma forma que os dois expressavam seu laço.

No caso dessa mãe que me procurou, era diferente. Ela relatou momentos em que o filho se deixava levar pelas sugestões do amigo e faltava à aula, perdia momentos de estudo e tentava a todo custo agradar o amigo comprando objetos.

O que ela e eu dialogamos foi que seu filho parece estar buscando a aprovação do amigo e isso realmente não é saudável, contudo ele precisa aprender a dar limites à amizade que está construindo.

Intervir e dizer "Você não verá mais esse menino" talvez não seja tão eficaz, porque a dinâmica de se submeter é do filho dela, não do outro garoto. Então é bem possível que ele mude de amigo e mantenha esse modo de se relacionar.

O que construímos de possibilidades foi dialogar com o filho sobre a importância de tecer amizades sem precisar se submeter ao desejo do outro, informar que confia nele e em suas escolhas de amigos. Contudo é importante também perceber se esse laço precisa de alguns limites.

Relação é entender limites internos e externos, respeitá-los e construir vínculos saudáveis.

Também é fundamental que pessoas adultas sempre reflitam sobre a forma como acolhem as amizades de adolescentes, pois também existem momentos em que agimos com rispidez, pressupondo que todo mundo é má influência para nossos filhos.

Falamos bastante sobre namoro na adolescência e, por vezes, a amizade fica somente num campo de "bom ou mau para meu filho", quando na verdade os vínculos de amizade são muito mais complexos que isso.