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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O direito a primeiras vezes saudáveis e gentis

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/05/2023 04h00

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Um bebê vivencia suas primeiras vezes de forma intensa e constante. Tudo é novo. Novidade! Explosão de maravilhamento!

Conforme vai crescendo, as maravilhas vão ficando mais escassas. Uma borboleta se torna trivial conforme é percebida no cotidiano. Os brinquedos já são conhecidos e a criança aprende que as vozes saem das bocas. Dia após dia o mundo vai se tornando conhecido e as sensações passam a ser corriqueiras, quase que automáticas. E isso é importante para a socialização.

Na adolescência, mais explosão! Implosão!

Hormônios trazem ao corpo a novidade das sensações, emoções, mudanças corporais. Primeiros pelos em partes escondidas, primeiro amor, primeiro beijo, primeiras vezes de novo.

Acredito que a idade adulta seja a fase mais chata. As primeiras vezes passam a ser mais raras e tudo se torna um tanto banal. Andar já é um movimento conhecido e a textura do chão passa desapercebida pelos pés apressados a caminho do trabalho.

Quando adultos, nos maravilhamos com as primeiras vezes tão raramente, que quando elas acontecem, podemos ficar dias entorpecidos com a sensação preciosa que acabamos de ter.

O caso é que, dependendo de quem você é e como é visto no mundo, algumas primeiras vezes podem demorar para acontecer, ou pior, algumas podem ocorrer de forma prematura.

Trabalhando como educadora em sexualidade infantojuvenil e sendo psicóloga, percebo cada vez mais que meu papel é contribuir para que a sociedade se organize de uma forma que proteja as primeiras vezes de crianças e adolescentes.

E aqui não estou falando de ato sexual, falo de todas as primeiras vezes. Desde a primeira vez que se viu uma borboleta azul na infância até a primeira vez que sentiu desejo de tocar outro corpo na adolescência.

Nosso papel enquanto sociedade é de proteger as primeiras experiências e criar um ambiente para que cada primeira vez aconteça no período saudável para acontecer.

Bebês precisam de primeiras vezes tocando o chão, sentindo gostos e texturas de comidas diversas. Crianças precisam de primeiras vezes de convivência com crianças de culturas e crenças diferentes da dela. Adolescentes precisam de primeiras vezes de apaixonamentos leves, de autoconhecimento e de maravilhamento com as primeiras transformações em seus corpos.

Durante o mês de maio, a Campanha Faça Bonito se propõe a trazer reflexões sobre o combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, e é muito importante que tenhamos ciência de que a educação em sexualidade é a melhor forma de prevenir violências e de garantir que as primeiras experiências de crianças e adolescentes em contato com seus próprios sejam saudáveis e gentis.